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Passando da conta

De Cambridge, Inglaterra, o mineiro, cruzeirense e gente boa, Alisson Sol sempre manda ótimas informações e opiniões, como as que se seguem. Concordo com ele. Confira ai:
 
“Ninguém mais espera que jogadores de futebol sejam bons modelos de comportamento dentro ou fora de campo. Mas quando ocorre de um jogador tem bom comportamento fora de campo, muita gente começa a pensar que no “corpore sano” (corpo são) há necessariamente uma “mens sana” (mente sã, do velho provérbio “Mens sana in corpore sano”). Não há razões para acreditar que, estatisticamente, a gestão de carreiras e vida privada dos jogadores de futebol seja melhor ou pior do que a de profissionais de outras áreas. Mas há certamente mais interesse sobre a vida pessoal de um jogador de futebol famoso do que sobre a vida pessoal de, por exemplo, um jornalista famoso.
Isto tem levado ao exagero das “manifestações espontâneas” que tem ocorrido ultimamente, misturando futebol com política e, principalmente, com religião. Há momentos em que tal mistura é inevitável e, bem utilizada, possa colaborar para unir pessoas. A capa do jornal inglês Financial Times nesta última sexta-feira, dia 10/Julho, destacava uma foto do Presidente Lula dando ao Presidente Obama uma camisa da seleção brasileira de futebol, autografada pelos jogadores. Este gesto, certamente bem-preparado pela diplomacia do Brasil, abafou um pouco a repercussão negativa da manifestação religiosa que vários jogadores da mesma seleção fizeram dentro de campo após o jogo final da Copa das Confederações na África do Sul. Felizmente, os adversários americanos pouco se importaram com isto. Mas e se a final fosse contra a seleção do Egito? Seria uma vitória do Brasil de alguma forma relacionada a alguma preferência divina pelas religiões do Brasil, ao invés da maioria muçulmana do Egito?
Apesar de ser torcedor do Cruzeiro, e pessoalmente ter a opinião de que o Fábio é hoje um dos melhores jogadores brasileiros na sua posição, estou com a impressão de que o jogador dá entrevistas pensando na repercussão de suas declarações junto ao “bloco religioso” da seleção brasileira. Pergunta-se ao Fábio como o time está se preparando para uma partida, e ele responde que Deus é grande e vai ajudar. Pergunta-se a ele no intervalo sobre o andamento do jogo, e novamente há uma ou duas referências a Deus. Pergunta-se a ele após o jogo sobre o que achou do resultado, e lá vem mais uma declaração sobre como a vontade de Deus prevaleceu. Independente da preferência religiosa dele, minha ou de qualquer outra pessoa, este fatalismo é obviamente desnecessário, além de ilógico. Com tanta gente morrendo de fome em todo o mundo, tanta gente doente, guerras, catástrofes naturais e artificiais, não parece absurdo que a vontade de Deus só vá prevalecer em uma partida de futebol?
Entendo que este é um tópico que muitos jornalistas vão evitar. Mas está passando da hora de a CBF tomar uma posição quanto a isto.
Um abraço,”
Alisson Sol

email@AlissonSol.com


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Comentários:
1
  • Religião pra mim deviria ficar de fora dos Esportes.
    A sorte é a de o Brasil ser o maior país cristão do mundo, e não ser muito intolerante à outras religiões, mas nos outros lugares do mundo a religião é um sério problema, chegando a formar torcidas organizadas, fanáticas, mais pela religião que pela equipe. Entre muitos, um bom e famoso exemplo são os Judeus do clube inglês Totteham,por muitos anos descriminados ( os Judeus eram insultados nos cantos anti-semitas da torcida rival), e até mesmo o Hooliganismo do Chelsea, que surgiu anti-semita e acabou se tornando mais aberto.
    Acho que religião é para si, se fosse contra o Egito, com certeza teriamos muitas manifestações contra a atitude brasileira. O problema está na intolerância mundo a fora e talvez por não existir tanta no Brasil, os jogadores tenham se sentido mais a vontade em fazer tal manifestação em escala mundial.
    Quanto a Fábio na seleção, basta lembrar que ainda existe o grande Filipe do Corinthians na fila.