Do Hoje em Dia, de hoje:
* PF vai apurar se Perrella lavou dinheiro na Fazenda Guará
Policiais desconfiam de desvio de dinheiro na venda de jogadores do time; fazenda vale R$ 60 milhões
Ezequiel Fagundes – Repórter
A Polícia Federal (PF) abriu na segunda-feira (6) inquérito para investigar indício de lavagem de dinheiro na compra e incorporação de benfeitorias da Fazenda Guará, controlada pela família Perrella. Segundo o suplente de senador e presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella (PDT), responsável pela compra em 1999, a Fazenda Guará pertence hoje aos seus dois filhos e um sobrinho, que têm o controle acionário da Limeira Agropecuária e Participações Ltda, a mesma firma usada por Perrella para comprar a propriedade há 12 anos.
Suspeito de enriquecimento ilícito na gestão do Cruzeiro, não é a primeira vez que Zezé Perrella se torna alvo da PF. Em 2010, o cartola foi indiciado pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas na negociação do zagueiro Luisão, titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2010. A iniciativa de investigar a fazenda veio depois que o Hoje em Dia revelou, com exclusividade, a existência da propriedade, avaliada em R$ 60 milhões.
Nos próximos dias, segundo a PF, Zezé Perrella será chamado para prestar esclarecimentos sobre a compra e a incorporação de terras da Fazenda Guará. Por estratégia de investigação, a data do depoimento será mantida em sigilo.
A pedido da PF, as declarações de Imposto de Renda (IR) de Zezé Perrella entregues à Receita na última década também serão analisadas pelos federais.
Desta vez, em vez de fazer pente-fino nos direitos federativos de jogadores de futebol, a PF vai se concentrar na Fazenda Guará, uma propriedade cinematográfica, localizada às margens da represa de Três Marias, perto da cidadezinha de Morada Nova de Minas, a 300 Km de Belo Horizonte. Adquirida por Perrella por módicos R$ 360 mil, teve o controle acionário repassado há cerca de oito anos para parentes próximos, entre eles o filho mais velho, Gustavo Perrella (PDT), eleito deputado estadual na eleição de 2010.
Após pesado investimento em infraestrutura paralelamente à aquisição de fazendas vizinhas, a Guará tem hoje um preço estimado de pelo menos R$ 60 milhões. Perrella pai, em entrevista recente, contestou a avaliação dizendo que ela possui preço de mercado bem superior ao que veio à tona.
O Hoje em Dia mostrou por meio de fotos aéreas os detalhes da fazenda que Perrella se esforçou para esconder. São uma pista particular de avião com formato em L, dois silos de grãos com altura semelhante à de prédios, um poderoso sistema de irrigação capaz de molhar a pastagem nos 365 dias do ano com um simples toque no botão, uma floresta de eucaliptos, além da confortável casa de campo equipada com piscina e ampla varanda.
Atualmente, a Fazenda Guará soma 3.700 hectares, equivalentes a 764 alqueires, dimensão considerada rara para os padrões da região. Procurado pelo telefone, Perrella não foi localizado.
Empresa pulou de R$ 1mil para R$ 59 milhões
Para dificultar o rastreamento dos direitos federativos dos jogadores negociados para o exterior, os valores ocultados nas supostas negociações de fechada com o Central Espanhol Futebol, um time sem nenhuma expressão do Uruguai, voltaram irregularmente para o Brasil e teriam sido pulverizados na contabilidade de empresas de fachada supostamente controladas por Zezé Perrella e seu irmão, Alvimar Perrella, que também já foi presidente do Cruzeiro.
A pedido da Polícia Federal (PF), a Justiça decretou a quebra de sigilo bancário e fiscal de pessoas físicas e jurídicas supostamente ligadas aos cartolas.
O resultado do pente fino é intrigante. De acordo com a PF, somente uma das empresas – a Cruzeiro Licenciamentos Ltda, obteve um salto enorme em suas finanças, pulando de irrisórios R$ 1 mil para R$ 59 milhões, no período de 1999 a 2003.
Além da Cruzeiro Licenciamentos, os federais rastrearam a EMS Indústria Farmacêutica, Pan American Footbal Investiment Licenciamentos, Cruzeiro Sports Licensing Company, Carlos Eduardo Sanches e Luiz Eugênio Araújo Miller Filho.
Aberto em 2006 pelo Ministério Público Estadual, o inquérito nº 1541 foi parcialmente concluído em abril do ano passado, com o indiciamento de Perrella e Alvimar na negociação do zagueiro Luisão. Como envolvia indício de crime financeiro, a investigação foi parar na PF.
Tanta demora nos procedimentos tem uma justificativa: o processo teve a sua tramitação paralisada no Tribunal de Justiça, que entendeu que o MPE não tinha competência para investigar clubes de futebol. Tempos depois foi reaberto, mas como Perrella tinha imunidade parlamentar a documentação foi remetida para Brasília.
Durante as investigações da venda de Luisão, Perrella e Alvimar foram convocados para prestarem esclarecimentos na delegacia da PF. Zezé não compareceu no interrogatório. Alvimar compareceu, mas permaneceu em silêncio.
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