Blog do Chico Maia

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Brasília, 52; Duke em quatro cenas e a mãe de torcedor assassinado

Parabéns a Brasília que hoje completa 52 anos! 

DUKE4

Quatro charges do Duke, para animar o feriado…DUKE1

… extraídas do site dele…DUKE2

http://dukechargista.com.br/DUKE3

 e o depoimento da mãe de integrante de torcida organizada, morto, na última confusão no clássico Corinthians x Palmeiras, em São Paulo.

Reportagem da Folha de SP, do dia 9.

Difícil fazer qualquer comentário sobre o sofrimento de uma mãe, mas fica o alerta a todos os pais, quanto ao risco dos seus filhos se misturarem aos marginais que usam o futebol para aprontar. 

As chances de se tornarem bandidos também é quase 100%

* “Gildair Alves Santos, 39”

Os filhos de Gildair

Dona de um salão de beleza teve um filho assassinado e outros dois presos depois de confronto entre membros de torcidas organizadas

MARCEL RIZZO
DE SÃO PAULO

RESUMO
No dia 25 de março, uma briga na zona norte da capital entre membros de organizadas deixou morto André Alves Lezo, 21, da Mancha Alviverde. Dois dias depois, Tiago, irmão gêmeo de André, foi preso suspeito de participar da briga. Na quarta passada, Lucas, 22, o irmão mais velho e vice-presidente da Mancha, também foi preso suspeito de matar um corintiano em 2011. Eles são filhos de Gildair Alves Santos.


Depois do perigo que aconteceu com minha família, do tiro que o Lucas levou em Presidente Prudente, pedimos, eu principalmente, pelo amor de Deus para eles não irem mais [a jogos de futebol], porque era perigoso e tudo mais.

Mas os meninos têm 21, 22 anos, eles não têm cabeça de pessoa de 30. Se é mais novo, você pode até amarrar.

Eles têm adrenalina. De repente, eu, conhecendo meus filhos, vejo que eles não viam como um perigo. O Lucas levou um tiro e perdeu o irmão por causa de uma guerra.

Eles iam até mesmo por que têm amizade, têm um monte de amigos bons lá. Você tem contato com o pessoal todos os dias, é como se fosse uma religião.

Não culpo a torcida. Não posso dizer isso, não posso culpá-los, estaria usando de hipocrisia jogar a culpa em cima de uma entidade. Vou continuar tendo amizade com a Mancha [Alviverde], temos amigos, e admiro as pessoas de lá, não são pessoas ruins.

Não posso não gostar da Mancha por que ela tirou meu filho. O André faleceu fazendo o que gostava, indo com os amigos para o estádio, junto com a turma dos amigos dele da Mancha.

Mas minha conversa com meus filhos menores [uma menina de 11 anos e um menino de 10] vai ser para jamais ter algum vínculo com organizada. Mostrando o perigo a que ela pode levar, que pode levar a uma agressão.

Os mais novos já foram ao estádio com os irmãos, não ficaram no meio da torcida, ficaram com as mulheres, com as meninas.

Clássico nunca, jamais os meus filhos, Lucas, Tiago e André, levariam os irmãos a clássicos. Já foram com o padrasto a jogos menores.

Quando o Lucas foi ser vice [-presidente da Mancha], não posso te dizer que fiquei triste. Foi muito preocupante ele ter um cargo, ia estar à frente da entidade. Mas como eu poderia falar “você não vai”? A Mancha é a vida dele. Ele aceitou o cargo, e eu fiquei com o coração na mão.

Ele pretendia, pretende porque graças a Deus está vivo, fazer gastronomia ou educação física. Ele cozinha e é superdedicado.

Ouvimos que temos a família desestruturada. Todo mundo tem renda na minha família. O Tiago e o André estudavam, o Tiago está começando um estágio na área dele [engenharia civil]. Ele paga parte da mensalidade de sua faculdade.

Por que temos filhos que gostam de organizada somos uma família desestruturada? Somos uma família pensando no futuro, com uma vida difícil, como qualquer outra, que esta batalhando para a sua sobrevivência.

Se quiser conhecer os meus filhos, conheça com os amigos, conheça com as pessoas próximas, toda a vizinhança, as pessoas que convivem. Se fossem meninos maus, teriam amigos de infância?

CORINTIANA

O Lucas conheceu a Mancha porque tinha amigos lá, por meio do computador também. Ele sempre foi palmeirense. Ele conheceu primeiro a Mancha, mas os meninos [André e Tiago] também conheciam, eles têm um ano de diferença de idade apenas.

O Lucas começou a ir lá, acima dos seus 16 anos, ele ia aos jogos. Até então ele não era associado, ia aos jogos, achava bonito o espetáculo que a torcida fazia.

Os meninos, o Tiago e o André, também foram e fizeram amizades com pessoas boas, na Mancha não existe só maloqueiros como dizem por aí. São pessoas que têm família, são pessoas honestas. Conheço várias famílias que vão, que participam também dos eventos na torcida.

Nós, da família, fomos algumas vezes, quando tem jogadores, alguns do Palmeiras, o Valdivia e o Pierre já estiveram dando autógrafos por lá. Há festas, há ações sociais, tem coisa muito boa que a imprensa não mostra, eles doam sague, eles distribuem ovos de Páscoa.

Todos têm a mesma função ali, que é gostar do Palmeiras. Não é como dizem, “Ah, tem um bando de maloqueiro ali dentro, eles nem assistem aos jogos, ficam correndo para cima e para baixo”. Não é assim, eles vão e fazem por amar o Palmeiras.

Do time eles começaram a gostar por causa dos parentes. Eu sempre gostei muito de esporte. Infelizmente, eu não posso nem te dizer o meu time. [pausa] É o Corinthians. Nem sei se torço mais depois disso tudo.

Mas, aqui em casa nunca teve briga. Aqui na minha sala eu assisto ao Corinthians. Lá em cima eles, ao Palmeiras. Sempre me respeitaram.

Aqui nunca teve conversa de vou matar ou qualquer coisa. Eles brincam, normalmente, nada a ver com esse tipo de violência. A violência nunca foi foco da família, foco de ninguém aqui.

Meus filhos têm amigos do pré, até de infância, que torcem para todos os times, existe palmeirense, corintiano, são-paulino, santista, na minha casa sempre teve essa diversidade com muita paz.

Tem churrasco em todos os aniversários, e o pessoal vem com camisa e tudo. Não tem aquilo de “Por que eu torço para um time você não pode vir com aquela camisa”. Nunca tivemos problemas com isso aqui em casa.

AS BRIGAS

Brigas no nível de “Ah, de repente alguém pode ir, e ter algum confronto, de encontrar”, jamais falaram. Sempre instruímos para não brigar. Violência jamais.

Sempre tem policiamento, a polícia faz o trajeto junto com eles, não sabíamos sobre encontro marcado para a briga, nunca.

Naquele ponto da Inajar de Souza [avenida da zona norte da capital onde André foi baleado] sabíamos que eles passavam, até para a segurança dos meninos que moram lá, para estarem juntos. Sempre pediam segurança para pontos de perigo, em que corintianos chegavam, não sei se desta vez [pediram].

Eles contavam que existia segurança até por causa do que está sendo programado para a Copa do Mundo, querem até acabar com torcida organizada ao que parece.

Sempre quando tinha clássico, quando iam, eu acompanhava ligando o tempo inteiro pelo telefone. Eu perguntava: “Vocês chegaram, comeram, está todo mundo bem?”. Com os outros que conheço, a mesma preocupação, “Está tudo bem aí?”, sempre me retornaram.

Nunca teve problema de arma em casa. Eu que arrumo a minha casa. Não sabíamos de nada, isso nunca entrou. Já estavam trabalhando com as lideranças da torcida para não ter problemas de brigas, para que não ocorressem essas coisas.

Estamos colaborando com as investigações, meus filhos estão colaborando, e não saímos daqui, todo mundo está dentro de casa.

Se tivesse algo errado, poderiam ir para a casa de parentes, como foi falado, pelo que aconteceu com o irmão. Mas estávamos aqui, colaborando com todas as investigações policiais.

Espero que encontrem o culpado pelo crime dos dois meninos, tanto do meu filho quanto do Guilherme [Jovanelli Moreira, também morto no confronto], que seja feita alguma coisa, ir atrás e pegar.

O que espero também é reestruturar toda a minha família e que eu tenha força para isso, Deus vai me ajudar, vai nos ajudar. O “Dé” não vai voltar, tenho que respeitar a vontade de Deus.

* http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/36054-os-filhos-de-gildair.shtml