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Honra em participar do livro do Paolo Rossi, nosso carrasco de 1982

Senhores, desde ontem estou aqui em Salvador para o lançamento do novo caminhão Iveco Tector, mas já me preparando para retornar a Belo Horizonte.

IVECOTECTOR

Apesar da correria, estou muito satisfeito porque acabo de ser informado pelo amigo italiano Michelangelo Deodato, que foi lançado o livro do Paolo Rossi (aquele mesmo do Sarriá, 1982), em Turim, e que está sendo um sucesso de crítica e vendas.

Através de intermediação do Michelangelo, com o próprio Rossi e a autora da obra, a esposa dele, Federica Cappelletti, tive a honra de ser convidado para escrever a repercussão daqueles gols que ele fez e que eliminaram o Brasil da Copa da Espanha de 1982.

Entrevistei pessoas diretamente envolvidas naquele jogo e inseri opiniões pessoais e o que escrevi foi incluído na íntegra no livro, intitulado “1982 Il Mio Mitico Mondiale”.

Um prazer contar um pedaço importante da história do futebol mundial.

Vejam o meu trecho na obra do Rossi:

 

LIVROROSSICAPA

 “Paolo Rossi: o artilheiro que o Brasil nunca esquecerá”

– Por Chico Maia

Lá se vão 30 anos que Paolo Rossi liquidou com o Brasil na Copa da Espanha e o trauma continua no país pentacampeão mundial de futebol. Certamente que nem o próprio Rossi e demais companheiros daquela seleção comandada por Enzo Bearzot, imaginam a profundidade das consequências daqueles 3 x 2 no Estádio Sarriá, de Barcelona, naquela tarde do dia 5 de julho.

No dia 18 de janeiro deste ano comemorativo dos 30 anos, a coluna “Planeta que Rola”, do “O Globo”, um dos mais importantes jornais do Brasil destacava: “Desde a nossa derrota na Copa de 82 e, principalmente, após a conquista do tetra, em 94, o torcedor brasileiro foi levado a crer que futebol bonito é sinônimo de fracasso, e que a força vale mais que o talento. Um engano que durou 30 anos, até surgir o Barcelona de Messi, que há três temporadas vem mostrando que vencer praticando o mais fino futebol-arte é possível. E está longe de ser fruto do acaso. O time de Pep Guardiola apenas segue uma cartilha básica: valorização das categorias de base, aposta em jogadores técnicos em vez de brutamontes que só sabem destruir, disciplina tática, posse de bola e vocação ofensiva. E assim realiza o sonho de qualquer um que gosta de futebol: ver um time que ganha e encanta ao mesmo tempo. Será que do alto da sua majestade de pentacampeão mundial o Brasil saberá aprender com o clube espanhol?”.

Referia-se à aula de futebol dada pelo Barcelona sobre o Santos na final do Mundial Interclubes, em Yokohama/Japão, no mês de dezembro de 2011.

A dor de Luizinho

É quase uma unanimidade na imprensa e torcedores brasileiros e grande parte do mundo, que aquela seleção, dirigida por Telê Santana, foi a melhor montada no Brasil, depois da conquista do tricampeonato no México, em 1970, juntando-se com a equipe campeã na Suécia, em 1958, como as três melhores seleções da história do futebol do país.

E Paolo Rossi é o símbolo maior do que até hoje é chamada como a “Tragédia do Sarriá”, com os três gols que eliminaram a seleção de Telê, mandando os “canarinhos” de volta para casa.

Um dos responsáveis pela marcação de Paolo Rossi, era Luizinho, então jogador do Clube Atlético Mineiro, de Belo Horizonte. Hoje ele é Secretário de Esportes da cidade de Nova Lima e ainda lamenta o que ele chama de “fatalidade”, aquele encontro com a seleção italiana, com Rossi tão inspirado: “Ele estava iluminado naquele dia e quem joga ou já jogou futebol sabe que tem dia que não dá; que nada dá certo, e naquela tarde não ganharíamos de jeito nenhum. O Zico disse depois que se nós fizéssemos 10 gols o Paolo Rossi faria 11!”.

Hoje com 53 anos de idade, Luizinho afirma que foi um privilegio fazer parte daquele grupo e disputar a Copa da Espanha, mas que a dor foi muito grande na época e que aquela derrota representou um atraso na forma do futebol brasileiro jogar: “Se tivéssemos ganhado, o futebol brasileiro não teria abandonado a opção pelo ataque, pelo toque de bola, enfim, o futebol-arte, que felizmente foi resgatado agora pelo Barcelona, e reconhecido pelo seu técnico Pep Guardiola”.

Luizinho se refere à entrevista do treinador catalão, que após a goleada sobre o Santos, no Japão, declarou que o time dele pratica o futebol que os seus pais e avós diziam que antes era praticado pelos brasileiros.

Telê Santana 

Telê Santana era um defensor ardoroso do futebol arte e do fair-play. Não gostava que seus jogadores cometessem faltas, não admitia pontapés e até aplaudia o adversário quando este o vencia, por méritos.

Foi o maior alvo das críticas da imprensa por causa daquela derrota; acusado de optar por um esquema muito ofensivo contra a Itália naquela partida, quando o empate bastaria para classificar o Brasil à fase seguinte.

Infelizmente Telê morreu no dia 21 de abril de 2006, em consequência de um Acidente Vascular Cerebral – AVC, do qual foi vítima 10 anos antes.

Mas o seu filho Renê estava presente nos hotéis e vestiários da seleção brasileira em 1982. Hoje com 56 anos de idade, ele também treinador de futebol, e reverencia Paolo Rossi. Acredita que ninguém jamais conseguirá explicar de forma convincente a mudança de comportamento e o crescimento da Itália, justamente contra o Brasil que tinha o futebol mais elogiado até então naquele Mundial, por todo o mundo: “Paolo Rossi foi fenomenal a partir daquele jogo. Era com o se estivesse dopado; não um doping químico, mas uma motivação particular de quem não vinha fazendo uma boa Copa e viu naquele jogo o momento único para se afirmar perante o seu país e ao mundo”, lembra.

Recorda também que o seu pai fora alertado pelo Zezé Moreira, experiente treinador brasileiro na Copa do Mundo de 1954, na Suiça, que a pedido do Telê, observou a Itália nos jogos anteriores para passar as informações para ele: “O Zezé recomendou cuidados com o Paolo Rossi, com a ressalva que ele não vinha jogando bem, mas que era um goleador nato, que se posicionava muito bem em campo”.

E mesmo com os alertas foi impossível parar Rossi, que destruiu a defesa e a reputação da seleção brasileira como favorita absoluta ao título de 1982.

Renê Santana lembra que Rossi impressionou pela movimentação em campo, com muita garra, oportunismo e roubadas de bola para buscar incessantemente o gol do Waldir Peres.

Renê conta também que logo após o fim da partida o sentimento era de revolta pela eliminação, porém, com o passar das horas o reconhecimento ao mérito de todo o time italiano foi unânime, com destaque para Paolo Rossi: “Naquele dia ocorreu uma coisa inédita, quando o meu pai chegava para a sala da entrevista coletiva, onde já se encontrava o técnico Enzo Bearzot, que foi muito gentil e se levantou para cumprimentá-lo. Neste momento, toda a imprensa presente, também se levantou e aplaudiu o meu pai, de pé, numa atitude rara no Brasil, de reconhecimento público a quem perde uma disputa”.

Ele se recorda também que o ônibus da delegação foi aplaudido pelas ruas de Barcelona, do Estádio Sarriá até o hotel onde a seleção estava hospedada: “Chegamos ao hotel e aí foram cenas inesquecíveis de emoção e lamentos. Alguns jogadores choravam, outros bebiam e se abraçavam, também chorando, lamentando, mas reconhecendo que aquele 5 de julho foi, por méritos, da Itália”.

Nessa entrevista que nos concedeu em Belo Horizonte, onde vive com a esposa Rafaela, Renê fez uma revelação interessante: por sugestão de Johan Cruyff, o Barcelona enviou um diretor ao Brasil para tentar contratar Telê Santana para substitui-lo, porque admirava a forma de os times dele jogar: “Eles chegaram a iniciar as negociações, mas logo em seguida o meu pai teve o AVC, e ficou impedido de trabalhar”.

Telê comandou o Brasil também na Copa de 1986, no México, sendo eliminado nos pênaltis pela França, de Michel Platini.

Ele voltou a encantar o mundo com o time do São Paulo, bi-campeão da Copa Libertadores da América e Mundial Interclubes, nas disputas contra o Barcelona em 1992 e Milan em 1993. 

Eder 

Outro importante jogador em campo naquele 5 de julho de 1982 foi o ponta-esquerda Eder, que na época também defendia o Atlético Mineiro.

Dono de fortíssimo chute, um dos melhores cobradores de penalidades da história do futebol brasileiro, ele sustenta que, com aqueles três gols contra o Brasil, Paolo Rossi influenciou não só os treinadores brasileiros, mas do mundo, na forma de escalar taticamente os seus times. “Jogávamos como joga hoje o Barcelona, sem guardar posições fixas, confundindo os adversários com movimentação intensa em campo. Eu teoricamente era ponta, mas jogava pelo meio, às vezes atuava como ala, e o Junior ia para o meu lugar; o Zico corria por todo o campo; o Cerezzo saia do meio e costumava cruzar para o Falcão ou outro companheiro marcar; era um time fantástico!”.

Eder lamenta que por causa daquela derrota para a Itália os treinadores passaram a pensar mais em jogar defensivamente, com a ordem de primeiro não sofrer gols, para depois, tentar marcá-los.

Eder lembra uma característica perversa da imprensa e dos torcedores no Brasil: “Aqui só interessa o primeiro lugar, pois ficar em segundo ou em último tem o mesmo valor”.

Hoje empresário e comentarista esportivo da Rede Bandeirantes, Eder ressalta que aquela seleção deixou tão boas lembranças que até hoje por onde ele vai, em qualquer parte do mundo, as pessoas falam bem e lamentam aquela derrota de 3 x 2 no Sarriá.

“Era o dia de Paolo Rossi e da Itália, cujo time jogou tanto quanto nós, mas que soube aproveitar melhor as oportunidades que teve, porque o Rossi se posicionava muito bem em campo e era um oportunista raro”, completa.

Como o Mundial de 2014 será no Brasil, a imprensa está com farto material sobre a história das Copas, com destaque especial para os 30 anos da Espanha’82.

E Paolo Rossi é nome tão conhecido no país quanto aos grandes craques que entraram para a história do futebol brasileiro.

Naquele Mundial a FIFA elegeu pela primeira vez o “Craque da Copa” e quem venceu foi justamente o nosso “carrasco” na “Tragédia do Sairrá”. No dia 31 de janeiro deste ano, o jornal O Globo dedicou a ele uma página inteira com a manchete: “Paolo Rossi, o rei de 1982 – O Bambino D’Oro que ofuscou o futebol-arte de Telê Santana, Sócrates, Zico & Cia”.

ROSSIHOJE

Paolo Rossi no dia do casamento com Federica.


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Comentários:
38
  • LauroRM disse:

    Para mim esse jogo foi o mais inesquecível da história das copas. Podem falar o que quiser sobre a seleção de 70, pode até ser que em termos individuais, a de 701 só tinha carques, mas assistindo agora aquela copa de 70, salvo as jogas de gênio do Pelé, honestamente não vi grandes jogos. A seleção de 82 jogava por música, todo jogo era espetáculo. Mesmo não tendo ganho, para mim foi a melhor de todos os tempos.

  • deberson dos santos silva disse:

    eu deberson dos santoss ilva brasileiro orgulhoso de seu pais. vou dizer minha humilde opinião á italia se jogar 40 vezes perde 38 esó ganha dus

  • Eliana disse:

    Parabéns pela matéria, Chico

    finalmente alguém está trazendo à memória de quem não assistiu aqueles belíssimos jogos, o que realmente acontecia naquele período.
    Quem viu aquela Copa, nunca irá esquecê-la… quem assistiu aquele jogo contra a Itália, nunca irá esquecê-lo…
    Passou-se Paolo Rossi, os 3 x 2, os erros de nossa defesa, enfim, tudo já se passou há quase 30 anos. Claro que Paolo Rossi foi fenomenal, não resta dúvidas. Porém, tenho certeza de que a nossa seleção é lembrada MUNDIALMENTE. Ate mais do que a própria Itália, que foi a Campeã.

  • Roger disse:

    Seu texto foi simplesmente PERFEITO.
    Nao preciso dizer mais nada.

  • tom vital disse:

    Clayton qualquer dias desses apareço ai no bar para molhar a palavra e trocarmos umas idéias.Abraços.

  • Tomás disse:

    Retificando:
    Ainda sobre 82. Jorge Nunes, da Tupi, o popular “Jorginho”, outro dia era zoado pelos colegas: “Você, Jorginho, é do tempo que jornalista ia de buzão para a concentração e ainda levava pão com mortadela para comer”. E ele, sem modéstia, respondeu: “Pois é, mas eu entrevistava o Zico, o Leandro, o Júnior , o Roberto Dinamite… sentiu a diferença?”
    Ainda sobre a geração de 82. Outro dia, ouvi na rádio Itatiaia o seguinte comentário sobre o Reinaldo, produzido por um torcedor, mas reproduzido pela rádio: “Rei de quê se não ganhou nada?!”.Curiosamente, pouco antes eu ouvira o Jorge Nunes, que é carioca, comentar sobre a final entre Flamengo e Atlético em 80. Assim ele comentou: “Cara, aquele Reinado, aquele do Galo, era tão bom de bola que fez dois gols na final contra o Flamengo jogando com uma perna só.”

  • Tomás disse:

    Ainda sobre 82. Jorge Nunes, da Tupi, o popular “Jorginho”, outro dia era zoado pelos colegas: “Você, Jorginho, é do tempo que jornalista ia de buzão para a concentração e ainda levava pão com mortadela para comer”. E ele, sem modéstia, respondeu: “Pois é, mas eu entrevistava o Zico, o Leandro, o Júnior , o Roberto Dinamite … sentiu a diferença?”
    Ainda sobre a geração de 82. Outro dia, ouvi na rádio Itatiaia o seguinte comentário sobre o Reinaldo, produzido por um torcedor, mas reproduzido pela rádio: “Campeão de quê se não ganhou nada?!”.Curiosamente, pouco antes eu ouvira o Jorge Nunes, que é carioca, comentar sobre a final entre Flamengo e Atlético em 80. Assim ele comentou: “Cara, aquele Reinado, aquele do Galo, era tão bom de bola que fez dois gols na final contra o Flamengo jogando com uma perna só.”

  • Frederico Dantas disse:

    Éramos favoritos naquele jogo. Lembro-me bem daquele dia. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, não foi uma zebra.

    Perdemos para uma Itália, que viria a ser tricampeã mundial invicta naquela Copa.

    Uma seleção que tinha gente como Zoff, Scirea, Tardelli, Cabrini, Conti.

    Uma seleção que bateu a então campeã do mundo, a Argentina, com Maradona e Kempes.

    Bateu o fortíssimo time do Brasil.

    Bateu uma sensação europeia da época, a Polônia de Lato e Boniek, na semifinal.

    Bateu na final, de forma incontestável (meteu 3 a 0 e passeou em campo a partir daí) uma forte seleção alemã que havia tirado a França de Platini, Rocheteau, Giresse e companhia.

    Perdemos, foi doloroso, mas não perdemos para nenhum cachorro morto. E o Rossi, do jogo contra o Brasil em diante, marcou 6 gols em 3 jogos. Isso numa Copa do Mundo, não é qualquer coisa.

  • Dudu GALOMAIO disse:

    Cara Suzanne Collins, o tinga é um bom jogador sim.
    Mas compará-lo com Forlán é complicado, viu? Repense isso aí.

    Eu só não entendi a relação que você fez. O que tem a ver a diretoria do Galo tentar trazer o Forlán, melhor jogador da Copa 2010 e da Inter de Milão com o Cruzeiro contratar o veteraníssimo tinga, do mercado caseiro?

  • SUZANNE COLLINS: Discordo quando disse, entre outras bobagens que lhe são peculiares, (sic) … ” olha o tinga ai.morram de inveja que dormiu sonhando com o forlan acordou com o tinga no time rival.kkkkkkkkkkkk”, pois, o “jovem” Tinga mais que merece ir “prái”, mas aqui em MG e devido os caminhos que tomou o campeonato estadual, nós não temos rival nem adversário. Afinal, este ano a maioria absoluta em MG pode gritar “É campeão…” ( e invicto!). kkkkkk…

  • Esqueci de outra “desesperada”: Rosana! Mas paciência, vocês não podem jogar futebol… kkkkkkkkkkkkkk….

  • SUZANNE COLLINS: Desculpe-me, mas uma mulher casada que prima pela decência não deveria usar termos masculinos em seus comentários… vc e a “desesperada” Suzanne Collins é que vivem nos provocando e merecem receber o retorno devido…
    – Mas se sentiu-se ofendida, DESCULPE-ME…

  • Stefano Venuto Barbosa disse:

    Chico, tenho a honra de tê-lo como amigo, tenho orgulho de ver o seu sucesso, principalmente por saber que é um vencedor e um exemplo, sempre digno, correto e imparcial. Mais ainda por não se importar com aqueles que invejam seu sucesso, por várias razões, aqui na nossa terra.

  • Eduardo Dias disse:

    Chico,

    Segue meu texto sobre essa tragédia escrito cinco anos atrás sobre a tragédia do Sarriá.

    http://videoteipe.blogger.com.br/2007_07_01_archive.html#39725143

    O jubileu de prata da pior tragédia de todos os tempos…

    Em 1980 o Maracanã completava 30 anos. Houve um jogo comemorativo entre a Seleção Brasileira e a Seleção Soviética. Perdemos por 2 x 0 naquele Domingo sem graça e um jogo morno. Lembro que soltei a seguinte frase: “Sacanagem, o Brasil perde na inauguração do Maracanã e quando ele completa 30 anos perde de novo!” Ainda era muito ingênuo para entender o que significou em toda uma geração o chamado Maracanazzo.

    Fui entender dois anos depois.

    Há exatos 25 anos chorávamos uma das maiores catástrofes acontecidas no mundo do futebol: A chamada “Tragédia do Sarriá”. O Estádio Sarriá era bem modesto se comparado ao Maracanã, mas o estrago que causou em corações e mentes foi igual ou maior. Hoje ele nem existe mais, foi demolido, em 1998, para pagar dívidas do Espanyol, clube que era dono. Espero que tenham salgado o terreno após a demolição. Para que tamanha tragédia não volte a acontecer.

    A Copa do Mundo da Espanha foi a que, felizmente ou infelizmente, me fez um fanático por futebol. Diferentemente de hoje existia toda uma mística criada em torno da Seleção. Assistia aos jogos em meio a plantões do Jornal Nacional sobre a Guerra das Malvinas e outras notícias. Colecionava figurinhas com os craques da Copa e as disputava no tapão com os colegas da escola. Enfim, uma época em que nenhum Play Station vai substituir. Os craques desfilavam pelas páginas dos álbuns de figurinhas e na televisão. Fora os da Seleção Brasileira haviam craques como Platini, Tiganá, Breitner,Rummenigge, Mario Kempes, Maradona, Roger Milla, Peter Shilton, Dasaev, Lato, dentre outros.

    No dia 5 de julho de 1982 as coisas já estavam planejadas. O Brasil iria apenas jogar e se classificar. Todos nós esperávamos isso acontecer da melhor forma e outro baile da seleção. Após os três primeiros jogos da primeira fase onde o Brasil ganhou da União Soviética por 2 x 1 jogando o fino da bola goleou a Escócia por 3 x 1 e Nova Zelândia por 4 x 0, o time foi para a segunda fase e caiu num grupo com Argentina e Itália. A então campeã mundial não foi problema novamente, enfiamos 3 x 1 e deu gosto de ver a cara de choro do Maradona. Na segunda feira iríamos pegar a Itália.

    Ah! sim a Itália. Timinho. Não em lembrava de nenhum jogador da Itália. Acho que todos eram figurinhas fáceis. Apenas dois jogadores remetiam aquele time por alguma razão. Eram Bruno Conti e Scirea. O primeiro porque jogava com Falcão na Roma e o segundo porque não conseguia pronunciar o nome. Sabia do time porque me lembro de assistir Itália x Camarões. Torci como nunca para os Leões africanos e o goleiro N’kono e Roger Milla.

    O dia amanhece claro, céu azul de inverno, dia bonito para soltar traques e torcer pela Seleção. Mas as coisas começam a dar errado quando Paolo Rossi faz um gol aos 5 minutos do primeiro tempo. Nada faz abalar a torcida afinal em duas oportunidades o Brasil saíra perdendo e virou o jogo de maneira espetacular. As coisas começaram a melhorar quando Sócrates empatou. Pronto, agora começará o baile. Era o que imaginávamos caso Paolo Rossi não fizesse o segundo gol em uma saída errada de Cerezo.

    Termina o primeiro tempo e o Brasil nem leva o empate para o Vestiário. A confiança meio que ficou abalada. Afinal as coisas não estavam saindo como esperado. Naquela copa ainda não tinha visto o Brasil ficar tanto tempo atrás no placar.

    Começa o segundo tempo e a coisa continua a mesma até que em um tirambaço de fora da área, Falcão estufa a rede de Dino Zoff. Corri igual ao Falcão pela rua. Achei muito emblemático a figura do Falcão correr pelo campo com os braços abertos e as veias estufadas como quem dissesse: Porra!! Somos melhores !!! Toma esse gol aqui na fuça cambada de carcamano!!!

    Era o que faltava.

    O Brasil passou sufoco mas pelo menos vai se classificar afinal o empate é nosso. Ledo engano porque em um lance rápido quem está na área para conferir? Paolo Rossi. Faz o terceiro e acaba de vez com o nosso sonho. Em princípio não acreditava no que acontecia. Custou a cair a ficha. Nem os italianos pareciam acreditar. Marco Tardelli, meio-campista da Squadra Azzurra, disse:

    “Se nós jogássemos 20 vezes contra o Brasil, perderíamos 19. Menos hoje”.

    Posso dizer que nunca chorei tanto por um jogo de futebol quanto naquele dia. Assistia na TV pessoas chorando em todo Brasil a derrota da Seleção imbatível. Uma coisa que se pode dizer é que mesmo com tanta tristeza foi uma daquelas amarguras que a gente sente mas não fica com raiva. Infelizmente a melhor seleção reunida por um excelente técnico não ganhou uma Copa do Mundo. Mesmo com toda tristeza ficou o consolo de que todos vimos, talvez o último time de futebol que fascinou o mundo inteiro.

    Drummond assim sintetizou:

    “Certamente, fizemos tudo para ganhar esta caprichosa Copa do Mundo. Mas será suficiente fazer tudo, e exigir da sorte um resultado infalível? Não é mais sensato atribuir ao acaso, ao imponderável, até mesmo ao absurdo, um poder de transformação das coisas, capaz de anular os cálculos mais científicos?”

    A ficha do jogo:

    ITÁLIA 3 X 2 BRASIL
    Estádio: Sarriá, Barcelona (ESP)
    Data: 05/07/1982
    Público Pagante: 44 mil
    Juiz: Abraham Klein (ISR)
    Cartões Amarelos: Gentile e Oriali (ITA)
    GOLS: Rossi, 5’/1ºT (1-0); Sócrates, 12’/1ºT (1-1); Rossi, 25’/1ºT (2-1); Falcão, 23’/2ºT (2-2); Rossi, 29’/2ºT (3-2)

    ITÁLIA: Zoff, Gentile, Cabrini, Collovati (Bergomi – 34’/2ºT) e Scirea; Tardelli (Marini – 30’/2ºT), Antognoni, Oriali e Conti; Rossi e Graziani – Técnico: Enzo Bearzot.

    BRASIL Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior, Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho (Paulo Isidoro – 24’/2ºT) e Éder – Técnico: Telê Santana.

  • audisio disse:

    Enquanto isso, o Cruzeiro contrata Celso Roth e as primeiras contratações à pedido do novo técnico são dois volantes de contenção.
    Tinga com 35 anos e Willan Magrão, reserva no Grêmio, forte na marcação e que “sai para o jogo”. Roth foi auxiliar de Felipão, farinha do mesmo saco! O nogócio é matar a jogada!
    Pode até ser que o Cruzeiro não caia, mas ganhar alguma coisa…

  • ivan junior disse:

    Não há como negar que o Paolo Rossi estava em tarde inspirada naquele dia. Contudo é sempre bom reforçar que se o Telê não fosse tão cabeça dura nós teriamos ganho aquela copa; por conta de sua teimosia em não convocar para o gol o Raul e como camisa 9 o Reinaldo perdemos a copa. O proprio Zico na epoca, juntamente com outros jogadores, quase imploraram para que o Reinaldo fosse convocado para a copa (foi com um gol dele que o Brasil se classificou para a copa/82, no ultimo jogo das eliminatorias), mas o cabeçudo do Telê nao cedeu e preferiu não levá-lo. Pagou carissimo por conta disse e, pior, por ter levado um mal carater no lugar do Rei; se tivesse levado ao menos o Nunes ele, com certeza, nao teria perdido os gols que aquele marginal do SErginho perdeu. Mas, vida que segue.

  • Paulo Henrique disse:

    Eu era criança e tenho vagas lembranças do jogo.

    Meu pai e amigos se reuniam lá em casa para ver todos jogos do Brasil. Era só festa!

    Deste dia, só me lembro de todo mundo extremamente triste e de uma imagem do Sócrates com a camisa rasgada.

    O time de Telê merecia uma grande conquista!

    Mas Paolo Rossi foi fatal.

    Parabéns Chico Maia!!

  • Newton disse:

    Parabéns pela bela coluna,
    Para quem viu e acompanhou aquela seleção que encantou o mundo, assim como eu, concordo com o seu comentário, que aquela derrota nos trouxe a este pobre futebol brasileiro de hoje, de retrancas, marcações, volantes,etc…
    Fico feliz e emocionado de saber agora, que o Barcelona de Johan Cruyff, tentou levar o mestre Telê para ser seu substituto.Pelo andar da carruagem, vai ser preciso o Brasil perder a copa em sua casa, para que possamos ter de volta o verdadeiro futebol brasileiro!!!!

  • Tomás disse:

    Texto muito legal. Os torcedores amavam a seleção de 82. Houve muito choro após a derrota para a Itália. Hoje, ninguém mais se comove com a seleção brasileira. Após 82, vi o Brasil vencer duas copas, mas a saudade que ficou foi do futebol jogado em 82. Vencer não é tudo. Os jogadores de 82 são reverenciados no Brasil e no mundo como craques. Sinceramente, quem viu zagueiros como Luizinho e Oscar, laterais como Júnior e Leandro, um meio campo formado por Cerezo, Falcão, Sócrates, e um ataque com Zico, Éder e Serginho Chulapa (não era craque, mas enfartaria de tanto fazer gol se jogasse hoje), pensa que acordou do sonho para o pesadelo ao ver tanta pereba junta jogando no Brasil. Concordo com a teoria de que ruindade atrai ruindade e qualidade atrai qualidade. É uma questão de inspiração. Perdemos muito mais do que um título após 82, pois foram-se os ensinamentos das gerações passadas que alcançaram o Olimpo no futebol, dando lugar à teoria que denominei “perebismo’. Segundo os princípios do perebismo, é possível fazer um time campeão com um craque e dez perebas disciplinadas. Gostaria que você, Chico, escrevesse um artigo sobre a Copa de 82, relembrando o número indecente de craques que disputaram essa copa, já que uma coisa é destacar-se no meio das perebas, outra é jogar bola no meio de Platini, Tigana, Rummenigge, Kempes, Maradona, Dino Zoff, o próprio Rossi. Tenho até a audácia de sugerir um título: “A Copa dos Craques”.

  • Antônio Catão Jr. disse:

    Revendo alguns jogos do Brasil na Copa de ’82, a defesa, apesar de contar com o Luizinho, era meio displicente ou é impressão minha?

  • Reinaldo disse:

    Depois dessa copa, meu irmão mais velho virou para mim falando que só iria torcer para o Galo, nunca mais torceria para seleção nenhuma.

    Bica elas Galo!!!!!!!

  • J.B.CRUZ disse:

    PAOLO ROSSI que nunca primou pela categoria, não marcou nenhum gol na primeira fase da copa de 82, mas desencantou nos jogos decisivos..Fêz os 3 contra o BRASIL, 2 na semi-final diante da POLÔNIA e um na final contra a ALEMANHA..Além do título mundial, da artilharia e do apelido de BAMBINO D’ORO, ROSSI foi eleito o melhor jogador da copa..Em sua biografia, ele conta que, durante uma visita ao BRASIL cinco anos depois, recêm-aposentado, foi reconhecido pelo motorista do taxi em que passeava por SÃO PAULO..O taxista parou o carro e o botou para fora….

  • Suzanne Collins disse:

    agora sim vi que esse novo diretor de futebol entende do riscado.olha o tinga ai.morram de inveja que dormiu sonhando com o forlan acordou com o tinga no time rival.kkkkkkkkkkkk

  • Graaaande Tom Vital !!

    Foi só falar em “Livro” que vc apareceu né ?? rs

    “C” tomou uma sumida grande meu amigo… O que houve ?? Tá td bem ??

    Some não que o Blog precisa de pessoas como vc. Seus comentários e seus poemas, estão fazendo falta. Mesmo aqueles em que vc provoca meu Cruzeiro… rsrs

    Abraços

  • Suzanne Collins disse:

    obrigado ao DUDU e ao MARCAO pela a homenagem.marcao so uma mulher casada e bem casada e tenho uma familia maravilhosa.um marido maravilhoso e dois filhos lindo.se vc ler um comentario meu anterior vc vai ver que fiz um elogio a ex miss.

  • cassiano disse:

    Que moral hein!!!!!!!!!!! Parabens, E que a Italia nunca mais tenha um jogador igual a este…………….. Igual ao Baggio pode!!!!!!

  • tom vital disse:

    Parabéns,Chico,pela participação no livro de Paolo Rossi.

  • tom vital disse:

    A seleção Brasileira de 1982 foi a melhor de todas que eu tive a honra de acompanhar…Mas os deuses do futebol estavam com Paolo Rossi…

  • Wellington Cunha disse:

    Tinha naquela época sete anos e lembro que a seleção tinha como base Flamengo e Atlético (as duas melhores equipes da época). Muita saudade, agora passados 30 anos tenho tristeza em ver essa “seleção” de Mano.

  • Marteus disse:

    Parabens Chico,mais um Atleticano de Minas para o mundo.

  • geovany altissimo disse:

    tinha 10 anos mas é um dia que não sai da minha memoria. parece que foi ontem

  • EDUARDO BH disse:

    Chico,
    Parabéns por esta honra que vc obteve de participar. Foi muito legal vc mencionar o nosso CAM e a nossa BH. Ótima divulgação para ambos em vespera de Copa do Mundo no Brasil.
    O seu texto ficou muito bom como sempre vc faz.
    Valeu.

  • Raws disse:

    O futebol me proporcionou momentos de alegrias inesquecíveis, porém
    a decisão de 1977, o assalto do Serra dourada e a tragédia do Sarriá, foram momentos de uma dor dilacerante. Continuarei mesmo assim defendendo a frase dita por alguém que não me lembro neste instante:
    A forma como percorremos e as alegrias durante o percurso as vezes são mais importantes do que o objetivo final.

  • Waltencir Nascimento disse:

    Parabèns, Chico
    Muito bacana, fiquei feliz por você.
    82 A copa inesquecivel: O prazer de ver a mágica Selação Brasileira e a dor de ver o Carrasco Paolo Rossi, acabar com o sonho de uma geração.

  • Alisson Sol disse:

    Uma coisa importante é conhecer o outro lado da História. Eu hoje tenho um colega de trabalho italiano que, como eu, era criança à época da Copa de 1982, e assistiu ao jogo ao mesmo tempo, torcendo pelo “outro lado”.

    A visão dos italianos é incrível: aquele foi o “jogo da vida deles”. Eles não se importam de ter perdido a final de 1994. Já quase não se lembram da final de 2006 contra a França. Mas são capazes de se lembrar dos gols contra o Brasil na Copa de 1982. É talvez o maior elogio que já vi ao futebol brasileiro, quando jogado sem o tal “futebol de resultados” que temos ultimamente.

    Agora, eu acho que há uma enorme confusão ao se comparar o jeito que o Brasil jogava em 1982 e o modo como o Barcelona joga. O Brasil de 1982 tocava a bola quase sempre para a frente. E havia muito drible individual. Se você pega uma seleção de gols de 1982 (vide link) provavelemente vai pensar como eu: destes 15 gols, uns 10 o Barcelona não faria nunca! O Barcelona joga totalmente diferente: é uma “laranja mecânica” (a Holanda) com um jogador especialmente talentoso. E quem vê os “gols feitos” pela seleção de 1982 não vai hoje ter a paciência para assistir os jogos inteiros e ver os “gols perdidos”, alguns literalmente cinematográficos.

  • Vladimir disse:

    Chico,
    primeiro parabéns pela oportunidade única de escrever em tão esperado livro, mas isso não me surpreende.
    Sobre a derrota do Brasil, que lembro pouco, pois estava com 8 anos, hoje não acho que é para tanto, chamá-la de tragédia, foi apenas uma derrota, mas acho que maior que a vitoria sobre a Itália e da Copa do Mundo, é o fato dos jogadores ainda serem lembrados, como disse o Éder e como é o caso da Laranja Mecânica. Pensar que, mesmo na derrota um time é lembrado para mim é uma puta vitória, porque lembrar dos vitoriosos é mais fácil do que lembrar de quem merecia ser o vencedor. Salve salve o Brasil de 82.
    Alias Chico, gostaria de saber sua opinião, qual o gol mais bonito daquela copa, pra mim foi o do Éder contra a URSS, aliás o mais bonito de todos os tempos! abs

  • André Corrêa disse:

    Carcamano!

  • lelio luiz nepomuceno disse:

    hoje eu ouvi a entrevista do diego tardelli, na itatiaia. falando que ganhou a copa do rei no Quatar , resultado de 0 x 0 , ganhando nos penalty. que está feliz lá, fez 4 gols em 10 jogos, na rússia fez 13 jogos e nenhum gol, mas o artilheiro da liga lá foi rodrigo tabata e depois o afonso alves, com 17 gols em 21 jogos e o afonso com 15 gols em 18 jogos. ele como um jogador de ponta , deveria ficar triste por fazer poucos gols enquanto outros jogadores inferior a ele danarão a fazer gols. que dizer, se valorizando perante a torcida do galo. haja markting.

    obrigado. i

    – belo horionte