Senhores,
coincidências acontecem; envolvem a todos nós, e faço um registro de algumas coincidências muito interessantes vividas por mim de ontem para hoje.
Tenho o hábito de ligar a TV, mesmo que rápido, e dar uma passada em alguns canais que considero valer a pena, porque sempre está passando algo muito interessante em algum deles.
Se estou com tempo, paro e assisto, e quando o tempo é curto, anoto e tento encontrar futuramente em algum lugar.
Ontem cedo, apressado, vi o fim de um documentário, no ESPN, sobre o drama de um grande astro do basquete mundial e da família de outro, separados pela carnificina da guerra que acabou com a Iugoslávia, um assunto que mexe com qualquer pessoa em qualquer época.
Anotei o nome de um dos astros, tema central do documentário: Petrovic Drazen, e agora há pouco, “fuçando” na internet, encontrei a história completa e um texto da melhor qualidade da Mônica.
Outra coincidência: o texto dela é o que eu gostaria de escrever aqui no blog, e ela é de Belo Horizonte, mas viu este documentário bem antes de mim; em 2010 e postou no blog dela no dia 23 de novembro.
Pena que ela só se identifica como Mônica, porque dá para notar que é da prateleira de cima e vou me tornar adepto do “Crônicas Urbanas”, que é o excelente blog dela, a quem agradeço e tomo a liberdade de fazer das dela as minhas palavras sobre “Once Brothers”.
Confira:
http://cronicasurbanas.wordpress.com/2010/11/27/once-brothers/#comments
* “Once Brothers”
Realmente, foi uma daquelas felizes coincidências. Porque, convenhamos, a probabilidade de estar na frente da TV numa sexta-feira à noite, no meu caso, é bem remota. Assistindo a ESPN, então, quase nula. E vendo algo relacionado com basquete, digamos que as chances se aproximariam do zero absoluto. Mas foi isso mesmo que aconteceu, pra minha sorte. Na verdade, eu parei no canal porque o sujeito que aparecia em close na tela da TV (e que eu não conhecia) tinha aquela cara simpática de gente boa, falava um inglês fluente mas claramente com sotaque e me lembrava o ator francês Jean Reno. O moço em questão era Vlade Divac, jogador de basquete sérvio de gigantescos 2,16m e não, aquele não era um documentário sobre o esporte. Quer dizer, não exatamente.
Muito mais interessante do que um filme sobre um dos maiores talentos do basquete iugoslavo/europeu/da NBA, o documentário Once Brothers coloca em destaque não apenas a carreira de Divac e a de seu melhor amigo, o croata Dražen Petrović, mas o que a guerra na ex-Iugoslávia fez com a vida desses jogadores e as de seus colegas. E como a morte prematura de Petrović, num acidente de carro na Alemanha em 93, jogou por terra a possibilidade de uma reconciliação entre os dois. Também mostra como um gesto aparentemente insignificante para um pode ser interpretado e usado de muitas maneiras por outros.
Divac e Petrović faziam parte do time da Iugoslávia que venceu o campeonato mundial de basquete em 1990. A seleção representava um país que estava a poucos meses do esfacelamento total, e os jogadores queriam reforçar em quadra a ideia de uma Iugoslávia unida. Por isso, quando um torcedor entrou em campo para comemorar a medalha de ouro agitando a bandeira da Croácia e ignorou o pedido de Divac de tirá-la dali, o jogador sérvio tirou-a das mãos do sujeito e jogou-a para um lado. Divac disse depois que teria feito o mesmo se a bandeira fosse a da Sérvia, porque não queria que um evento esportivo fosse usado com objetivos políticos. Não deu certo. O gesto foi mostrado à exaustão na mídia croata e Divac acabou saindo do episódio como ‘herói’ para os sérvios e ‘vilão’ para os croatas. E as coisas nunca mais foram as mesmas.
Dali pra frente, durante a guerra nos Bálcãs e mesmo depois dela, Divac perdeu contato com seus colegas croatas. Petrović, com quem falava ao telefone quase todos os dias, também passou a evitá-lo, embora ambos jogassem na NBA. Na Croácia, durante a filmagem do documentário, as pessoas o viam na rua e o reconheciam, mas quase ninguém vinha falar com ele. Divac esperava que o fim dos conflitos e o passar dos anos fizessem com que ele e Petrović voltassem a conversar e ser bons amigos, mas a morte do croata aos 28 anos acabou com tudo. A impressão que a gente tem assistindo ao documentário é a de que esse será um peso que o jogador sérvio vai carregar por toda a vida.
É um documentário imperdível até para quem, como eu, conhece muito pouco sobre basquete e nem se importa tanto com o esporte. As entrevistas com os familiares, o depoimento de outros jogadores da seleção iugoslava e um bate-papo descontraído na beira da piscina com o grande Earvin ‘Magic’ Johnson contrabalançam o lado ‘macro’ da guerra como pano de fundo e mostram que, no final das contas, os dramas são sobretudo pessoais, e o fim de um conflito político não significa necessariamente que tudo ficou bem.
Espero que a ESPN reprise o programa em horários alternativos. Mas se você não se importa com a ausência de legendas, o original pode ser encontrado no YouTube (onde mais?), dividido em seis partes (a primeira está aqui). Vai por mim, vale muito a pena.
* http://cronicasurbanas.wordpress.com/2010/11/27/once-brothers/#comments
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