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O futebol de base e o atraso dos clubes brasileiros na busca de jovens talentos

Muita gente fala sobre os problemas das categorias de base dos nossos, mas não sabe de amarras legais que inviabilizam muitas ações que poderiam surtir melhor efeito como um todo para o futebol brasileiro. Em ótimo artigo no site da Folha de S. Paulo, hoje, o advogado e diretor jurídico do Atlético, Lásaro Cândido da Cunha, fala da situação e defende mudanças urgentes na legislação. 

ESCOLINHA

Confira:

* “O futebol de base e o atraso brasileiro”

 

Após o final da Copa do Mundo com a vitória dos alemães, a mídia brasileira passou a produzir matérias celebrando a revolução e organização do futebol alemão, com destaque para os centros de formação de base.
Dentre os aspectos dessa organização, constam imagens de crianças com menos de 10 anos em centros de treinamentos da federação local, dedicados ao aprendizado para o futebol profissional. Aliás, destaca-se dessas imagens jogadores consagrados no mundial como Schweinsteiger, Neuer e Khedira.

Muitos no Brasil desconhecem que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) não se dedica nem tem estrutura adequada para receber e formar atletas de base. A Confederação apenas escolhe na base dos clubes os jogadores para compor as seleções para as competições do período de formação (sub 15, 17 e 20), cabendo aos clubes o trabalho de formação e preparação.

Entretanto, os clubes incumbidos da formação de atletas convivem com muitos entraves criados pelo sistema legal e igualmente cercados pela atuação de fiscais do trabalho e atuações judiciais do Ministério Público com ações civis públicas proibindo os clubes de receber jovens atletas com idade inferior aos 14 anos.

As autoridades referidas escoram-se fundamentalmente na interpretação da Constituição Federal que proíbe o trabalho em idade inferior aos 14 anos, além da “Lei Pelé” (lei nº 9.615/98) que autoriza o clube formador a celebrar o primeiro contrato de trabalho esportivo apenas a partir dos 16 anos de idade.

Com isso proliferam pelo país “escolinhas” desprovidas na maioria das vezes de quaisquer conhecimentos técnicos e do mínimo de organização em comparação com os padrões de excelência de muitos clubes de futebol profissional espalhados pelo país. Essas “escolinhas” criam um verdadeiro mercado paralelo, com relação promíscua de empresários e mercadores que escapam livremente de qualquer atuação fiscalizadora dos referidos órgãos públicos.

Por isso, antes de mirar no modelo alemão e cobrar semelhante caminho de formação profissional no Brasil, temos que encarar nossa cultura legislativa e de interpretação dos textos legais que, a pretexto de dar garantia aos nossos jovens, os impedem de iniciar a preparação para o futebol profissional e impede os clubes de adotar modelos praticados em outros países.

Aliás são frequentes e amplamente divulgados os ataques de poderosos clubes de outros países que ingressam livremente no Brasil para levar jovens talentos ainda muito precoces (crianças e seus pais), para seus países de origem.

Por isso é preciso ficar atento para o surgimento dos propagandistas da solução fácil, do “milagre” com propostas de “revolução” do futebol no Brasil. É importante realçar que a tão sonhada “revolução” do futebol de base no Brasil tem entraves legais, o que impõe revisão urgente do sistema brasileiro e sua cultura jurídica num mundo cada vez mais competitivo e disputado. Com a palavra nossos legisladores, o Ministério do Trabalho e os próprios órgãos do Poder Público, autores de ações civis contra os clubes de futebol do país, ações essas que em muitas casos são acolhidas pelo próprio Judiciário.

Muitos outros aspectos, não tratados neste artigo, poderiam ser exemplificados para mostrar o atraso normativo do futebol de base e profissional do Brasil, para os quais os brasileiros devem ter olhar crítico, sob pena do jogo continuar cada vez mais difícil para quem pretende melhorar o nosso futebol, que atualmente leva de goleada também no plano legal.

LÁSARO CÂNDIDO DA CUNHA é doutor em direito, advogado, professor e diretor jurídico do clube Atlético Mineiro

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/08/1497925-lasaro-candido-da-cunha-o-futebol-de-base-e-o-atraso-brasileiro.shtml


A visão de um holandês sobre a Copa, Belo Horizonte, e o dia em que o Feyenoord optou por Magrão ao invés do Fred

Senhoras e senhores,

ano passado o holandês Rick Breugelmans foi voluntário durante a Copa das Confederações, no centro de mídia do Mineirão. Ficou por aqui seis meses e gostou tanto de Belo Horizonte que este ano retornou para trabalhar novamente como voluntário na Copa do Mundo.

Pedi a ele que escrevesse sobre essa experiência, bem como as impressões dele sobre o futebol e tudo que viveu e viu no Mundial vencido pela Alemanha e que teve a Holanda fazendo bela campanha, mas ficando em terceiro lugar.

O texto ficou ótimo, inclusive, ele como torcedor do Feyenoord fala da parceria do time dele com o América e que Fred esteve com um pé lá, mas na “hora agá” alguém sugeriu que os holandeses levassem o Gerson Magrão.

RICK

Da esquerda para a direita, Rick Breugemans, a alemã de Hamburgo, Riccarda Munch, e o “belzontino”, Analista de Sistemas, Rômulo Diniz, ano passado na Copa das Confederações no Mineirão.

Hallo allemaal,

Meu nome é Rick Breugelmans, 27 anos, holandês de uma cidadezinha no sul dos Países Baixos, chamadaEtten-Leur. Sou formado em turismo e com pós-graduação emsport management (não sei dizer o correlato disto em português, mas se alguém tiver interesse, explico o que é, numa boa!) e como vocês tenho uma grande paixão pelo futebol. Meu time do coração é o Feyenoord Rotterdam, primeiro clube holandês a ganhar a Liga dos Campeões e a Copa Intercontinental, e o clube com o maior número de jogadores na seleção holandesa na última Copa. No passado, Feyenoord teve uma breve e não muito proveitosa parceria com o América mineiro, que quase nos proporcionou ter o Fred matador como jogador, mas, no último minuto da prorrogação, trocamos o Fred por um tal de Gerson Magrão. Estou curioso sobre o que vocês sabem mais sobre o futebol da terra dos moinhos e do queijo (olha a semelhança com Minas!)…

Como holandês, eu vejo o último Mundial com bons olhos, pois, nas Copas passadas, nós holandeses sempre achávamos que poderíamos ganhar, e acabávamos nadando nadando e morrendo por pênaltis na praia. Desta vez, nenhum holandês minimante interessando em futebol estava muito confiante. Apesar de um ataque muito forte, com o trio maravilhaRobben, van Persie e Sneijder, nós viemos ao Brasil com uma equipe predominantemente jovem, com a maioria ainda jogando no campeonato holandês. Mesmo com a inexperiência em competições internacionais, conseguimos grandes resultados, mas, infelizmente,outra vez os pênaltisforam a nossa miséria e o final – que eu nem quero relembrar – vocês já sabem. Parece que é o destino daLaranja Mecânicajogar bem, mas nunca ser campeão. Mas ao menos chegamos ao terceiro lugar, e logo em cima da seleção anfitriã.Chutar cachorro mortoé fácil, né…

Sem brincadeiras (mesmo porque ainda quero andar pela rua serenamente), eu realmente me solidarizei com vocês brasileiros e não achei graça alguma nos 7×1, e na apatia que caiu sobra a seleção nacional. Mas em minha opinião, a seleção tem a própria culpa e o povo não deveria carregá-la como sua própria. Pareceu-me que ogrupodava mais atençãoàs atividades fora do campo que ao próprio futebol. Também toda aquela novela em torno do Neymar foi muito excessiva, desproporcional.Sem dúvidas de que ele é um jogador muito importante. Argentina sem Messi e Holanda sem Robben também são muito menos fortes, mas o foco pareceu-me completamente desaparecido após da fratura do Neymar. Tudo girou em torno disto. Só comprovando a pouca confiança dos jogadores e o despreparo da equipe técnica para absorver a perda. Na mesma semana em que duas pessoas perderam suas vidas em Belo Horizonte devidoà queda de um viaduto, o pessoal do marketing da Seleção sentiu que era mais importante homenagear Neymar durante o hino nacional do que as vítimas do desastre. Neymar não estava morto, não? Eu também tive a idéia de que a equipe brasileira estavamuito distante do público,que faltou a espontaneidade na interação com os torcedores. Diferentementedos alemães na Bahia, mostrando que a descontração e a máxima performance podem andar de mãos dadas.

Todos nós temos uma opinião sobre o Mundial. A sua pode ser diferente da minha e eu gostaria muito de sabê-la. Só tenho a certeza de que espero que o Brasil institua um caminho de renovação para voltar ao topo, porque o futebol brasileirojá nos proporcionou tanta beleza que não é justo que não se reerga.  Força Seleção!

Groetjes,

Rick Breugelmans

p.s.: Oh, devo admitir que tive ajuda da minha namorada Janaína com este texto. É claro que eu não estou aqui sozinho com todas essas palavras complicadas. Embora o futebol brasileiro atual esteja cometendo vários equívocos, sobre as mulheres brasileiras…Nada além de acertos e elogios! (isso é para pontos de bônus em casa!) Tchau!

rickbreugelmans@hotmail.com

TRIO

Foto enviada pelo Rick do trio Robben, van Persie e Sneijder no início da carreira.