Grande figura humana, um dos companheiros mais queridos por todos os jornalistas e radialistas, Alberto Rodrigues foi entrevistado pelo Jonathas Cotrim para o jornal O Tempo. Uma página inteira de história do nosso futebol, do rádio mineiro e do Cruzeiro principalmente
* “Voz dos cruzeirenses no rádio fala sobre a carreira e momento celesteO “mais vibrante”, Alberto Rodrigues conta em entrevista exclusiva detalhes dos 50 anos de profissão”
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Mais de 50 anos trabalhando com rádio, sendo 38 deles ligados ao Cruzeiro. Alberto Rodrigues, locutor da Rádio Itatiaia, presenciou grandes momentos do clube celeste ao longo da história, com o microfone na mão, detalhando jogadas de craques, que vão desde Tostão a Alex. E tanto tempo de profissão, certamente, rende boas histórias, como a vez em que ele narrou um jogo sem roupa. Esse e outros momentos de sua brilhante carreira são lembrados pelo radialista em entrevista concedida com exclusividade ao Super FC. Também conhecido como o locutor mais vibrante do rádio, Alberto Rodrigues comentou ainda sobre grandes times históricos da Raposa, disse o que ele está achando do atual momento do clube e demonstrou sua confiança no trabalho de Paulo Bento. Para o Vibrante, o treinador português tem tudo para instituir uma nova filosofia de futebol no clube, mas faz a ressalva de que, para dar certo, o time precisa de reforços.
Como você começou a narrar futebol?
Eu falo que eu comecei a narrar futebol desde garoto, narrando jogos de botão. Com jogos de botão, ouvindo as rádios do Rio de Janeiro e de São Paulo, lá em Araxá. Quando eu tinha 16 anos, eu fiz concurso na Rádio Ibiara, de Araxá, foi lá que eu comecei a transmitir jogos de futebol amador. Meu pai era ferroviário, e viemos para Belo Horizonte. Em 1962, eu consegui entrar numa rádio chamada Rádio Minas, que tocava muita música. Abriu concurso para locutor esportivo, e eu passei entre 200 candidatos. Em 1963, a Rádio Itatiaia me chamou. Tive a oportunidade de narrar o primeiro jogo no Mineirão, em 1965, junto com o Waldir Rodrigues. Ele narrou o primeiro tempo, eu narrei o segundo e tive a oportunidade de narrar o primeiro gol do estádio, o gol do Buglê. Em 1973, eu fui para a Inconfidência, e fiquei lá nove anos. Voltei em 1977 para a Itatiaia, mas antes uma passagem curta na Rádio América.
Você chegou a trabalhar como repórter?
Na Rádio Inconfidência a gente narrava e fazia reportagem. Eu cheguei a entrevistar o Pelé, na década de 60. Mas fui mais narrador.
Quando você começou a ficar por conta do Cruzeiro?
Foi a partir de 1978, quando o Vilibaldo Alves foi para outra rádio aqui de BH, que não me lembro o nome, e o Willy Gonser, que estava no Rio de Janeiro, foi contratado. O Oswaldo Faria e o Emanuel Carneiro decidiram me colocar no Cruzeiro, porque eu já tinha uma preferência pelo Cruzeiro, e o Willy Gonser ficou com o Atlético. No segundo ano dele, começamos a dividir, e foi um casamento que deu certo. E a audiência da rádio aumentou muito com isso. O torcedor do Cruzeiro tinha o seu narrador e o do Atlético tinha o seu.
Você é cruzeirense?
Hoje eu sou cruzeirense. Sempre tive aquela simpatia pelo Cruzeiro quando morava em Araxá. Quando vinha a Belo Horizonte, gostava de ver os jogos, e passei a ser torcedor do Cruzeiro. Mas, lógico, sou profissional quando vou cobrir jogos com o Atlético. Você é a emissora que você trabalha. Mas eu sou Cruzeiro, aprecio muito mais a Raposa.
Como é a sua relação com a torcida?
Quando as pessoas me reconhecem, a gente tira fotos. Todo dia sempre aparece alguém perguntando se eu sou o Alberto. O pessoal não me conhece de rosto, só quando apareço em algum programa de futebol ou quando eu fui candidato a vereador aqui em BH e a gente fazia muita campanha na rua. Mas a recíproca é muito boa. Inclusive, até os torcedores do Atlético me cumprimentam, com respeito, e sempre dizem “sou atlético, mas te admiro”.
Quando e como surgiu o apelido de Vibrante?
Foi o Oswaldo Faria. Nós estávamos indo de carro para o Rio de Janeiro, em 1964, para fazer Cruzeiro e Fluminense. Na ida, o Oswaldo estava assim: “Alberto, seu apelido vai ser o mais vibrante”. Porque eu narrava muito rápido. Então pegou o apelido, e até hoje o pessoal me chama assim. Até meu filho, o Dadá Maravilha deu o apelido de Vibrantinho pra ele.
Nesses anos todos de jornadas esportivas, certamente você deve ter muitas boas histórias.
Se for contar a época que trabalhei em Araxá, dá mais de 55 anos de rádio. Uma vez o Cruzeiro fez uma excursão, e o Ronaldinho (Ronaldo Fenômeno) tinha 17, e fomos juntos para Portugal. O preparador físico do Cruzeiro falou para eu dar uns conselhos ao Ronaldo. Eu sabia que ele não gostava de treinar. Aí eu falei com ele: “Ronaldo, sei que você precisa treinar, rapaz! É muito importante você treinar a parte física e técnica, que você vai ser um dos maiores jogadores do mundo. Tenho quase certeza disso”. Ele começou a rir, disse que ia treinar. Foi legal, porque eu previ que ele ia ser o melhor do mundo.
E sobre coberturas esportivas?
A gente estava cobrindo a Copa do Mundo do México, em 1986. Naquela época, abria-se a jornada do hotel, e o jogo seria no estádio Azteca. Acho que era Iugoslávia e México, e seria narrado pelo Willy Gonser. O Oswaldo Faria abriu a jornada e passou para o Willy, mas ele começou a narrar e a linha caiu. Aí o Oswaldo mandou me chamar, mas eu estava tomando banho. Eu, molhado, enrolado nas toalhas, pelado, narrei o jogo pela televisão durante uns 15 minutos, sem conhecer ninguém. Narrei até a linha voltar e o Willy poder narrar novamente. Fui o “narrador pelado”. São muitas histórias que não cabem numa página de jornal.
Qual foi o melhor time ou melhor época que você viu da Raposa?
Foram várias épocas, umas quatro ou cinco. Na década de 60 tinha aquele timaço, com Tostão, Piazza, Dirceu, Raul. Depois veio o Cruzeiro da Libertadores de 1976. Tem o time de 2003, comandando pelo Luxemburgo, com o grande craque Alex, que eu apelidei de Talento Azul. Antes disso, na década de 90, em 1991 e 1992, o Cruzeiro foi campeão duas vezes da Supercopa Libertadores, que era um torneio que tinha muito mais valor que a Libertadores, porque só os campeões da América participavam. E o Cruzeiro ganhou o título de forma extraordinária. Agora, recentemente, 2013/2014. Montaram um time muito vencedor, campeão também.
Quem foi o melhor jogador que você viu em campo?
O maior jogador que eu vi, pela sua inteligência, pela maneira de jogar, foi o Tostão. Era um jogador muito inteligente, tinha uma visão extraordinária de todos os lados do campo, jogava de cabeça erguida, fazia jogadas.
E o que você acha do atual momento da Raposa?
O momento não é dos melhores. Acho que o Bento vai dar certo, vai trazer uma nova filosofia para o time, que realmente está carente, depois dessas mudanças de técnicos, desde a saída do Mano Menezes. O Cruzeiro perdeu muito tempo para fazer um time para o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Mas agora tudo indica que a Raposa terá uma nova filosofia. Porém precisa melhorar também o elenco, com valores mais experientes, talvez uns três ou quatro jogadores para tentar almejar o título brasileiro. Sem esses jogadores, acho difícil o Bento formar um time competitivo neste ano. Mas tudo indica que a diretoria vai trazer novos jogadores.
Qual recado você deixa para a torcida cruzeirense?
O recado é para confiar na atual comissão técnica, no Paulo Bento, que vem com uma nova filosofia, muito mais moderna do que a brasileira. E tem que ter paciência. Evidentemente, os resultados podem não vir de imediato. Depois que passar algum tempo, aí pode vir a cobrança.
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