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A gratidão do ponteiro Leal ao Sada/Cruzeiro, o prazer de morar em Belo Horizonte e as perseguições enfrentadas por trocar Cuba por Minas Gerais

Leal, em foto do jornal O Tempo

* * *

A Folha de S. Paulo enviou o repórter Paulo Roberto Conde a Belo Horizonte para que ele conversasse com o cubano que encantou o país com o vôlei que joga. Depoimento emocionante, que extrapola o esporte:

* “LEAL, 28”

Após naturalização, craque cubano do vôlei sonha com Tóquio-2020

RESUMO Desde que chegou ao Brasil, em 2012, após deixar Cuba, o ponteiro Leal se transformou em um dos melhores jogadores do mundo. Com ele, o Cruzeiro sagrou-se tri mundial.

Os laços com o novo país despertaram em Leal o desejo de obter a cidadania brasileira, que saiu no fim do ano passado, e defender a seleção em Tóquio-2020.

Tenho tatuada no antebraço esquerdo uma frase de Che Guevara: “No se vive celebrando victorias, sino superando derrotas”. Ela tem muito a ver com minha trajetória. Eu lutei muito. Ninguém sabe tudo o que passei.

Tomei a decisão de deixar Cuba de 2010 para 2011, após o Mundial da Itália, em que fomos vice-campeões, derrotados pelo Brasil na final. Voltamos a Cuba com a ideia de que a coisa ia melhorar para os jogadores em termos financeiros e de estrutura, mas não aconteceu nada.

Na época, eu tinha 20 anos e era responsável por sustentar toda a família. Tinha um filho, de outro relacionamento, o que tornou a situação difícil. Ainda assim, decidi deixar a seleção cubana.

Quando você deixa a equipe nacional, impõem limites em muitas coisas enquanto se cumpre um hiato de dois anos até obter liberação para jogar no exterior. Em Cuba, há controle para tudo.

Para se ter uma ideia, um treinador chamou jogadores que haviam renegado a seleção cubana para formar um time, do qual passei a fazer parte. Eram ótimos atletas.

Em uma competição, essa nossa equipe ganhou da própria seleção nacional. No outro dia, não nos deixaram mais treinar. Não treinei mais até chegar ao Brasil. Tive de ficar em casa um ano e meio quase sem fazer atividades.

Fiz contato com o Cruzeiro meses antes de voltar às quadras. Acertamos a transferência e o clube começou a mandar um dinheiro para mim, ainda em Cuba. Com isso, pude ajudar minha família e comprar coisas de que precisava para ir para o Brasil. Comecei a ver horizonte.

Cheguei a Belo Horizonte em 3 de agosto de 2012, sem qualquer ritmo de jogo. Estava com 118 kg, enquanto meu normal é 100 kg. Vim sem a minha mulher, Sheyla, que estava grávida de três meses.

Eu ligava para Cuba o tempo todo. No dia 31 de agosto foi meu aniversário, e passei sozinho pela primeira vez. Tive de pôr na cabeça que estava aqui por minha família. Era a única opção.

Eu tinha de ser o melhor jogador. Falei para o Marcelo [Mendez, técnico do Cruzeiro] no primeiro dia de apresentação que iria emagrecer. Pedi que ele me treinasse para ser o melhor do mundo.

Marcelo me transformou no jogador que sou agora. É meu pai e me ensinou muito. Acho que sou um dos principais jogadores em atividade. Mas, para confirmar isso, falta jogar uma Olimpíada. Quero voltar a jogar em seleção.

Em uma seleção, o sabor de uma vitória é diferente. Já que não consigo mais fazer por Cuba, busquei a nacionalidade para atuar pelo Brasil.

Espero representar a seleção brasileira nos Jogos de Tóquio. Tenho uma bandeira cubana tatuada no punho direito, mas carrego muito de Brasil no meu sangue. Aqui, aprendi a ser homem, a ser pai, a ser uma pessoa de bem.

Sheyla e meu filho mais novo, Ian Carlos, 4, estão aqui. Eu me sinto muito bem em Belo Horizonte, e confesso que nunca imaginei que faria tanta história no Cruzeiro, que virou minha família e é onde eu me sinto em casa.

Quando comecei a pensar em me tornar brasileiro, falei com Bernardinho antes de correr atrás dos papéis.

Aquela conversa com ele foi a porta de entrada. Ele me disse que eu só tinha de virar brasileiro, e que gostaria de contar comigo. É difícil para um estrangeiro chegar à seleção e jogar, ainda mais um cubano, por toda a rivalidade entre Brasil e Cuba.

Mas outros jogadores me incentivaram. Lucão me escreveu no ano passado, quando ele estava no Modena, perguntando se eu queria jogar mesmo na seleção. Disse que sim. Ele ofereceu apoio.

Na Olimpíada, o Brasil se superou, jogou muito bem a semifinal e a final após começar mal. Foi merecido. Quero fazer parte desse grupo.


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Comentários:
5
  • Selma disse:

    Parabéns Cruzeiro que acreditou no homem e atleta. Ajudou financeiramente enquanto estava em Cuba. Agora colhe os frutos com esse timaço.

  • Rodrigo disse:

    Lembro do Joel Despaigne jogando: https://www.youtube.com/watch?v=ZfIUyt5QjrQ
    Cuba sempre teve e terá os melhores jogadores e jogadoras de voleibol do mundo.
    Leal é um excelente jogador e será muito bem vindo à seleção brasileira.
    Assim como temos vários jogadores de futebol de campo e de futsal, em várias seleções mundo a fora, temos que abrir espaço para os grandes jogadores que desejam e têm potencial de envergarem a camisa das nossas seleções.
    Cuba tem excelentes atletas. Tomara um dia, o Brasil consiga chegar pelo menos perto do nível dos atletas olímpicos cubanos.

  • Wéverton Soares disse:

    Será que o Bernardinho irá convocá-lo? Ou terá uma desculpa por não fazê-la? O tempo dirá. Leal joga como titular em qualquer seleção do mundo.

  • Ivan junior disse:

    Uai, mas nao tm gente que insiste em dizer que cuba e paraiso na terra? Que fidel e guevara sao herois da democracia? Entao porque tem tanto cubano fugindo de la? Nao entendo.

  • Marcão de Varginha disse:

    Que história de vida desse guerreiro… boa sorte, Leal!
    – Parabéns ao Fábio, que finalmente foi convocado para a seleção principal… Ops! Esse Fábio é do genuinamente mineiro, um clube que não possui dirigente que assumiu espontaneamente ter comprado arbitragens, não é sócio da CBF, nem da comissão de arbitragem e muito menos do STJD. Nada como ter a imagem limpa, cristalina, pura… longe do odor da fetidão de ter comprado arbitragens!
    – #benecyeternomito