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Juca Kfouri lança “Confesso que perdi”, dia 17 de outubro, às 19 horas, na Leitura do Shopping Pátio Savassi

Foto: Uol

Demorou, mas finalmente o grande jornalista põe no mercado o seu livro de memórias. Anteontem foi em São Paulo, dia 17, em Beagá. Imperdível:

* “Juca narra suas vitórias e derrotas, contando episódios saborosos, frustrações e vitórias na imprensa, na política e no futebol”.

JUCA

Informações, O Globo – Editora Companhia das Letras:

“Juca Kfouri tinha 6 anos quando seus pais o enviaram para a casa de familiares em Ilhéus, na Bahia, para que o garoto tratasse uma tuberculose ganglionar. Após alguns dias na cidade, a febre tinha passado e seu tio Pacheco prometeu levá-lo num jogo que o Fluminense faria na cidade vizinha de Itabuna. A febre voltou, Juca perdeu o jogo, mas o tio preparou uma surpresa: levou o goleiro Castilho, os pontas Escurinho e Telê Santana, e todo o time tricolor, para uma visita ao garoto adoentado.

Quase três décadas depois, Juca recebeu Castilho e Telê, de quem se tornou amigo, num programa de TV que apresentava. Em certo momento, perguntou a Castilho se era comum, na sua época de jogador, visitar crianças doentes em hospitais ou casas de família. O ex-goleiro disse que em casa de família lembrava apenas de uma ocasião, em que o time visitou um menino paulista na Bahia, que ele acreditava ter morrido “porque estava muito fraquinho”. Ali mesmo, no ar, Juca revelou que o garoto era ele, e Castilho, de olhos marejados, lhe deu um abraço emocionado.

A história é apenas uma entre muitos causos dignos de um “Forrest Gump”, como o próprio jornalista define no seu livro de memórias “Confesso que perdi” (Companhia das Letras). Os episódios narrados, inclusive, parecem desdizer o título. Juca conta que seu filho mais velho, o também jornalista André, e sua mulher detestaram a escolha — que faz referência às memórias do poeta chileno Pablo Neruda, “Confesso que vivi”. Mas ele defende.

— Sem nenhuma demagogia, é claro que profissionalmente eu não perdi, na minha vida familiar eu não perdi. Mas aos 17 anos eu estava envolvido na resistência à ditadura. Minha carreira como jornalista se caracteriza muito pela minha luta pela moralização do futebol brasileiro. A minha geração não vai deixar o Brasil que eu sonhei para os meus filhos e netos. A desgraça dos cartolas (como a prisão de Carlos Arthur Nuzman, no início deste mês) não faz a minha alegria — diz Juca.

A relação do jornalista, na juventude, com grupos armados que lutaram contra a ditadura é uma das revelações do livro. Ele conta que sua formação política se deu através de dois primos mais velhos, os irmãos João e Maria Lygia Quartim de Moraes. João retornou da França após concluir seus estudos em Filosofia e ingressou na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), de Carlos Lamarca. Já Maria Lygia, ao lado do marido Norberto Nehring, foi para a Ação Libertadora Nacional (ALN), liderada por Carlos Marighella.

— No início da ditadura, minha formação política era absolutamente incipiente. Era muito mais uma indignação, por acreditar que teria eleição presidencial em 1965 para eleger, provavelmente, Juscelino Kubitschek, e aí veio o golpe. Eu tomei essa indignação dos meus primos mais velhos, pela convivência diária. Na faculdade de Ciências Sociais, na USP, foi que comecei a ter um respaldo ideológico para as minhas ideias — diz.

INDIGNAÇÃO COMO COMBUSTÍVEL

Ele lembra que fez serviços de apoio para a ALN, mas acabou dispensado de tarefas mais importantes — e consequentemente da vida clandestina — pelo “Velho”, codinome de Joaquim Câmara Ferreira, braço-direito de Marighella.

— Eu nunca peguei em armas. Eu dirigia para o “Velho”, ajudava na confecção de documentação falsa — conta.

Essa indignação — herança também do pai, o procurador de justiça Carlos — foi combustível da sua carreira como jornalista. À frente da revista “Placar”, que marcou época na década de 1980, ele pode dirigir seu inconformismo para um assunto que até então não recebia o mesmo tratamento da política e da economia. Um dos primeiros grandes furos da publicação foi a revelação sobre a máfia que agia na Loteria Esportiva, uma febre nacional. A reportagem enterrou o sistema de apostas comandado pela Caixa Econômica. Os bastidores são lembrados em detalhes no livro. Juca aponta as principais contribuições da “Placar”, na sua opinião.

— Primeiro, foi um marco de veículo que fez jornalismo investigativo no esporte. Isso é o mais importante. Segundo, fez um jornalismo esportivo preocupado com a qualidade do texto. E hoje não mais, mas já aconteceu muito de alguém me parar na rua e dizer: “Meu filho começou a ler pela ‘Placar’”, de gente que virou jornalista por causa da revista. Isso é muito legal.

Um dos episódios de que Juca se arrepende é sua aproximação com Pelé. Os dois se conheceram quando o jornalista foi entrevistá-lo para a “Playboy”, em 1993. Após duas tentativas frustradas, o Rei do futebol topou recebê-lo em Cuenca, no Equador, onde estava para comentar a Copa América para a TV Globo. Na entrevista, Pelé deu várias declarações fortes e acusou a CBF de corrupção. Anos depois, foi na casa do jornalista que o presidente Fernando Henrique Cardoso fez o convite para que Pelé assumisse o Ministério do Esporte, depois de o próprio Juca ter recusado a Secretaria de Desportos.

— A minha aproximação com o Pelé foi exagerada. Poderia ter ficado distante e não fiquei. Ajudei o Fernando Henrique a fazer dele ministro. Hoje não faria isso — afirma. — O FH me convidou para ser secretário, falou: “Você está berrando a vida inteira e não quer?”. Eu ia ser massacrado. O único que não seria era o Pelé.

Aos 67 anos, Juca confessa que não é mais tão otimista com o futuro, mas não perde a esperança.

— Se você me fizesse essa pergunta em 1990, eu te diria que em 2000 a gente estaria vivendo num país muito melhor, o futebol brasileiro teria varrido essa gente, porque é bom demais para ficar na mão deles. Estamos em 2017 e não tenho coragem de dizer que em 2027 isso vai acontecer. Isso não faz que eu desanime ou perca a esperança. Não tenho outra profissão. Vou morrer jornalista”.

* Livraria Leitura

Shopping Pátio Savassi
Av. do Contorno, 6061 – Belo Horizonte


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