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A hipócrita campanha para que o atacante Robinho não seja contratado por nenhum clube

Não tenho a menor compaixão com bandido, de nenhuma espécie. Estuprador então, deveria ter tratamento pior que as leis atuais preveem. Condenado a nove anos na Itália, Robinho (ex-Santos, Atlético, Milan, Real Madri, Manchester City) garante que não participou do estupro coletivo do qual é acusado e pelo qual foi julgado em primeira instância. Recorreu. É o rito judicial, em que pese, por mais absurdo que pareça, caso seja condenado em última instância lá, não poderá ser extraditado, já que a nossa Constituição não permite extradição de brasileiro nato.

O que me incomoda é o tratamento que o Robinho está recebendo por vários setores, inclusive da imprensa. Ouvi esta semana um colega de rádio do Rio, fazendo discurso que fazia lembrar os inquisidores do Século XV, Tomás de Torquemada, principalmente. O sujeito xingava até o São Paulo por estar negociando com Robinho e defende que nenhum clube deveria ao menos conversar com o jogador, cuja carreira já está perto do fim, em função da idade. Ou seja: acusado, não pode exercer a profissão dele, que tem data de validade.

Uma hipocrisia típica do Brasil, que assiste pela TV e redes sociais políticos circulando com malas de dinheiro roubado impunemente e seus mandatos preservados.

Abrimos os jornais e lemos, hoje, por exemplo: “Corregedor do CNJ analisa caso em que filhos advogam – O corregedor nacional de Justiça, João Otávio de Noronha, não se declarou impedido e relata no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) uma representação feita por um cliente de seus filhos.

Os advogados Anna Carolina e Otavio Noronha, filhos do corregedor, defendem o prefeito de Bacabal (MA), José Vieira Lins (PP), que tenta reverter condenação do STJ (Superior Tribunal de Justiça), de outubro, por improbidade administrativa, dano ao erário público e, como consequência, a suspensão de direitos políticos por três anos…”

Ou, abrimos jornais do ano passado e nos deparamos com supremos absurdos como este: “Padrinho de filha de Barata, Gilmar Mendes não se considera impedido de julgar empresário de ônibus – Segundo assessoria do ministro, não houve pedido formal sobre impedimento dele – O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), informou na quinta-feira, por meio de sua assessoria, que não sentiu necessidade de se declarar suspeito para julgar o habeas corpus para libertar o empresário de ônibus Jacob Barata Filho e o ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), Lélis Teixeira.

Em 2013, o ministro e a mulher, Guiomar Mendes, foram padrinhos de casamento da filha de Jacob Barata Filho com um sobrinho de Guiomar. Segundo a assessoria de imprensa do ministro, o casamento “não durou nem seis meses”. Pelas regras de suspeição, um juiz não pode atuar em processo por motivo de foro íntimo – que poderia ser, por exemplo, por amizade ou inimizade em relação a uma das partes envolvidas.

Ou, esta, do início do ano passado: “Rio – Cinco dos sete conselheiros e um ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) foram presos pela Polícia Federal na Operação Quinto do Ouro, que investiga desvios para favorecer integrantes do órgão e da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). José Gomes Graciosa, Domingos Brazão, Marco Antônio Alencar e José Maurício Nolasco foram transferidos para o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu….”

Se preferirem, temos este comentário, hoje, no blog do Orion Teixeira: “Do ponto de vista do estado democrático, está garantido o direito de defesa e vale para qualquer cidadão, mas do ponto de vista político e da administração pública, nem o chefe do DETRAN de Minas, delegado César Augusto Monteiro Alves Júnior, nem a ministra nomeada para o Trabalho, Cristiane Brasil, são cidadãos comuns. Cristiane foi nomeada ministra do trabalho e César Augusto para a chefia do Departamento de trânsito de Minas. Condenada por violar direitos trabalhistas de seus motoristas, ela terá que conduzir a reforma trabalhista em tempos de terceirização e que é contestada pela própria justiça trabalhista; e ele, que teve a carteira recolhida por somar 120 pontos em infrações, terá que fiscalizar o trânsito e punir os infratores. É um desgaste imenso e desnecessário para ambos os governos…”

Por falar em estupro, que tal, também essa, de hoje, em toda a imprensa nacional? “caso Cristiane Brasil assuma a vaga de ministra do Trabalho, sua vaga na Câmara será ocupada por Nelson Nahim (PSD-RJ), condenado em 2016, a 12 anos de prisão por estupro de vulnerável e foi preso duas vezes por exploração sexual de menores…”

Mas, na visão de muitos, Robinho não pode nem exercer a profissão dele, mesmo sem condenação definitiva.

E vida que segue!


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Comentários:
31
  • Fátima Jussara Lima disse:

    O caso de Robinho é nojento, principalmente, porque o mundo do futebol é nojento, em todos os sentidos, aqui, na Europa, no mundo todo. Tem de tudi, corrupção, machismo exacerbado, abusos sexuais, homofobia, racismo. Quantos que vieram à tonace tantos outros que conseguiram abafar. Wanderley Luxemburgo, Cuca, Cristiano Ronaldo, etc. É um mundo podre.

  • Lucy disse:

    Já dei aqui a minha opinião amplamente sobre esse assunto: Quem ele é, o que já fez no passado, não importa, devemos avaliar esse caso concreto…

    Vocês sabiam que a suposta vítima terá direito à (dos 5 homens presente só ele pode pagar) milhares de Euros (pediu 300mil a juíza arbitrou 60) caso a sentença transite em julgado? E que a mesma só fez a denúncia meses depois o suposto acontecimento? Teria ela sido “orientada”? Que Robinho não foi citado na denúncia? Diante dos fatos que se tem conhecimento essa condenação tem muito mais a ver com a revelia (ausência) do réu.

    Renato, consta que ele levou a esposa para casa e voltou sozinho…e que a suposta vítima foi para boate com amigas que conheciam Robinho (ela não conhecia nenhum dos presentes), as amigas foram embora e só ela ficou… Sozinha com homens que acabara de conhecer?! Os cinco foram acusados, mas apenas Robinho e outro amigo, salvo engano também brasileiro, foram condenados.

    Sou Mulher, mas não jogo para a platéia porque também sou mãe, filha, irmã e afins… e se a injustiça fosse com um ente querido meu, ou seu?

    • Renato César disse:

      Sem acesso aos autos (se tivesse também não entenderia), apenas com o que foi veículado na imprensa, disseram que a esposa dele estava na boate. E parece que somente ele, com muito dinheiro, e mais um é que foram condenados.

      Também a denúncia ocorreu muito tempo depois, quando nem imagens mais das câmeras de segurança da boate provavelmente conseguiram.

      Meu sentimento é de que há algo estranho nesta história. De toda forma, cabe à justiça seguir seu rito. Descubram quem mente e punam exemplarmente.

  • Claytinho do Nova Vista - BH disse:

    Dos detalhes técnicos eu tenho que me abster, até porque não tenho conhecimento ou muito menos formação jurídica para tal.
    Mas quanto a hipocrisia, tudo normal… Afinal isso aqui é Brasil, o País da hipocrisia. Onde as opiniões mudam instantaneamente, de acordo com o interesse ou conveniências…
    Só penso que, pelo pouco que eu entendo, ele tem todo direito de trabalhar sim, seja no clube que for, até esgotarem todas as instâncias.

  • Lucas H. Nobre disse:

    O grande problema do Brasil, é que a justiça tem cor, símbolo e o vale quanto pesa. Dente por dente, olho por olho.

  • Julio Avila (Mariana) disse:

    Caso sinistro demais viu! Robinho foi acusado duas vezes! Os clubes pensam duas vezes antes de contratar o ronho porque o nome do clube que ele estiver vai estar sempre ligado a esse fato e convenhamos não é nada bom,ou alguém aqui que tem uma empresa ou se tivesse iria contratar um empregado com processo na justiça por estrupo sendo ainda pela segunda vez? eu não contrataria seja famoso ou desconhecido!

  • Alisson Sol disse:

    Não posso contestar os casos específicos de radialista A ou jornalista B. Mas, no geral, creio que só há hipocrisia se a pessoa defende que o Robinho não seja contratado mas defende, por exemplo, a contratação por empresa particular de ex-diretor da Petrobrás que comprovadamente roubou. Do contrário, voltamos ao problema eterno do Brasil: quem tem dinheiro fica impune, mesmo que o dinheiro seja resultado de ações errados, ou o erro só seja possível pelo dinheiro. Para os que defendem punição e cadeia para Maluf, Perrellas, Aécio, Lula, ou outros investigados e muitos já condenados acho consistente que se pregue que Robinho não continue a andar por aí impune, nem que seja no bolso. Veja que há até os que querem o mesmo para o Bruno, que já “cumpriu seu débito com a justiça” (enormes aspas!).

    O caso do Robinho é especialmente grave, pois ele já havia sido acusado de algo semelhante na Inglaterra, e por lá houve um “abafa”, o que só foi possível por ter dinheiro. É importante notar ainda o seguinte: o impacto que este caso do Robinho tem para futuros jogadores brasileiros que passem por situações semelhantes no exterior, inclusive e principalmente os que forem acusados injustamente. Talvez no Brasil, pela tradicional cultura pseudo-machista do país, não esteja havendo uma compreensão do que está ocorrendo atualmente nos EUA e Europa em relação a estes “avanços sexuais”, principalmente aqueles que só são possíveis devido a dinheiro e/ou poder. Os jogadores brasileiros saem do país e ainda acham que em outros países se a mulher aceitar umas fotos e uns “beijinhos”, tem de aceitar tudo.

    Robinho já foi condenado em um processo em que teve amplo direito de defesa. Aquela condenação é definitiva. Aquele processo acabou (e olha que durou bastante!). A apelação é outro processo. Infelizmente, o Brasil segue exatamente os princípios do “Direito Romano”, que permite estes infinitos recursos, gerando tais confusões. Mas na maioria dos países, como os EUA, não existe “esperar apelação em liberdade” (obviamente, com exceções). O sujeito sai da decisão do juiz ou juri para a liberdade ou direto para a cadeia, e lá espera o resultado do “processo de apelação/recurso”. Que tanto é outro processo que geralmente vai ter outro outra corte, possivelmente outro juri, etc. Creio que mesmo na Itália, se ele lá estivesse, teria sido preso imediatamente após a condenação, como foi no caso da americana Amanda Knox, que inclusive ganhou o processo de apelação e foi solta. Mas ficou presa durante todo aquele processo.

  • Frederico disse:

    Chico nos tempos atuais é necessário desenhar…
    Vejo o futuro que textos serão ilustrados tal qual livros de criança. O texto fala claramente do tratamento do caso Robinho e outros nem tão comentados e tão graves quanto.
    O título já diz sobre tal hipocrisia e não sobre culpa ou inocência do jogador.
    Eu mesmo me sinto cansado de escrever coisas para ser exigida a tradução… infelizmente o tempo passa e as coisas pioram.
    Ler não é formar as palavras correndo o olho.

  • Luiz Figueiredo disse:

    Chico, boa tarde.
    Você primeiro dá a notícia “Robinho condenado” e em seguida argumenta “acusado não pode trabalhar”? Bom, fica claro que não apenas uma simples acusação. Trata-se de uma condenação. Definitiva? Mas ainda assim uma condenação? Proibido ele não é de ser contratado, nem mesmo será se for condenado em definitivo, pq ele é brasileiro. Mas um time ao contratar o Robinho, está, de fato, contratando um homem condenado por estupro. Qualquer um pode contratar, mas não pode esquecer que será lembrado por isso. E lembre-se Condenado, não apenas acusado.

  • William Santos disse:

    Você tem , como de costume caro Chico, toda razão.

  • Renato César disse:

    Belo desabafo, Chico! De fato, o cidadão comum só pode ser condenado quando transita em julgado a sentença. Ele diz que não participou e está se defendendo. E eu sei muito bem que, na justiça, prevalece o rito inclusive sobre a própria justiça de fato.

    Já o agente público não é um cidadão comum. Cabe a ele também o Direito Administrativo. Para o que é público, não basta ser inocente e honesto, tem que parecer ser também. Uma pessoa que conscientemente descumpriu a legislação trabalhista, não tem envergadura moral para assumir o Ministério do Trabalho.

    Temos que parar de brincar neste país e levar as coisas a sério. Temos todas as ferramentas para transformar isto aqui numa verdadeira potência, mas nos falta a mão de obra!

    • Renato César disse:

      Tem um detalhe nesta história que me deixa muito curioso. A mulher disse que o conheceu numa festa onde estavam cinco amigos dele mais a esposa. E acho que só ele e mais um foram acusados de estupro.

      O que é curioso é o seguinte: a mulher dele, que estava no local, não viu o estupro coletivo? De toda forma, que os fatos sejam apurados e que os verdadeiros culpados paguem pelo que fizeram.

  • Frederico Dantas disse:

    Também acho que um réu só se torna condenado em definitivo após esgotadas todas as instâncias jurídicas a que ele pode recorrer. E se cabe recurso, cabe dúvida. Se cabe dúvida, não cabe cumprimento de pena, já que em direito, principalmente criminal, in dubio pro réu.

    Inclusive o Brasil criou recentemente um atentado jurídico para dar satisfação à sociedade principalmente quanto aos inúmeros casos de crime envolvendo políticos: a possibilidade de prisão após a condenação em segunda instância. Se cabe recurso como alguém pode começar a cumprir a pena? E se for absolvido na instância superior? Cumpriu pena mas é inocente?

    No caso específico do Robinho entendo que alguns clubes possam não querer contratar o Robinho por uma questão de imagem. O contratante só contrata quem quiser. Não precisa justificar. Mas é de ele for condenado em última instância na Itália? Será um homem livre no Brasil, claro. Ainda assim seria normal que pudesse exercer sua função livremente? Legalmente sei que sim, mas…

  • DUDU GALOMAIO BH disse:

    Esse caso deve ser analisado pelos fatos, ocorrências… e não por motivos inerentes. Há aqueles que queriam ver o jogador preso apenas pela camisa que vestia, entretanto, agora que já não veste mais, tanto faz. Os biltres abundam.

  • Carlos Henrique disse:

    Prende que o Gilmar solta… como pode, até na internet ja corre assinaturas contra o ministro
    Isos é o Brasil
    Vi a entrevista da Ministra Carmem Lucia
    ao Pedro Bial
    falando entre outras coisas da sua origem mineira
    muito boa entrevista
    e dizia que em minas as pessoas costumam dizer como diz o outro…
    o outro nao pode ser processado …..
    coisa de mineiro mesmo

  • Julio Cesar disse:

    Certissimo Chico ! E agora, tem deputada enrolada na lava jato e com desrespeito a leis trabalhistas querendo ser ministra do trabalho!! Como disse Clovis Rossi: “O Brasil consegue levar a esculhambação ao paroxismo”.Tem muita , pra usar seu termo, cabeça cozida por ai. Ate então quem sabia que ele estava sendo julgado la? Robinho precisaria mesmo forçar relação com alguma mulher e estupra-la? Sera que a armação foi bem feita? Alguem nunca….Bom, me lembrei do caso da Monica Lewinski: a prova ficou na roupa, e o Bill caiu no noticiario !

  • Eustáquio Barbosa disse:

    Parabéns pelos comentários Chico.

  • Thales Rosa disse:

    Até Jesus, que era inocente, foi julgado, condenado, e cumpriu sua pena pq Robinho não pode cumprir?
    Agora está aí rico e não pode nem sair do Brasil. Nunca mais.

  • Thales Rosa disse:

    Chico não entendi sua posição, vc quer q Robinho faça parte dos impunes Oi quer todos impunes passem a ser punidos como Robinho?
    Veja bem ele é condenado em um.pais de primeiro mundo, onde teoricamente ele teve chance de defesa e a um julgamento justo.. ou seja é muito provável q seja real o.crime..
    Agora ele.precisa ser homem e cumprir. Pena pelo crime q foi julgado e condenado.
    Depois da pena cumprida eu concordo contigo q o cara estará livre para voltar a.sociedade.
    Não temos q compactuar com crimes de jogadores somente pq outros setores.da.sociedade tb são corruptos e criminosos.
    Temos q combater todo tipo de crime. Seja de políticos de jogadores, juízes de direito..
    Todo crime deve ser punido.

    • jorgemoreira disse:

      Eu nunca serei a favor de qualquer crime e tambem de qualquer abuso, o caso Robinho esta sendo julgado pela justiça Italiana, caso ele seje condenado quem cumpra dentro dos rigores da lei, assim como o senador que conseguil o arquivamento do caso helicoptero, ele deveria ao invés de conseguir o arquivamento não usar de manobras para o arquivamento do caso, Eu não defendo ninguem deste que seje julgado e condenado, eu condeno arquivamento de………………..

    • jorgemoreira disse:

      Cobre do senador eleito por voçê e os seus pares o desarquivamento do caso helicoptero, transporte de drogas é crime, que o tal senador mandar desarquivar o caso,mande ele provar a inoscencia dele,

    • Chico Maia disse:

      Caro Thales,

      sugiro que leia de novo o que eu escrevi.

      Leitura mesmo, do princípio ao fim!

      Abraço,

      CM

  • Pedro disse:

    Os erros nos outros casos e no lamaçal que se tornou a política/judiciário brasileiro não justificam a questão do Robinho.
    Ele não é acusado, foi CONDENADO pela justiça Italiana, só não está preso pela cláusula de não-extradição da justiça brasileira.

    Quando ele apareceu em jornais do mundo inteiro como condenado por estupro coletivo, ele estava usando a camisa do Galo, um dano incalculável a imagem do clube.

    Interessante ver como aparecem diversas pessoas para defender o “direito” de um cara que ganha 800 mil por mês, mas não vemos ninguém perguntando o que aconteceu com a moça que foi estuprada por diversos caras.

  • José Eduardo Barata disse:

    Em todo o mundo , quando há fatos que apontam para
    o delito de um agente público , ele é afastado das funções .
    No Brasil , assim que detectado qualquer problema com esse
    tipo de gente , correm para abrigá-lo com o foro privilegiado e
    protegê-lo da Justiça.