Blog do Chico Maia

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É do gaúcho Fabrício Carpinejar, uma das mais belas homenagens a Minas e a nós, mineiros

Ainda não tive a honra de conhecê-lo pessoalmente, mas já já acontece, numa esquina, num boteco ou algum evento na cidade. É amigo de um outro grande artista das letras e das palavras, o gente ótima, cearense Xico Sá, que viria a Belo Horizonte para o casamento dele e acabou dando bolo. Fabrício Carpinejar é uma das estrelas da nova safra de escritores do país. Nascido em Caxias do Sul, casou-se em Beagá e gostou tanto que resolveu morar aqui. Em novembro estreou programa na Rádio Itatiaia. Em dezembro o Estado de Minas publicou no caderno de turismo uma definição dele do mineiro, em homenagem aos 120 anos da nossa capital. No dia dois de janeiro, aniversário da minha mãe, Terezinha, ouvi o Saulo Laranjeira interpretando o texto na Rádio CBN e arrepiei.

O Carpinejar é danado e ouso dizer que já podemos juntá-lo a Guimarães Rosa, Drumond, Ferrnando Sabino, Oto Lara Resende, Pedro Nava e tantos outros mineiros da prateleira de cima da literatura e poesia ao falar de Minas e dos mineiros.

Obrigado a ele e repasso aos amigos e amigas do blog o que ele escreveu:

* “BELO BELO”
Feliz 120 Anos Belo Horizonte!
O que aprendi sobre os mineiros casando com uma mineira.

Mineiro gosta de vento. O vento em Belo Horizonte é pássaro sem gaiola, é ave solta.

Mineiro continua acreditando na janela aberta, na brisa do entardecer, que o clima vai refrescar de noite. Não é fã de ar-condicionado. O vento deve estar livre para surpreender as pálpebras, jamais enjaulado em um controle remoto.

Mineiro respeita a chuva, para lavar as mágoas e levar as tristezas embora.

Mineiro gosta de beber, bem mais que o carioca, porque não precisa de praia para ter motivo.

Mineiro gosta de morro, pois a ladeira treina o suspiro. E subindo ele encontra as melhores paisagens.

Todo mineiro, no alto de um prédio, procura a sua casa. E aponta com o orgulho para os filhos: é lá que moramos.

Mineiro gosta de juntar doce com salgado, queijo com goiabada, para se deliciar com os contrastes.

Mineiro gosta de trem, a ponto de construir ferrovias na fala. Não acaba uma conversa, desembarca de uma conversa.

Mineiro gosta da loucura do futebol. Comemora o título duas vezes: uma em nome de seu clube e outra para debochar do adversário.

Mineiro gosta de família. A família não tem fim. Até hoje não conheci a família inteira de minha esposa. Sempre aparece alguém novo nas festas – um primo, um tio, uma tia.

Mineiro gosta de quem cumprimenta olhando nos olhos. As palavras têm queixo erguido e honra.

Mineiro gosta de agradar com comida. Sempre leva um lanche para repartir com os colegas no emprego – um bolo, pãozinho caseiro, um doce de mãe.

Mineiro gosta de sobremesa, para recomeçar o almoço.

Mineiro gosta de expressões compridas, para estalar a língua no céu da boca.

Mineiro gosta de namorar. Quando o casamento dá certo ele chama de namoro. Quando o casamento dá errado ele chama de casamento mesmo.

Mineiro gosta de dizer tudo joia, vive brilhando os olhos em sua joalheria de lembranças.

Mineiro gosta da benção de pessoas mais velhas.

Mineiro gosta de trânsito, de ver as pessoas passando das janelas dos carros e das varandas dos prédios.

Mineiro gosta de praças, e praças que tenham o coração de um coreto.

Mineiro gosta de atravessar o silêncio estranho das avenidas, no retorno das festas.

Mineiro gosta de tirar os sapatos para longe quando chega em casa – os sapatos são cachorros dormindo debaixo dos móveis.

Mineiro gosta de emendar programas, juntar saídas, prolongar passeios, para criar saudade do lar.

Mineiro gosta de comemorar aniversário por vários dias. Se é para envelhecer, que seja com vontade.

Mineiro gosta de velório, para elogiar os seus mortos e recomendá-los aos anjos.

Mineiro gosta de batizado, para reclamar que foi muito longo.

Mineiro gosta de trabalho, para passar adiante um telefone fixo aos amigos. Ele ainda conserva o orgulho do cartão de visita.

Mineiro gosta de piadas inspiradas em fatos reais.

Mineiro gosta de fazer o caminho mais longo para provar que não é preguiçoso. Vai devagar pelo prazer da estrada.

Mineiro gosta de acordar cedo no final de semana, só para contrariar as normas.

Mineiro gosta de sorvete para a língua disputar corrida com o sol.

Mineiro gosta de torresmo, para testar os dentes.

Mineiro gosta de cafezinho passado na hora, para se sentir visita.

Mineiro gosta de se explicar direitinho, nunca é direto.

Mineiro gosta de filmes sem legendas, nada de ironias, sarcasmo, ambiguidades. É ou não é.

Mineiro gosta do choro de uma viola, para homenagear os galos dos quintais da infância.

Mineiro gosta de ir a reunião de condomínio, só para ninguém fazer fofoca dele.

Mineiro gosta de santos, para não sobrecarregar Deus e socializar os pequenos milagres.

Só um mineiro para entender o quanto a capital Belo Horizonte é o interior de Minas.

https://www.facebook.com/carpinejar/posts/1778063002214004

 


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Comentários:
10
  • Nelson Roberto B Junior disse:

    SAN Chico!
    O cara escreve bem e tenho alguns livros dele. As crônicas dele no blog do Carpinejar são ótimas, como por exemplo a crônica “Fabrício saiu do grupo”. Ri muito.
    Morando em BH, logo vestirá o manto alvinegro.

  • J.B.CRUZ disse:

    E uma Resenha de Uma MINAS GERAIS de um Passado Não Muito Distante, e, Que Mesmo Estando ‘Curtindo’ um Presente Atribulado, Intranquilo e Ameaçador; Ainda Carrega Em Suas Entranhas; as Mesmas Sensações do Passado Encantado dos ANOS DOURADOS DE J.K..e os 21 ANOS do REGIME MILITAR, Que Como uma Luva, Conduziu o PAÍS Nos Moldes da Tradicional Família Mineira: HIERARQUIA, DISCIPLINA, TRABALHO e FAMÍLIA….
    PARABÉNS, CHICO MAIA Por Publicar e ao CARPINEJAR Por Encarnar o Espírito do Mineiro…….

    • José Eduardo Barata disse:

      J.B.Cruz ,
      os quatro pilares por você assinalados foram corroídos
      por uma gente que se quer livre para propagar uma tal
      sociedade alternativa , se é que me faço entender .
      Enquanto alguns nomes são ventilados como frutos de
      um regime , outros são convenientemente esquecidos ,
      como Rondon Pacheco e Aureliano , por exemplo .
      Mas é a vida , cada um com sua história pra contar .

      • J.B.CRUZ disse:

        É Isso Aí CARO JOSÉ EDUARDO BARATA…
        Vejo Que Você è meu Contemporâneo, Pois Muito dos Seus Comentários Faz-me Recordar e Viver Intensamente Aqueles Momentos…Boas Lembranças a De RONDON PACHECO E ANTONIO AURELIANO CHAVES DE MENDONÇA (Foi Vice de JOÃO BATISTA DE OLIVEIRA FIGUEIREDO; O ÚLTIMO DOS GENERAIS), Políticos de Uma Época em Que MINAS GERAIS Não se Curvava ao Governo Central….BELO HORIZONTE Tinha a Tranquilidade de Uma Cidade do Interior e Até Paulistas e Cariocas Faziam Piadas e Gozações de B.H. Como a FAZENDA ILUMINADA…
        Até 1.985 Quando os Militares Entregaram o Comando do PAÍS aos Civis e Retornaram á Caserna Com a Consciência do Dever Cumprido; MINAS GERAIS Era Vista Por Todos os Brasileiros como o Estado de onde Saia as Principais tomadas de Posições Quanto ao DESTINO do PAÍS…
        Se Dizia Também que Todas as Resoluções e Planejamentos Políticos Começava Por MINAS….
        Nomes como os de JOSÉ MARIA ALKIMIM, TANCREDO NEVES, AURELIANO CHAVES, MAURÍCIO CAMPOS, ( Para mim o Segundo Melhor PREFEITO de BELO HORIZONTE; Todos sabem Quem foi o Primeiro) e mais Alguns Abnegados Que levavam ao Pé-da-Letra o Compromisso com Sua Cidade, Seu Estado e Seu PAÍS….Tempos Difíceis, Dificuldades e Sofrimentos; Mas, Tranquilos, Felizes, Onde não se faltava o TRABALHO; O ENTRETENIMENTO E DIREITO DE IR E VIR; O LIVRE ARBÍTRIO E O RESPEITO A PROPRIEDADE PRIVADA Eram SAGRADAS…Na Minha Infância,Adolescência e Juventude, Sempre se dizia que o BRASIL era o PAÍS DO FUTURO::Confesso que Depois da Saída dos Militares e e a Entrada Desta Pseuda-Democracia que Vivemos, Desde 1.985; Parece Que Entramos num Redemoinho Que nos Joga de um lado Para Outro sem Perspectiva Alguma de Pelo Menos Voltar a TRANQUILIDADE de OUTRORA…
        Mas, Como DEUS É BRASILEIRO: ESPERO ”NELE” EM QUE DIAS MELHORES VIRÃO !!!…

        • jorgemoreira disse:

          Parabens pelo comentário, eu vivi as duas partes da historia desta cidade, e pra ser sincero eu fui mais feliz nesta cidade quando havia respeito, havia educação, quando se podia começar a trabalhar aos 13 anos quando comecei, do que esta cidade e este estado onde ninguem respeita ningeu,,. e mais politicamente falando eu não consigo me lembrar de um politico no minimo confiavél nestes ultimos 30 anos, vergonha pra este estado que ja teve as maiores lideranças politicas deste lugar chamado outroramente de paiz do futuro, futuro de que? só se for da falencia moral, desculpe por ter me alongado ok

          • J.B.CRUZ disse:

            É Isso Aí JORGE MOREIRA…
            Se Você Mora Em B.H. Há Mais de 30 Deve se Recordar que A Partir de 1.992 Quando o P.T. Assumiu a Prefeitura, Começou Implementar O Orçamento Participativo Onde a “”Comunidade” Escolhia As Obras a Serem Feitas…Isso Acabou a Política de Boa Vizinhança Que Tínhamos Com Os Vereadores que Normalmente Eram Eleitos Pelo os Eleitores do Próprio Bairro e eram Nossos Vizinhos; o que Nos Dava o Direitos cobrar-lhes as Obras…Hoje Não conhecemos nem os vereadores de Nossos Bairros Mais….Essa Ideologia que Tomou Conta do Nosso País Nos Últimos 13 anos, Só Fez Transferir Responsabilidades do Governo, Para as ”Costas” do Povo, Através de Leis Inúteis,fúteis e Imorais..Que Tal essa Lei do ”politicamente correto” que Cerceia o livre Arbítrio, Inibe o Folclore e Padroniza o Comportamento ???…Sistema de Cotas, Lei da palmada, Ideologia de Gêneros,que em Vez de Unir; Fez-se a CIZÂNIA nas Famílias e Sepulta Definitivamente o Arrependimento, as Desculpas e o Perdão; Sentimentos Nobres que Simboliza a REDENÇÃO na VIDA do SER HUMANO….
            VALEU JORGEMOREIRA….

    • Horacio V Duarte disse:

      Caro J. B. Cruz, não é de um passado não, é de agora. Mas não entendi o que isto tem a ver com JK e com os 21 anos de ditadura. Foram dois períodos vividos pelo Brasil, não apenas por Minas, e nada mais distante de JK do que o, seu saudoso, regime militar que o assassinou. Paulo Maluf, Marin, e Sarney todos foram governadores bionicos, representantes do período militar, não sei porque tanta saudade, estão todos aí fazendo o que sempre fizeram.

  • José Florentino de Castro disse:

    Só digo que é maravilhoso ser mineiro !Ou trem bão so!

  • Claytinho do Nova Vista - BH disse:

    Esse cara, Fabrício Carpinejar, é fera demaissss !!!
    Quem me apresentou seus textos, foi minha esposa, que já o acompanha nas redes sociais há algum tempo.
    Tem texto dele que a gente lê e depois fica se perguntando: “Puts, será que esse cara conhece a minha vida ??” rs
    Muito bom saber que ele terá um programa na Itatiaia.

  • José Eduardo Barata disse:

    Legal demais da conta !!!!