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“Um jogador chamado Fidel Escobar está na copa apenas para nos lembrar que toda ditadura é uma droga”

Fidel Escobar jogou no Sporting de Lisboa até ano passado e agora pertence ao New York Red Bulls.

A coluna do Marcos Caldeira, no Trem Itabirano. Boa demais da conta:

* “TENHO DIFICULDADE DE ACREDITAR NO HOMEM QE VÊ

UMA BOLA VINDO GOSTOSAMENTE EM SUA DIREÇÃO E

NÃO SENTE VONTADE DOIDA DE CABECEÁ-LA, CHUTÁ-LA

DE PRIMEIRA OU DOMINÁ-LA E FAZER EMBAIXADINHAS”

Japão, 2; Senegal, 2. Um senegalês chutou a gol, a bola subiu e foi ao encontro da arquibancada. Uma moça virou de lado para proteger os seios, mas não precisava, pois um torcedor perto dela deu esplêndida cabeçada na bola, de primeira, aplicado como se tivesse num zero a zero de final de campeonato, e a desviou para longe. Espetacular, divertida, antológica, essa cena só não entrará no vídeo oficial da Fifa, após o mundial, se o responsável pelo trabalho for insensível. Já fiz algo parecido no estádio do Valério, em jogo do time itabirano contra o Cruzeiro, mas não fui bem-sucedido como o torcedor na Rússia hoje. Errei o cabeceio – não era lance fácil – e morri de vergonha, pensando que todo o público reparara no meu fracasso. Por isso, comemoro muito o que fez hoje o cabeceador de Ecaterimburgo. Nunca o vi, nunca o verei, pode até ser que algum dia, em algum lugar, eu passe ao lado dele, talvez até pergunte quantas horas são ou onde fica o museu tal, sem saber de quem se trata. Que vontade de conversar com esse moço, tomar uma cerveja com ele, falar do meu Atlético, ouvir o que tem a dizer do clube para o qual torce. Ele é meu irmão de amor ao futebol. Tenho muita dificuldade de acreditar no homem que vê uma bola vindo gostosamente em sua direção e não sente uma vontade doida de cabeceá-la, chutá-la de primeira ou dominá-la e dar algumas embaixadinhas.

HAVIA UMA PEDRA NO MEIO DO CAMINHO PANAMENHO

Inglaterra, 6; Panamá, 1. Stones marcou logo aos oito minutos do primeiro tempo, anunciando que haveria uma pedra no meio do caminho do Panamá. Depois, fez outro. Mais gols ainda, três, assinalou Harry Kane, apelidado em seu país de Hurricane e que por isso está condenado a, quando ficar velhinho, jogar no Atlético Paranaense. Baloy, ex-atleta do Grêmio, assinou o primeiro gol do Panamá na história das copas. Comovente ver uma torcida cujo time tomava de meia dúzia vibrar efusivamente, gerando imagens que também só não entrarão no vídeo oficial da copa se a Fifa vacilar.

PANAMÁ EMPATARIA COM O GUARANI DE CAMPINAS

O Panamá é tão fraquinho na bola que se jogasse contra o Guarani de Campinas, no máximo, empataria. Por falar no Guarani, o Campeonato Brasileiro da segunda divisão não parou. Bateu no peito e disse que tem condições de rivalizar com a Copa do Mundo, coitado. Ninguém sabe de nenhum resultado, mas os jogos estão sendo disputados. Aproveitando a citação ao time paulista, devo esclarecer um assunto. Quando o Guarani tinha boas equipes e enfrentava, ombro a ombro, qualquer grande do país, eu pensava: tantos times de capitais do Nordeste fora da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, mas essezinho do interior firme na elite do nosso futebol. Torcia para vir um tempo em que tudo desse errado na vida do Bugre e caísse para a segunda divisão ou, ainda melhor, para a terceira, o que ocorreu. Hoje, vejo-o pastando capim seco sem azeite, há uma década longe dos principais campos do país, e sinto saudade do tempo em que o G da verde camisa campineira circulava com vitalidade pelo Mineirão, Maracanã e Morumbi, desafiando – e, muitas vezes, derrotando – gigantes. A vida, Maria Imaculada, é mesmo engraçada.

MOMENTO-CABOTINO: ALDIR BLANC

O compositor e escritor Aldir Blanc, glória da MPB, me avisa que citou meu trabalho (estas crônicas da copa) em sua coluna no jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro, neste domingo. Escutando “O Bêbado e a Equilibrista”, com Elis Regina, fui tentar achar o jornal em Itabira, mas nenhuma das três bancas da cidade recebe o periódico da família Marinho. Aliás, nem o “Estadão”, nem a “Folha de São Paulo” e, absurdo ainda maior, nem o “Estado de Minas”. É daquelas tristezas de morar no interior.

EGOS DOMADOS EM FAVOR DO COLETIVO

Colômbia, 3; Polônia, 0. Primeira grande vitória de sul-americano sobre europeu. Chamou-me atenção a comemoração do segundo gol, feito por Falcao García. Efusiva, alegria sincera, lá do fundo, denotando união. Pareceu-me time mesmo, uno, despido da vaidade insalubre, que leva ao fracasso. Egos controlados em favor do coletivo. Numa comemoração, a TV mostrou Valderrama e Higuita, históricos ex-jogadores colombianos – cabelos longos, bigodes e escamas.

NEGO NÃO, BATE UMA DEPRESSÃOZINHA

A partir de amanhã serão dois jogos televisionados por dia, não mais três. Como as partidas decidem tudo na primeira fase, são disputadas simultaneamente, para que seleção nenhuma entre em campo sabendo o resultado da outra. Mudar de três para dois causa certa melancolia, deixa um vazio, decreta uma saudade.

TODA DITADURA É UMA DROGA

Atuou hoje pelo Panamá um jogador chamado Fidel Escobar, que está na copa apenas para nos lembrar que toda ditadura é uma droga.

Por Marcos Caldeira – O TREM ITABIRANO


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