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O Brasil depois das urnas de 2018

Sábado, no Rádio Vivo da Itatiaia, o José Lino Souza Barros leu um artigo muito bom do David Coimbra, publicado dia 14 no jornal Zero Hora de Porto Alegre, sobre as eleições presidenciais. Vale a pena ler, aliás como tudo o que o David escreve; ótimo jornalista, que conheço de coberturas de várias Copas do Mundo:

* “O que pediria ao vencedor da eleição”

Não é hora para arroubos ou para aventuras

Não. O Brasil não vai virar fascista, nem vai virar comunista. Não se tornará uma Itália de Mussolini, nem uma Venezuela de Maduro. Os gays não serão enforcados em praça pública como no Irã, e as escolas não serão convertidas em madraças em que criancinhas aprenderão a pansexualidade. Seja com Bolsonaro, seja com o PT, a democracia brasileira não corre riscos.

Um candidato à Presidência levou uma facada, atos violentos de natureza política ocorreram em várias partes do país, é verdade. Mas o Brasil é um país violento. O mais violento do mundo, onde não são necessárias guerras ou revoluções para que morram 65 mil pessoas assassinadas por ano. Dá uma média de 178 assassinatos por dia. Mata-se por tudo e por qualquer coisa no Brasil. Os assassinos do Brasil não precisam de motivações especiais para matar. Escolha, entre esses 65 mil crimes, os motivos que você quiser. Filtre-os e use-os para justificar a sua tese, qualquer uma. No Brasil, há violência contra velhos e crianças, jovens e adultos, gays e héteros, mulheres, negros e índios. A violência grassa nas terras brasileiras. Decerto que contra homens jovens, negros e pobres há mais violência. Mas não por sua condição, não porque eles são homens jovens, negros e pobres, e sim pelo contexto em que os homens jovens, negros e pobres vivem. O que também não significa que não existe preconceito no Brasil. Claro que há. É mais um de tantos problemas brasileiros. Assim, radicalize a política em um país violento e preconceituoso e o que você conseguirá é o que estamos vendo.

O Brasil vem se deteriorando moralmente a cada ano. Piorando a cada ano. A diferença, nesta eleição, é que divergentes se transformaram em inimigos, e com o inimigo você não convive, o inimigo você quer eliminar. Como alcançar a paz entre pessoas que não se suportam?

Faltam menos de duas semanas para o segundo turno se encerrar. Vença Bolsonaro ou vença o PT, restará ressentimento entre os derrotados. Já agora, antes de o resultado ser conhecido, os dois lados recitam termos como “resistência”, “luta”, “não aceitação” e até “vingança”. São os piores sentimentos possíveis.

Tivesse eu alguma importância, se por acaso fosse ouvido pelos dois lados, pediria, a ambos, moderação. Na vitória ou na derrota. Porque, quando existe tamanha divisão, talvez os dois lados estejam um pouco certos.

Os petistas, que estão aí há mais tempo, que já governaram o país por década e meia, poderiam compreender que eles têm de fazer uma dura autocrítica, que precisam reconhecer seus erros e que sua postura arrogante e suas campanhas sistemáticas de propaganda (“não vai ter golpe”, “é golpe”, “Lula livre”, “ele não”) só têm servido para aumentar a antipatia pelo partido e irritar os adversários.

Bolsonaro e seus apoiadores têm de entender a justiça e a humanidade das grandes causas do século 21: o respeito às mulheres, aos gays, aos negros. O respeito a todos. Têm de entender, também, que qualquer forma de ditadura é repulsiva. E que um país só se transforma em uma nação quando é governado para o conjunto da sociedade, não para uma parte dela.

Não é por acaso que o governo que mais deu certo, no Brasil, foi o de Itamar Franco. Porque, quando Collor renunciou, ele chamou as principais lideranças políticas do país e avisou: “Só aceito governar se todos vocês estiverem comigo”. Então, o Brasil se uniu. E foi para a frente.

No dia 29, 24 horas depois de se consagrar presidente, o vencedor da eleição deveria chamar os perdedores, deveria ser humilde, pedir ajuda, ceder um pouco, para avançar um tanto. Não é hora de arroubos. Nem de aventuras. Moderação. Por favor: moderação.

https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/david-coimbra/noticia/2018/10/o-que-pediria-ao-vencedor-da-eleicao-cjn9jjxuy051701rx5c23438u.html


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Comentários:
10
  • J.B.CRUZ disse:

    ”a verdade nunca par de caminhar; por mais longo que seja o percurso um dia ela chega a seu destino”..
    fez-se a justiça !!!
    brasil acima de tudo !!..
    deus acima de todos !!..
    prá frente brasil !!!…

  • Claytinho do Nova Vista - BH ( Hexa Campeão !!! ) disse:

    Os petistas que sempre citam a democracia ( Mesmo que seja a democracia ao estilo deles… ), precisam entender que a alternância de poder também faz parte da democracia.
    Venceu o voto da maioria. E respeitar isso faz parte da democracia que tanto eles, mesmo demagogicamente pregam.
    Ahhhh… Mas dá trabalho tirar a viseira… Dá trabalho refletir… Dá trabalho sair da caixinha…
    É muito mais cômodo ficarem repetindo os chavões criados, repercutindo os fakes news e continuarem a insistir na velha cantilena de coitadinhos, de injustiçados e de vitimização…
    Como bem disse o próprio petista Mano Brown: “Voltem pra base” !!!!!!!!!!!!!!!

    • Marcelo de Andrade disse:

      Não sou petista, jamais votei no PT pra presidente, a não ser nesta eleição, mas cabe aqui uma defesa dos petistas.
      Lula questionou as urnas quando perdeu pra Collor e pra FHC?
      Como mesmo disse Tarso Jereissati, não é do jogo democrático questionar o resultado de uma eleição.
      Quem mesmo que não aceitou a derrota na eleição passada?
      Ele é honesto? Foi eleito?
      Quem, se tivesse perdido, teria questionado as urnas?
      Quem vive questionando as urnas?
      Até agora não ouvi ninguém do PT questionar o resultado da eleição.
      Agora que ganharam, não há fraudes nas urnas?
      Espero que não questionem mais quando perderem, uma vez que não há questionam quando ganharam. Seria muita hipocrisia.
      Tem gente aí que parece que vive num universo paralelo, talvez muito influenciado por toda mídia que passou os últimos 4 anos só bombardeando um partido. Não que ele não cometesse erros, mas houve muito exagero, tanto é que criaram esse monstro cheio de monstrinhos espalhados por este país.
      Nem raciocinam mais.

      • Claytinho do Nova Vista - BH ( Hexa Campeão !!! ) disse:

        Respeito o direito do seu ponto de vista divergente. Mas falar que quase tudo que tem acontecido com o PT seja culpa de uma mídia perseguidora, que “bombardeou” esse partido nos últimos 04 anos, é realmente se negar a enxergar os fatos.

        • Marcelo de Andrade disse:

          Repetindo exatamente o que escrevi.
          “Não que ele não cometesse erros, mas houve muito exagero, tanto é que criaram esse monstro cheio de monstrinhos espalhados por este país.
          Nem raciocinam mais.”

  • Marcelo de Andrade disse:

    O texto tem lá seu valor. Eu só faria uma ponderação quando ele iguala os dois lados neste ponto:
    Gritar “não vai ter golpe”, “é golpe”, “Lula livre”, “ele não”, não constitui crime. Aliás, é do jogo democrático protestar.

    Já os que gritam contra as mulheres, os gays e negros, praticam crime, porque violência contra a mulher, homofobia e racismo são crimes tipificados no código penal e na constituição.

    Portanto, caro David Coimbra, não dá para igualar esses dois lados, há uma diferença brutal entre eles. Captou?

    • Pedro Ernesto disse:

      Caro Marcelo, antes de mais nada devo dizer que não votei em ninguém. Tenho minhas dúvidas se um candidato que pertence a um Partido Liberal seja Fascista, são regimes antagônicos. Ontem após o anúncio da vitória você viu a humildade do Bolsonaro enaltecendo sua esposa, percebeu que seu braço direito é um negro, que ele tem muitos amigos gays, que seus antepassados eram defensores dos negros, que ele casou com uma neta de cearense. Percebeu que quem intitula o outro de fazer apologia ao ódio durante a campanha, vibrou quando o cara levou a facada e que Haddad sequer cumprimentou seu oponente pela vitória ou se colocando a disposição para o bem da nação. Sei não amigo, mas acho que esses adjetivos são inadequados e foram criados durante o desespero, agora, se o vencedor vai colocar em prática sua política não sei, tem muito jogo de interesses no sistema. Abraços!

  • Eltinho disse:

    “Todo caminho da gente é resvaloso. Mas também, cair não prejudica demais. A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!… O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, Sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria, E ainda mais alegre no meio da tristeza”…

    João Guimarães Rosa
    Grande Sertão Veredas.