Blog do Chico Maia

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Até quando? Enquanto vivermos no Brasil

Hoje bem cedo toda a mídia falava de remoção de famílias em Barão de Cocais, sob risco de rompimento de mais uma barragem, também da Vale; outra em Itatiaiuçú, da Arcellor Mital, devido a risco semelhante. Na semana em que foram soltos os detidos envolvidos na explosão de Brumadinho, E nenhum diretor da Vale, nem da Samarco, preso!

Escrevi este artigo ontem:

Os antigos manuais de redação das escolas de jornalismo recomendavam que fossem evitados jargões e frases feitas. Pois, até nisso Minas e o Brasil regrediram. Está na moda, jornalistas de rádio, jornal, televisão e internet perguntar: “Até quando?”, para manifestar espanto, repúdio ou indignação. Mas, usam tanto, que estão banalizando, mais ainda, este surrado jargão. Mais um crime da Vale, mais escândalos envolvendo os legislativos e executivos, mais suspeição e omissão do judiciário, mais impunidade, mais violência, mais tragédias, etecetera, etecetera e etecetera…

A imprensa deveria é mudar o foco e em vez de ficar perguntando “até quando” a cada acontecimento negativo, esmiuçar o que faz com que o Brasil seja sempre assim. Parece que está em nosso DNA, desde a chegada das caravelas de Pedro Álvares Cabral. O compadrio, o jogo de empurra, a transferência de responsabilidades, a cumplicidade tácita entre quem se encontra no comando dos poderes formais e informais, em todas as esferas e instâncias. Os veículos de comunicação incluídos.

Em 28 de novembro de 2016, quando caiu o avião da Chapecoense causando a morte de 71 pessoas o jornalista Milton Neves disse que “solidariedade tem prazo de validade”, prevendo que depois que passasse aquela comoção nacional a imprensa e o mundo deixariam o assunto esfriar e a vida seguiria sem que os responsáveis fossem responsabilizados. As famílias das vítimas ficariam com a sua dor, prejuízos materiais e a frustração por serem incluídas em mais uma estatística da falta de justiça no Brasil. O crime que resultou em 242 mortos na Boate Kiss, em Santa Maria-RS, no dia 27 de janeiro de 2013 foi relembrado na época, também sem nenhum (ir) responsável punido. Dois anos depois viria o rompimento da barragem da Samarco/Vale, de Bento Rodrigues, em Mariana, 5 de novembro de 2015. “Apenas” 19 mortos, o Rio Doce, afluentes e incontáveis animais, até o mar, no Espírito Santo. Agora, passadas duas semanas do maior dos crimes, em Brumadinho, que poderá resultar em torno de 300 mortos, a comoção geral começa a dissipar e a sensação de outra vergonhosa impunidade começa a tomar conta. Soltaram os bagres detidos como bodes expiatórios, nem o presidente da Vale e nenhum diretor preso. E começou a embromação na justiça para (não) indenizar as milhares de vítimas.


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Comentários:
6
  • Gabriel Júnior disse:

    O grande problema do Brasil é que ninguém põe o dedo na ferida, senão vai atingir políticos e instituições, que na frente das câmeras estão se condoendo, mas auferiram grandes lucros com o minério de Minas. Exploraram visando somente o lucro sem se importar com o meio ambiente e a segurança das comunidades. Os 3 poderes são coniventes e a impunidade farão mais e mais tragédias.

  • Helio Antonio Corrêa disse:

    CONTERRANEO CHICO MAIA
    Belo texto, sem retoque até.
    Penso caro amigo, que se tivessem prendido uns 10 em MARIANA, nao teria havido BRUMADINHO.
    Foi pq. nada fizeram, que ocorreu o fatídico dia 25/01.
    Tanto isto é verdade, que bastou 5 serem presos (ja foram soltos, mas algo ja mudou) para que sirenes que nunca tocam, tocarem às 01 h da madrugada.
    Pena que logo logo, todos esquecem e os castigos e sofrimentos ficam somente para os atingidos e suas familias.
    Dá pena para não dizer raiva, em ver os prefeitos, faltando pedir perdão à Vale e Samarco, todos movidos pelo dinheiro que elas trazem para suas cidades, sem contudo olhar o tamanho do ônus que deixa, nós que somos de CMD né CHICO, sabemos do que estamos falando.

  • João Cavalieri disse:

    Venda Nova ano pasado, Brumadinho, Chuvas no Rio, CT Flamengo. Seguidas tragédias de um Brasil sem prevenção, sem planejamento de riscos, O Brasil do jeitinho brasileiro….

  • Alisson Sol disse:

    E agora começa a aparecer que o relatório dos engenheiros presos foi, como sempre, ignorado.

    E o “puxadinho” do CT do Flamengo? Como é que vão prender engenheiros? Só falta prenderem os pedreiros que fizeram a obra improvisada…
    E o Presidente do Flamengo: será que vai assumir a responsabilidade?

  • Claytinho do Nova Vista - BH ( Hexa-Campeão !!! ) disse:

    Caro Chico,

    Parabéns !!
    Simplesmente irretocável. Esse seu texto deveria ser publicado nos jornais !!
    Esse tal do “Até quando” já não tem mais nenhum efeito prático, porque realmente já está banalizado. Falam por falar, tentando passar a imagem de indignação.

    Abraços

  • Horacio Duarte disse:

    Caro Chico, empresas, principalmente corporações deste tamanho, são máquinas de fazer dinheiro. Não têm ética, não sentem compaixão, a única coisa que sentem é redução dos lucros. Se pegar neste ponto vão ficar loucos.

    O problema é que temos um judiciário que bate forte em preto e em pobre. Preceitos constitucionais são para quem merece. A lei nunca foi para todos. Quem morreu morreu, quem perdeu perdeu. Os netos, para poder receber, vão ter que negociar condições que favoreçam a empresa. Lembra do desmoronamento do pavilhão da Gameleira que matou 67 pessoas? Como terminou mesmo?

    Pode esquecer do legislativo. Agora já não temos partidos, você vota em alguém e o voto vai, não sei como, para as bancadas da bala, do boi, da bíblia, dos bancos e agora a bancada da lama. Graças a bancada da lama é que este espetáculo foi possível. Neste ponto citar o nominho deles seria muito útil.

    Os atingidos vão ter que brigar sozinhos e Deus, na minha idade pouco posso fazer. O executivo está muito ocupado no combate a mamadeira de piroca e aos aposentados, as duas pragas do Brasil.