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O “saudoso” futebol brasileiro praticado pelo Ajax e a sabedoria dos árbitros europeus na utilização do VAR

Nunca fui desses apaixonados pela Liga dos Campeões da Europa, principalmente das fases preliminares, porém, está ficando cada vez mais difícil resistir. Para quem gosta de futebol de verdade não tem jeito. Comecei “passar os olhos” em Juventus 1 x 2 Ajax e grudei lá. Permaneci no canal e não saí de perto da televisão até o jogo acabar. Simplesmente sensacional, tudo. Os dois times, a busca permanente pelo gol, a velocidade e plasticidade do jogo e a organização. E imaginar que, à exceção da organização do espetáculo, o nosso futebol era assim até os anos 1980. Bola lá e cá. A decadência se deu com o “lazaronês” implantado por Sebastião Lazaroni na horrorosa seleção brasileira da Copa da Itália em 1990 e a acentuação do êxodo dos nossos melhores jogadores para a Europa.

Vendo jogos da “Champions” bate uma onda saudosista danada e tenho até medo de tomar birra definitiva do futebol verde e amarelo. Cruz credo! Por isso, vou continuar assistindo só de “soslaio”, na “meia-jota”, pra não ficar mal acostumado. Hoje, só assisti os melhores momentos de Manchester City 4 x 3  Totthenham, Outro jogaço, que deixou mais um exemplo positivo para nós em relação ao VAR: o árbitro validou gol do Llorente, pro Totthenham, parecido com o do Fred, mesmo com a bola resvalando na mão do atacante. Gol que garantiu a classificação do Totthenham, como com a derrota. Ora, ora, se o jogador não teve a intenção de usar a mão ou o braço não é justo que se anule o gol ou que se apite pênalti contra ele, mesmo que a FIFA recomende apitar. No Brasil são raros os árbitros que não seguem essa idiotice recomendada.

Mas o time mais impressionante de se ver jogar atualmente é o Ajax que está revivendo seus momentos de magia, dos anos 1970, comandado por Johan Cruijff nos tempos do futebol total, do Carrossel Holandês, O treinador é da nova safra, Erik ten Hag, 39 anos de idade, ex-meio campista apenas razoável, de times médios, porém ótimo na profissão que abraçou depois que parou de jogar. Ousado e inovador, diferente de seus similares, curiosos do futebol brasileiro.

Jogando em Turim contra o poderosíssimo Juventus mostrou porque o mundo está batendo palmas para ele e para o seu time. Logo no início tomou gol do Cristiano Ronaldo, que incendiou a torcida. Pensei que ali estaria começando a eliminação do bravo Ajax. Engano dos enganos.

Gostei muito da avaliação tática e dos métodos dele, feitos por Caio Alves, em novembro do ano passado, no site MW Futebol, que recomendo. Parece que foi escrito ontem:

* “. . . o Ajax vem ganhando destaque na temporada por conta de seus talentos individuais, como Matthijs de Ligt e Frenkie de Jong. Embora sejam de suma importância para o modelo de jogo, o treinador Erik ten Hag mostra, independentemente do adversário e campeonato, que sua equipe possui total capacidade para encantar.

Holandês que é, ten Hag vem de uma escola propositiva, de futebol total, e não esconde sua ideologia e trajetória dentro de campo. Muito de suas ideias, inclusive, foi acompanhada por Pep Guardiola diariamente. Entre 2013-2015, Erik comandou a segunda equipe do Bayern Munchen, o FC Bayern II, período coincidente à trajetória de Guardiola na equipe principal. Com isso, Pep e ten Hag eram vistos constantemente juntos em treinamentos de suas equipes.

De 2015-2017, somando 111 jogos, o treinador teve uma passagem pelo FC Utrecht, até chegar no AFC Ajax, em dezembro do ano passado. Com um grande material humano em mãos, não demorou muito para que o comandante impusesse suas ideias e potencializasse cada jogador da equipe.

Na atual temporada, o Ajax de Erik ten Hag pratica um jogo posicional. Como de Ligt e de Jong possuem claras características de jogadores-total, os garotos foram, talvez, os maiores beneficiados com a chegada do treinador.

No habitual 4-3-3 – com alternâncias para o 4-2-3-1 –, tudo passa por Frenkie de Jong. Na saída de bola executada de forma limpa, onde até o goleiro participa, os centrais se oferecem como alternativas e os laterais posicionam-se em campo rival. Com isso, Frenkie, por jogar em diversas posições, ocupa o espaço deixado por Nicolás Tagliafico, lateral-esquerdo, e forma uma linha de 3.

Propondo jogo em um bloco médio-alto, Lasse Schone mostra-se extremamente chave na equipe. Além do garoto de Jong, é ele quem se oferece como terceiro homem nos triângulos de passe, além do jogo apoiado. Recepcionando e distribuindo a partir do meio-campo, Schone empenha um papel associativo para liberar Donny van de Beek. Com o intuito de ocupar o campo rival com o máximo de jogadores possível, van de Beek torna-se responsável por pisar na área constantemente, onde, por consequência, acaba marcando muitos gols – Mazraoui, lateral-direito, também possui as mesmas características.

No setor ofensivo, extremos ao pé trocado e atacante associativo. Com Dusan Tadic, extremo-esquerdo e destro, e Hakim Ziyech, extremo-direito e canhoto, o Ajax busca atacar com ambos por dentro para seus laterais darem amplitude e profundidade nos corredores. Embora Kasper Dolberg venha ganhando mais minutos a cada jogo, o já conhecido Klaas-Jan Huntelaar é bastante presente na equipe. Independentemente de quem atue, as características não mudam, onde ambos são responsáveis por buscarem jogo entrelinhas e se associarem de forma rápida. Embora seja um time de passe-posse, o Ajax não deixa de ser vertical e objetivo. É quase que uma regra por parte de ten Hag. A saída de bola é executada em 3 – 3+2 quando pressionado – para ter superioridade numérica no campo do adversário. Com suas triangulações e sociedades curtas, busca chegar ao gol e finalizar a jogada de forma mais rápida possível. Assim que o Ajax perde o domínio da posse, pressão constante no portador da bola e, por momentos, com superioridade numérica – tudo isso em campo contrário. Caso a pressão pós-perda não tenha ocorrido de forma efetiva, a equipe reagrupa-se e parte para a transição defensiva.

No 4-4-2 – ora no 4-1-4-1 – e oferecendo uma marcação zonal, o Ajax procura ser intenso durante os 90 minutos. Ademais, diferentemente de outras equipes que praticam o jogo posicional, pouco sofre com as transições, uma vez que, mesmo em bloco alto, possui 3-4 jogadores para a fase defensiva, todos eles com características rápidas e efetivas defensivamente (de Ligt, Blind, Tagliafico e Schone).

Em seus centrais, Erik ten Hag possui tudo e um pouco mais. Blind, que foi contratado do Manchester United para essa temporada, mostrou-se pontual. Muito de sua versatilidade defensiva serve como apoio para a execução do plano de jogo do treinador. Além disso, ainda que tenha apenas 19 anos, de Ligt é surpreendentemente completo – embora, naturalmente, cometa erros.

Basicamente, ambos possuem uma afinada leitura de jogo, seja para o momento defensivo ou para conduzir e abrir campo para os jogadores de frente. Cabe ressaltar, também, que uma das mais destacáveis qualidade de Matthijs de Ligt é o jogo aéreo. Marcando gols dessa forma e cortando o jogo direto do adversário, torna-se mais uma soma para o estilo de jogo do Ajax.

Além dos pontos já mencionados, o Ajax é, também, forte na bola parada. Com efetivas jogadas ensaiadas nas cobranças de falta e seus escanteios curtos constantes, o time consegue surpreender nos duelos aéreos – muito pela característica de seus jogadores, como já mencionado com de Ligt.

David Neres, revelado pelo São Paulo, é mais um jogador importante no plantel. Figura constante nas partidas – seja sendo titular ou entrando na segunda etapa –, o garoto demonstra grande evolução defensiva. Compondo linhas, jogando por dentro ou utilizando de seu violento 1×1 pelo corredor direito, Neres vem propondo maturidade nos contextos necessários.

Não se sabe se o Ajax 2018-2019 tende a ser mais uma equipe histórica para o clube ou se pode, por exemplo, vencer a Champions League, visto que deve se classificar para a próxima fase da competição. Contudo, Erik ten Hag, através de suas ideias e inspirações, faz um bom, rico e bonito trabalho em território holandês. O resto, é consequência.

@CaioAIves

https://mwfutebol.com.br/2018/11/02/o-ajax-de-erik-ten-hag/


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