Bernard Tapie carregado pelos ciclistas campeões da Volta da França, financiados por ele e campeões em 1983. Depois presidiu o cube mais popular do país, o Olimpique de Marselha, campeão europeu em 1992. Cumpriu um ano de cadeia por comprar resultados, o clube foi rebaixado e obrigado a decretar falência.
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Fosse antes de 2013 eu responderia na lata: nada! Mas, ainda que gente demais discorde, aquela gigantesca ocupação das ruas de cidades em todo o país, gerou consequências positivas e o início de mudanças de verdade no Brasil. O único temor de qualquer detentor de poder, qualquer poder, é a agitação das massas, o “monstro”, como bem definia o saudoso Elias Kalil, quando presidente do Atlético.
Antes de 2013 quem diria que algum dia veríamos ex-presidentes da república e ex-governadores na cadeia? Os maiores e mais ricos empresários do país, nem pensar!
Mas aquelas multidões mexeram nas consciências de quem governa, nos três poderes. Certamente os ocupantes do executivo, legislativo e principalmente judiciário, recorreram à história para se lembrar da cabeça de Luiz XVI guilhotinada na França e ou dos Romanov sendo apeados do poder e assassinados na Rússia.
O futebol sempre foi blindado no mundo, principalmente no Brasil por ser uma das maiores lavanderias de dinheiro do planeta. Com raras exceções, dirigentes de federações e clubes sempre fizeram o que bem entendem com os milhões que administram mundo afora, fiscalizados por cúmplices travestidos de conselheiros fiscais.
No mundo isso começou a mudar nos anos 1980 quando autoridades governamentais se atentaram para a importância do futebol e esportes em geral no fomento da economia. O primeiro exemplo do qual me lembro de graúdo preso, julgado e condenado, é do então presidente do Olimpique de Marselha, Bernard Tapie. De família humilde da periferia de Paris, se tornou empresário (foi dono da Adidas), se destacou dirigente do ciclismo francês, presidente de um dos clubes mais populares da Europa, levando-o ao tetracampeonato nacional, campeão da Champions 1992/93 (em cima do Milan). Virou Ministro das Cidades no governo socialista de François Miterrand, mas todo encrencado. Corrupto e corruptor, comprava resultados em campo até ser flagrado por esquema com o Valenciennes. O Olimpique foi rebaixado na França e impedido de disputar a Copa Intercontinental contra o São Paulo.
Na política, foi condenado a devolver 403 milhões de euros ao governo francês, cumpriu um ano de cadeia e até hoje responde a outros processos. Está com 76 anos de idade.
A partir da condenação dele e do Olimpique (que em popularidade na França se equivale ao Flamengo no Brasil), outros clubes e dirigentes de futebol e outros esportes passaram a ser mais investigados com duras punições, chegando até ao Brasil e à América do Sul, com a condenação de muitas figuras.
Dirigentes de clubes ainda não foram parar na cadeia no Brasil, mas essa onda moralizadora acaba chegando neles. Quem diria que um José Maria Marin iria cumprir cana? Que um Ricardo Teixeira e um Marco Polo Del Nero não pudessem viajar para o exterior sob pena de serem presos?
Ainda veremos um cartolão de clube brasileiro na cadeia, mas não sabemos quem e quando será. Essa turma do Cruzeiro é candidata, mas tem muita força em todas as esferas dos bastidores e sabe manobrar em Minas em Brasília.
Mas os ex-presidentes e ex-governadores presos também tinham força e sabiam manobrar. Como diz o Adilson Batista, “vamos aguardaaarrr”
Em foto da GoldensEurope/ananova.news, Bernard Tapie em março deste ano
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