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Racismo é por falta de educação formal e familiar que impera no Brasil desde os tempos da colônia

Não tenho a menor dúvida de que a impunidade é a maior responsável pela absurda repetição de crimes no Brasil, especialmente nos estádios. Eu que sou ligado ao futebol desde criança já me cansei de ver, falar e escrever a respeito. Repetitiva e lamentavelmente. E a raiz de tudo é a falta de educação formal e familiar que impera no Brasil, desde os tempos da colônia. Mesmo graduado em Direito e Jornalismo só passei a entender em profundidade o comportamento do mineiro e do brasileiro, depois de ler a trilogia do Laurentino Gomes, 1808/1822/1889. Todo mundo deveria ler. No 1889 ele deu uma importante pincelada sobre a escravidão, emocionante, que arranca lágrimas até no cidadão menos sensível. Lançou mês passado “Escravidão”, primeiro volume de uma nova trilogia, que já adquiri e vou devorar semana que vem, quando estarei de férias.

Neste último clássico no Mineirão tivemos mais um caso de covardia discriminatória, em que dois irmãos externaram o seu racismo contra um segurança. O que mais lamento na história toda é que a vítima já perdoou o a agressão em entrevistas, ontem, antes mesmo dos infelizes pedirem desculpas ou se entenderem com a justiça. Ora, ora! Enquanto não tivermos exemplos de punição à altura para crimes como este, não teremos um paradeiro nisso. No Brasil vivemos a cultura do “coitadinho”, incentivada por grande parte da imprensa. Desde criança aprendi com meus pais que sou responsável pelos meus atos e que tenho que enfrentar as consequências do que faço.

Criminoso de qualquer ordem precisa pagar pelo crime para que o exemplo desestimule potenciais marginais de seguir o mesmo caminho. Em 2014 o goleiro Aranha, do Santos na época, foi vítima em Porto Alegre num jogo contra o Grêmio pela Copa do Brasil, e agiu de forma exemplar. Denunciou o fato e esperou que a torcedora agressora enfrentasse as consequências, para só depois, falar em perdão a ela:

– Vai ter de pagar. Queriam que eu desse o perdão sem ela me pedir desculpas. Acompanhei todo o caso, os amigos dela mostraram que ela não é racista, mas ela sumiu, deletou perfis das redes sociais, não falou com ninguém. Demorou muito tempo para tomar uma atitude. Pelo menos (a polêmica) ajudou a causa (contra o racismo). Como cristão, como ser humano, precisava do pedido dela para desculpar. Isso não quer dizer que eu não quero que a justiça seja feita. Ela errou, tem as consequências – disse o goleiro, disse o goleiro em entrevistas.

Ela perdeu o emprego, encarou o processo judicial, passou um aperto danado. Duvido que repita o ato, mas outros repetiram e repetem Brasil e mundo afora, como estes dois, domingo no Mineirão. Precisam pagar pelo que fizeram e que a punição a eles seja mostrada ao máximo, para que outros fiquem intimidados a agir como eles agiram.

Se não for assim, o Eduardo Silva Gomes, comentarista aqui do blog, continuará tendo razão no que ele escreveu: “Brasileiros são todos iguais, julgam, mas cometem os mesmos erros. Os que julgam hoje, são os delituosos de amanhã. Arremessador de garrafas e injúrias racistas vão existir sempre. Hoje, foco dos noticiários, amanhã ninguém mais se lembra e outros casos virão. Lembram da torcedora do Grêmio? Lembram da torcedora do Inter? Lembram do caso Tinga? Agora surgiram os casos Balotelli e Tyson. E tudo continua como antes no quartel…”

Recomendo a todos, especialmente a estes dois flagrados em racismo no Mineirão, que leiam com muita atenção à nova obra do Laurentino Gomes. 


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Comentários:
7
  • denise alves disse:

    sabendo que em apocalipse 4:3 descreve a cor jaspe e sardonico de meu salvador yahushua negro é claro que o mundo jás do maligno é racista,hoje tenho orgulho da minha ascendência do messias

  • Claudio disse:

    Chico e sua interminável lista de livros imperdíveis!
    Lá vou eu de novo…

    • Chico Maia disse:

      Beleza Dr. Claudio?
      Vai gostar dessa nova série do Laurentino, tenho certeza.
      O que me diz da anterior?
      Abraco.

      • Claudio disse:

        Fala Chico, beleza?
        Olha, uma verdadeira aula da história do país.
        Infelizmente dá até desânimo ver que alguns dos sobrenomes influentes daquela época continuam influenciando ainda hoje.
        Ducha de água fria.
        Abraço!

  • Alisson Sol disse:

    Concordo que estas coisas tem de “doer no bolso”. Só assim outros países tem diminuído o racismo, que nada mais é que mais uma forma de “tribalismo” (a minha tribo é melhor que a sua!). Apesar de ficar ressabiado com a “Justiça” no Brasil, o fato é que a punição para o crime nada tem a ver com o fato de a vítima ter perdoado a ofensa ou não.

    Também recomendo as obras de Laurentino Gomes, com um porém: o Brasil tem de se libertar de sua História. Não dá para o país entrar de sola na “era da Internet” e continuar com o pé no século 19, com gente tendo “apartamento com dependências para empregada”. Conheci gente no Brasil que pede empregada para trazer copo de água “pois estou pagando“. Enquanto isto, gente realmente rica entra em fila para comprar o próprio lanche, prezando sua independência.

    No campo positivo, gostaria de parabenizar não apenas a instituição Atlético Mineiro como seu presidente, por ter colocado seu escritório de advocacia à disposição do torcedor ofendido.

  • Eduardo Silva disse:

    Chico, bom dia,

    Hoje estava sapeando as notícias do dia e ouvi uma entrevista do Alexandre Kallil falando sobre isso. Ele disse que era um absurdo o ocorrido e que já sentiu a discriminação de perto, pelo fato de ser filho de imigrantes, “radicado” em minas e que muitas pessoas o chamavam de turco para humilhá-lo.

    Eu como Cruzeirense admiro o Kallil pela sua autenticidade, gostando ou não de algumas de suas falas e atitudes, ele fala exatamente o que pensa, gostem ou não.

    Até já conversei pessoalmente com ele e seu filho um tempo atrás e ao final ele, sempre muito simpático e comunicativo, falou que “apesar de ser Cruzeirense” eu era gente muito boa, eu devolvi a brincadeira, rimos muito e ele foi embora….kkk é uma figuraça!

    Na minha época de infância/juventude era comum e até natural na pelada do bairro, apelidos pejorativos como chamar o cara de gordim, negão, perneta, quatro olho, etc, mas hoje esse bullying não é mais aceitável, podemos evoluir como pessoas e sociedade civilizada.

    Qualquer forma de discriminação seja racial, étnica, sexual, física é abominável e devemos nos policiar diariamente até aqui mesmo no blog, quando exasperamos palavras no calor das intrigas e picuinhas das rivalidades clubísticas, tentando ofender o adversário.

    Ma, longa vida aos RADICADOS de minas!!

  • Pedro Vitor disse:

    Dois babacas preconceituosos, tinha que ir dormir no xilindró só assim iam sentir o outro lado da moeda.

    E ainda tem coragem de aparecer na TV dando entrevista com cara de deboche é brincadeira e de mal gosto.

    O segurança tem que correr atrás pra desmarcarar os dois idiotas com sangue nos olhos.

    Doi sabemos que dói e chorar faz parte se emocionar, mas passada a dor é seguir firme em busca da justiça pra não cair no esquecimento e normalidade, e o Zé dentro d’água que jogou a garrafa e começou o tumulto merece o mesmo tratamento dos dois idiotas pois é sem noção também uai ele que provocou a situação ali dá pra ver nas imagens a covardia com uma garrafa de vodka ele arremessa no meio da torcida do Galo é daí pra frente é uma merda atrás da outra