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Anúncios de demissões de funcionários e saídas de jogadores importantes sacodem a segunda-feira do Cruzeiro

Apresentado o novo diretor de futebol: Ocimar Bolicenho, que comandou este setor do Londrina até o ano passado

Semana passada o ex-goleiro Raul foi demitido das funções que ocupava no marketing do Cruzeiro. O domingo foi de surpresa geral com o anúncio pelo próprio Vittório Medioli de que ele estava saindo. Hoje a segunda-feira foi de demissões de gente graúda lá dentro, como o diretor de futebol Marcelo Djian e, do preparador de goleiros Robertinho, do fisioterapeuta Charles de Oliveira Costa, “Charlinho”, dos jornalistas Valdir e Marcone Barbosa e vários outros. Dentro de campo a saída mais emblemática hoje foi a do capitão Henrique, que vai para o Fluminense, mesmo destino do Egídio.

Também foi apresentado o novo manda-chuva do futebol: Ocimar Bolicenho, que comandou este setor do Londrina até o ano passado, rebaixado para a Série C do Brasileiro. Ele também exerceu a mesma função na Ponte Preta, Athletico-PR e Bahia. Em princípio atuará ao lado do Alexandre Mattos, que vai colaborar com o Cruzeiro, sem salário, até que saia seu visto de trabalho na Inglaterra, onde será diretor de futebol do Reading, da segunda divisão.

Além dos citados aqui, os demais desligados de hoje: Leandro Franco (também preparador de goleiros), Anderson Nicolau e Emerson Polimeno (preparadores físicos), André Rocha e Eduester Lopes (fisioterapeutas), Leonardo Corradi (médico) e Quintiliano Lemos (diretor administrativo da base).

Medioli anunciou a saída dele por meio da sua coluna no O Tempo, intitulada “Recomeçar do Zero”, em que defende uma intervenção judicial no clube, “Doa a quem doer”:

* “Recomeçar do zero”

A reconstrução do Cruzeiro passa inevitavelmente pela elaboração de um estatuto coerente e alinhado com a realidade

Encerrado o período de recesso e de festas, amanhã voltarei integralmente ao meu lugar de prefeito de Betim, ajudando o Cruzeiro nas horas disponíveis. O CEO do Cruzeiro será outro.

Ficou esclarecido que o estatuto do Cruzeiro me impede de assumir. Aceitei durante 15 dias participar de uma tentativa de resgatar, que me permitiu conhecer a extensão do imbróglio azul e apresentar estratégias e medidas que o verdadeiro CEO, aquele legitimado, poderá usar.

Enfim, não posso e não vou assumir, mas não sumir. Darei tudo que posso e a lei me permite.

Os últimos dias me concederam que, mais que um CEO, exposto à incerteza jurídica do cargo, o Cruzeiro precisa de um interventor amparado pela Justiça e com autoridade para executar o que for preciso. Doa a quem doer. O Cruzeiro, já há longo tempo, está sob investigação da polícia e do Ministério Público.

Um administrador (CEO) de uma “associação sem fins lucrativos” assume responsabilidades indefinidas, questionáveis, arrisca não apenas ser inócuo em seu esforço, como patético em seus propósitos de salvamento.

O estatuto do clube é um conjunto Frankenstein de regras que atendem interesses miúdos, mesquinhos e de dominação de grupos. Não atendem a grandeza e solidez de suas finalidades. Privilegia mais o incompetente que se preste a atender interesses inconfessáveis de um estreito grupo.

A reconstrução do Cruzeiro passa inevitavelmente pela elaboração de um estatuto coerente e alinhado com a realidade. Melhor ainda se o Cruzeiro se transformasse em empresa, aderindo à lei das Sociedades Anônimas (SAs), sem perder a possibilidade de manutenção do Profut (Refis do futebol) e de isenções tributárias. Isso ocorreu na Europa, mas encontra resistência ferrenha e falta de coragem do governo para dar um basta à cartolagem.

Retornando das férias (trabalhadas), creio que se encerraram as reclamações dos munícipes de Betim, as maquiavélicas intrigas políticas, os xingamentos dos adversários tradicionais do Cruzeiro e a alegria de quem me enxergou, por um momento, como um “salvador da pátria azul”. A estes últimos peço compreensão, a lei não me permite. Meu gesto poderia gerar mais instabilidade e problemas ao Cruzeiro.

Continuarei solidário, dando o meu tempo disponível, minha atenção e apoio em todos os sentidos. O vôlei continuará Sada Cruzeiro, ajudarei na manutenção das categorias de base também do futebol e onde possa ser útil com experiência e desprendimento.

Algumas considerações pessoais: se o choque de realidade, que só agora tomou conta do ambiente cruzeirense com a queda para a Série B, tivesse ocorrido três anos atrás, o Cruzeiro teria como se aprumar no momento certo quando o rombo, apesar de enorme e complexo, era a metade de agora. Complicadíssimo em 2017, imensamente longe do reparável em 2020.

A torcida deveria ter sido informada da pré-falência e sobre a necessidade de ajustes, por dolorosos que fossem. Austeridade, inovação, responsabilidade, coragem, honestidade, transparência, adoção de tecnologia de ponta, ousadia. Tudo isso era necessário, mas continuaram com o imediatismo, a incompetência, aumento estúpido e injustificado de gastos e uma agressão aos bens tangíveis e intangíveis do clube. Acelerou-se a derrocada e incinerou-se a governabilidade administrativa.

A farra foi prolongada até o último segundo, deixando o ambiente desertificado. Teve até dirigente demissionário que se atribuiu multa rescisória de R$ 2 milhões, que sacou de imediato na boca do caixa.
As práticas agressivas, irresponsáveis, perdulárias, fraudulentas já eram apontadas por uma consultoria internacional e por uma auditoria, em 2018, que foram interrompidas abruptamente para continuar mais 18 meses na obra de demolição do Cruzeiro.

Alguns conselheiros, dirigentes e um mundo indecifrável de figuras, capazes de qualquer coisa, se descobriu serem donos de passe de atletas, numa intrincada rede de empresas nacionais e estrangeiras que ocultam o verdadeiro titular.

A empresa de consultoria sinalizou que em 2017 o São Paulo ganhou R$ 120 milhões com negociações de seus atletas de base, gastando em formação pouco mais de R$ 30 milhões; lucrou R$ 90 milhões. O Cruzeiro gastou R$ 53 milhões em desenvolvimento e teve receita de R$ 2 milhões, com perda líquida de R$ 51 milhões. Isso é surpreendente.

A Série B, como a vitamina B, faz bem ao crescimento. Curou outros clubes, que retornaram revigorados nas alturas e aprenderam a via certa da sustentabilidade. Outro exemplo de time que entrou nessa via é o Flamengo, que se recriou.

Na outra ponta, a longa agonia do Cruzeiro possibilitou alongar até a última hora as dívidas, os empréstimos extorsivos, as operações inqualificáveis, as sonegações e uma série de imbecilidades em prejuízo do clube. Desvios de materiais, vendas por valores irrisórios de atletas jovens, compra por valores inacreditáveis de jogadores em final de carreira.

Quando era necessário cortar um dedo gangrenado para salvar a mão, nada se fez. No Cruzeiro deixaram gangrenar os dois braços, as duas pernas e até os órgãos reprodutores. Sobrou uma massa em decomposição. Um clube financeiramente aniquilado, enquanto ex-dirigentes esbanjavam saúde e alegria.

Não quero matar a esperança de ninguém, mas alertar que há de se fazer um trabalho enorme de limpeza, enxugamento, restauração da credibilidade e, ainda, político para que leis cabíveis amparem a migração do Cruzeiro para clube-empresa, vinculando-o assim a regras objetivas. Poderá, dessa forma, lançar ações para capitalizar o Cruzeiro, dando ao torcedor e a investidores a possibilidade de participar do seu time e lhe dar sustentabilidade. 

O Cruzeiro, assim como a paixão pelo futebol, tem força para mudar as leis e abrir uma via de reconstrução. Estamos aí para ajudar.

https://www.otempo.com.br/opiniao/vittorio-medioli/recomecar-do-zero-1.2281080


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Comentários:
12
  • Marcão de Varginha disse:

    Falaram que os torcedores azuis pagarão todas as dividas do clube.. se realmente for comprovado que essa dívida foi contraída graças à outros fatores, os responsáveis tem que ser exemplarmente punidos..
    – Pobre torcedor celeste, que prefere assumir dividas pecuniárias de terceiros, do que exigir honestidade e transparência dos que dirigem o clube.. ninguém, absolutamente ninguém, até hoje não se preocupou com o que foi dito por àquele dirigente que também é responsável por ter colocado em dúvida a lisura de alguns campeonatos!
    – O clube numa situação desconfortável, e alguns preocupados em empurrar o lixo para baixo do tapete.. conivência e arrogância lá são matos, e por isso pagarão um preço absurdo.. e olha que a FIFA ainda poderá intervir e a situação piorar..
    – #benecyeternomito

  • Walter Pereira Gallo disse:

    Chico,
    porque o Mister Benecy Queiroz, é intocável?! Se até o Queiroz dos bolsominions, sumiram com ele! Seria este moço um arquivo vivo dos porões do Zerim?
    Um autentico Higlander – ” O guerreiro imortal”

  • Walter Pereira Gallo disse:

    Que série ” La Casa de Papel” que nada! Aqui na série B “La casa de MARIAS” falida, tem um episódio novo a cada dia, como muito mais emoções. E melhor: sem mensalidade! “eu vivo cheio de vaidades”! kkkkkkkkkk

  • AMAURY ALKIMIM disse:

    Isso aí, para uma instituição que está no fundo do poço (espero não ter fundo falso) só resta uma coisa: subir! E isso requer sacrifício, austeridade, trabalho, trabalho e trabalho.Fiquei animado com as dispensas de funcionários caros e jogadores velhos, embora devamos (torcedores celestes) todo respeito ao Henrique pelos seus honrosos serviços prestados, mas a idade chegou para ele, assim como para outros. Dos veteranos eu só deixaria o Fábio para encerrar a carreira ano que vem aqui, por tudo que ele representa para nós e ainda estar em forma, embora não mais no melhor da sua forma, claro.Espero que o Adilson Batista se modernize e coloque o time para jogar para frente, usando jogadores novos e talentosos. Não aguentamos mais retranca como a era do manobol. BASTA! Havendo transparência, honestidade e modernização da gestão, inclusive do estatuto para permitir uma participação mais efetiva de nós torcedores, nós torcedores pagaremos todas as dívidas do Cruzeirão, basta a elaboração de estratégias inteligentes e exequíveis. O GIGANTE AZUL SOERGUERÁ MAIS FORTE!

  • Marcão de Varginha disse:

    Vários funcionários foram demitidos e afastados, outros se debandaram, outros literalmente expulsos… mas há um que se mantém intocável, esperto como uma velha e astuta raposa, à agir na surdina!
    – #benecyeternomito

  • Marcão de Varginha disse:

    Mas é de “estranhar” o fato que Medioli afirmou, mas não citou o nome de quem fez o saque na (sic) “… boca do caixa”: o clima não está bom há meses, e isso só faz aumentar ainda mais desconfiança, intriga interna, acusações…
    – #benecyeternomito

  • Humberto disse:

    O que esta diretoria incompetente do galo esta esperando pra contratar robertinho ex treinador de goleiros do rival? Continuar com chiquinho, ninguem merece.

  • Pedro Vitor disse:

    Já o Benecy Queiroz continua firme e forte igual prego no angu… e os coniventes simpatizantes com suas arrogância tendo que encarar a realidade kkkkk

    • Marcos disse:

      Esse continua, mesmo tendo participado do grupo que acabou com o clube?
      Será que irá ficar pra evitar que o hoje terceiro time de Minas suba pra série A na marra. Ou pior, pra evitar mais rebaixamentos? kkkk
      Brincadeiras à parte, o seu Benecy era mais um no Cruzeiro que deveria ter saído.

      • Pedro Vitor disse:

        Ele é mais forte que presidente, diretor, jogador, camisa 10, ainda mais que quem faz os pagamentos de mala preta ou n o caso mala azul comprovadamente assumidos em um programa de grande repercussão em bh

  • Alisson Sol disse:

    Teve até dirigente demissionário que se atribuiu multa rescisória de R$ 2 milhões, que sacou de imediato na boca do caixa.“. Mas se isto é conhecido, fica a questão: por que não fazer uma rápida cobrança judicial?

    O que preocupa no Cruzeiro não são as dívidas, pois isto é negociável. O que preocupa é que os que cometeram crimes contra o clube ao que parece ficarão impunes. Temos aqui mais uma daquelas situações do Brasil: “todo mundo sabe quem roubou” mas ninguém tem coragem de acusar diretamente. Parece que quem roubou sabe de “roubos anteriores” e com isto cala a boca de todo mundo.

    O problema nunca é a falta de dinheiro: é a falta de liderança.