Jogava muito. Num tempo em que o basquete era o segundo esporte da maioria dos brasileiros. O país tinha craques demais e ele se destacava entre tantas feras. Conheci Gersão no início da minha carreira em Belo Horizonte, e da dele também. A Rádio Capital ficava na Avenida do Contorno, quase na Praça Milton Campos. O Ginástico, do outro lado da Avenida Afonso Pena. Um clube sensacional, uniforme belíssimo, preto e branco, pessoas ótimas, de quem fiquei amigo de tanta gente boa. O Atlético montou um super time de vôlei e mandava seus jogos no belo ginásio do Ginástico. Passei a frequentá-lo com mais frequência, e o Gersão sempre lá. O clube era a extensão da casa dele.
Pois hoje, depois de muito sofrimento, o Gersão se foi. E um dos amigos que fiz no Ginástico, o grande jornalista Ivan Drumond, o “Piranha”, do Estado de Minas, foi quem me deu a notícia, bem cedo. E ainda deu a nós, do blog, a honra de ter este texto dele, falando do enorme Gersão:
* “O adeus a um grande pivô: Gersão”
Morreu, na manhã desta quarta-feira, um dos maiores pivôs da história do basquete brasileiro, Gerson Vitalino, o Gersão, de 60 anos, campeão Pan-Americano em 1987, quando o Brasil derrotou, na final dos Jogos em Indianápolis, os Estados Unidos, por 120 a 115, na prorrogação. Ele faleceu vítima de uma parada cardíaca. Os últimos dias do ex-jogador foram de dor e sofrimento, pois sofria de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) e vinha fazendo o tratamento com a ajuda do clube onde começou, o Ginástico, e amigos que jogaram com ele no clube.
A história de Gersão com o basquete começa quando um ex-treinador do Ginástico, Luis Carlos Dias Corrêa, o Lu, ficou sabendo, através de um funcionário do Colégio Santo Agostinho, onde dava aula de basquete, que um outro funcionário tinha um filho com mais de dois metros de altura e o procurou para levar o então menino, para o clube.
No primeiro treino de Gersão, outro treinador, Elmon Rabelo, assumiu a formação do jogador. A arquibancada da quadra do Ginástico estava lotada. Todos curiosos em ver o gigante. E no primeiro treino, um acidente; ao tentar uma bandeja, Gersão, muito grande, bateu com a cabeça na tabela. Cai segurando a cabeça e reclama: “Esse esporte é muito perigoso, pois nem comecei e já machuquei”.
Mas graças à insistência de Elmon, ele não desiste e ali, nascia o grande pivô do Brasil. Gersão segue jogando no Ginástico. É campeão mineiro em 1979, junto com Bruno, Marcelo Cenni, Ricardão, Luiz Gustavo, comandados por Elmon Rabelo, num jogo contra o Minas, decidido na prorrogação.
O pivô chama a atenção e é convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira. A apresentação é em São Paulo e ele é levado por um diretor do Ginástico, Geraldo Aloísio Dufles. Um por um, os jogadores são chamados, no grande salão, onde acontece a apresentação. E quando chamam o nome de Gersão, todos se fascinam, pois ele era muito grande, 2,10m.
Oscar, terminada a apresentação, se aproxima de Gersão e o vê segurando uma sacola. Pergunta o que é aquilo. Ele diz que era seu tênis. Pede para ver e quando Gersão mostra, se surpreende. Era um tênis de futebol de salão, da marca Equipe.
Oscar pergunta se era com “aquilo” que ele jogava. A resposta afirmativa, seguida de uma explicação. “Lá em Belo Horizonte não tem tênis de basquete para o tamanho do meu pé. Então, um amigo do Ginástico, que tem uma loja de esportes, o Campista, mandou fazer.”
Oscar leva Gersão até sua casa e lhe dá o primeiro par de tênis de basquete de sua vida, da marca Pony, tamanho 54.
Daí em diante, Gersão estará sempre nas listas da Seleção. É contratado pelo Corinthians. Do time paulista vai para a Espanha, defender o TDK. Na volta ao Brasil, joga pelo Corinthians e por Jales.
Na Seleção Brasileira, seus melhores momentos, um em especial, quando dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis’1987. Gersão é um dos convocados do técnico Ari Vidal, ao lado de Oscar, Marcel, Guerrinha, Israel, Maury, Cadum, Paulinho Villas-Boas, Sílvio, Rolando, André e Pipoca.
Na apresentação, para o início dos treinos, Ari Vidal chama Gersão e lhe diz: “Você vai pra pegar rebote. É o que precisamos. Não tem de ficar fazendo cesta. Precisamos de rebote.”
O Brasil vai avançando, derrubando adversário por adversário e chega à final, contra os donos da casa, que tinham como destaque, ninguém menos que um dos maiores pivôs da história de seu basquete: David Robinson, que fez história no San Antonio Spurs e na Seleção dos EUA, ganhando um Mundial e dois ouros olímpicos.
Na final, Gersão foi o destaque. Foi o reboteiro do jogo. E ainda marcou 12 pontos. O Brasil fazia história, ganhava dos EUA, dentro de seus domínios, com Gersão.
Posteriormente, ao encerrar a carreira, Gersão voltou para Belo Horizonte e foi trabalhar como assistente-técnico, no Ginástico, seu clube de origem. E foi o Ginástico e seus companheiros, de quadra, nos tempos em que jogou e os aficionados pelo basquete, que o ajudaram ate o fim de sua vida.
Gersão, ao centro, em pé, no time que fez história ao conquistar o Pan-Americano de 1987 sobre os EUA em Indianápolis. Reportagem de 23 de agosto de 2017, da Gazeta Esportiva, comemorativa dos 30 anos do feito www.gazetaesportiva.com/especiais/basquete-brasileiro-celebra-30-anos-de-um-dos-maiores-feitos-de-sua-historia/
Gersão com o jornalista Ivan Drumond, incentivador de primeira hora.
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