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Ingratidão? No futebol, idolatria é confundida com direitos, justiça, razoabilidade e bom senso

Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro

Manchete do SuperFC para reportagem do Gabriel Moraes: “Goleiro Fábio concorda com torcedor que chamou Cruzeiro de ‘time ingrato’ – Torcedor celeste fazia referência ao zagueiro Léo, que rescindiu contrato com o clube após afastamento por lesão”

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Essa do Fábio foi como tentar apagar incêndio com gasolina!

O surrado (mas sempre atual) ditado serve para o Cruzeiro e para uma situação antiga do futebol: “Em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão”. E tudo se resume em dinheiro. Quando falta, vixe!!!

No futebol, idolatria é confundida com direitos, justiça e razoabilidade. Jogador de futebol sempre se comporta como vítima quando as relações com o clube não vão bem, ou, pior: quando a carreira chega ao fim, ou está comprometida por algum problema de saúde. Mesmo sendo bem remunerado para exercer a profissão, mesmo quando o clube cumpre com os seus compromissos e obrigações. No fim, quando a relação acaba, o clube é sempre o vilão. Quando o jogador é ídolo da torcida, ela, em grande parte, às vezes até maioria, fica a favor do jogador, por mais incrível que pareça. Como se o cidadão tivesse trabalhado de graça para a instituição. O jogador leva o clube à Justiça, ganha fortunas, em muitos casos se aproveitando de um contrato mal redigido, ou pelo que não deveria ter direito, mas que a Justiça  reconhece como tal, desconhecendo que a profissão de atleta é diferente de um trabalhador de qualquer outra categoria. Gilberto Silva, com quase 40 anos de idade, acionou o Atlético alegando, dentre outras coisas que o clube o impediu de continuar exercendo a profissão dele, que tinha uma lesão muito comum em função da idade e do desgaste natural da atividade.

É comum, ex-jogadores que não souberam tocar as suas vidas depois que pararam com a bola, chamar seu ex-clube/patrão, de “ingrato”. Querem auxílio eterno e normalmente ganham apoio de boa parte da imprensa que os trata como coitados, jogando o clube contra a torcida. Ora, ora, eu ou você que está lendo essas mal traçadas linhas, podemos ou temos o direito de agir assim em relação a uma empresa para a qual já trabalhamos ou a um ex-patrão, que nos pagou pelo nosso trabalho?

Há ações contra os clubes, de jogadores cobrando hora extra, adicional noturno, adicional de fim de semana, insalubridade e tantas outras coisas desse tipo, que costumam ser acatadas pela Justiça do Trabalho de forma absurda. Como se jogos de futebol não fossem realizados nos meios de semana à noite e nos fins de semana.

Este ano o zagueiro Dedé, num pedido de mandado de segurança contra o Cruzeiro chegou a argumentar que vivia uma situação análoga à escravidão, por ter o vínculo mantido no clube, sem que esteja recebendo salários. Uai, escravidão? Numa ação de R$ 35 milhões? Reivindicar é um direito, daí a ter direito é outra coisa. Neste caso, o desembargador Paulo Maurício Ribeiro Pires, além de negar o pedido, lamentou publicamente a postura do jogador.

Neste caso do Leo, vejo um único e grave erro do Cruzeiro, que foi expor publicamente o problema físico do jogador. Deu oportunidade a ele de entrar com uma ação por danos morais, das pesadas. No resto, fazer o quê? Pagar o que deve a ele, cumprir o contrato assinado e fim de papo.

Na sequência a notícia completa e as versões de  cada lado:

* “Goleiro Fábio concorda com torcedor que chamou Cruzeiro de ‘time ingrato’ – Torcedor celeste fazia referência ao zagueiro Léo, que rescindiu contrato com o clube após afastamento por lesão”

Foto: Washington Alves/Getty Images

O grande noticiário do Cruzeiro nesta quinta-feira (20) foi a rescisão de contrato com o zagueiro Léo, após passagem de quase 11 anos pela Raposa. Mas um fato chamou a atenção nas redes sociais: em uma publicação do jogador, o goleiro e ídolo do time, Fábio concordou com a opinião de um torcedor sobre o clube ser ingrato com os funcionários.

“É, irmão. Como sempre, a ingratidão toma conta desse time. Infelizmente, os torcedores só cobram quando a ingratidão vem do jogador para o time, porém, quando o time é ingrato com o atleta ninguém se manifesta. Deus vai te honrar como sempre”, escreveu o internauta.

Como resposta, Fábio disse: “Falou só a verdade, fera”. E palmas.

A assessoria de imprensa do Cruzeiro ainda não se posicionou sobre o caso.

Léo chegou ao clube em agosto de 2010 e disputou 401 jogos, onde conquistou dois Campeonatos Brasileiros, duas Copas do Brasil e quatro Campeonatos Mineiros. Ele é o terceiro zagueiro que mais marcou gols pelo clube (22). Veja sua postagem:

“O meu sentimento hoje… é gratidão!

Nação azul, hoje quero compartilhar com vcs sobre o encerramento do meu ciclo no cruzeiro esporte clube.

Como todos sabem, há mais de 10 anos venho me dedicando a esse time e alcançado resultados como campeonatos 2 brasileiros, 2 copa do Brasil e outros.

E quando o clube mais precisou de mim, em 2020, eu permaneci aqui…firme e decidido a trabalhar ainda mais para que o Cruzeiro voltasse para a série A.

Mas infelizmente eu não decido sozinho.

E a diretoria, decidiu de forma unilateral, que meu tempo no Cruzeiro se encerrou.

Essa não era minha vontade, pois gostaria de cumprir meu contrato que vai até 2022.

Eu fui pra Chicago nos eua, fiz um tratamento no início do ano, que me deixou completamente curado e pronto pra voltar aos gramados. E assim seguia minha intenção.

Mas de forma pacífica e respeitosa, terei que encerrar meu ciclo com o clube celeste.

São mais de 10 anos, e muitos títulos. Por isso, finalizo com vcs um ciclo, mas a minha história nesse time, vai permanecer pra sempre no meu coração, e nas páginas heroicas imortais.

Com todo meu respeito e admiração e confesso, muita gratidão pela história que construí, me despeço e sigo em frente !

Quando pensarem em mim e minha passagem pelo clube lembrem-se dessa imagem, ela representa meu sentimento: sempre tentando fazer o meu melhor !

Que Deus abençoe vocês nação azul!
O Cruzeiro precisa de vocês”

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Uol, mais detalhes de toda a situação:

https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2021/05/21/insatisfacao-comum-acordo-e-veto-no-ct-marcam-saida-de-leo-do-cruzeiro.htm#:~:text=Com%20o%20an%C3%BAncio%20pela%20imprensa,pelo%20clube%2C%20por%20essa%20torcida.


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Comentários:
8
  • Robinho ferreira disse:

    Não vi cruzeirense reclamando da dispensa do Léo Chico e sim da forma como foi feita! Léo sempre honrou o clube e seus compromissos, estava sendo impedido até de treinar no clube, o clube solta nota dizendo que foi acordo entre as partes, mas o Léo fala que foi mandado embora. O Cruzeiro agiu muito errado nessa situação. Tem que saber conduzir um encerramento de contrato de um jogador com 11 anos de clube e 8 títulos, e acima de tudo a forma como ele conduziu esses 11 anos. Léo é cruzeirense de arquibancada e sempre mostrou aí torcedor amor pelo clube.

  • Luiz disse:

    Sempre assim…as leis do “casulo futebol” são desse jeito. Os clubes contratam, normalmente por salários absurdos, não dão conta de pagar, dão “finta” a quem vendeu e empurram com a barriga os atletas. Esses vão embora e deixam um rastro de dívidas a receber para trás. Justo que recebam, como também é justo que o clube cobre disciplina , ética e respeito pela camisa que vestem. Dai as causas trabalhistas vão se multiplicando com final na FIFA. Dane-se o clube e nós , os bobos dos torcedores, que sofremos pelo clube. Enquanto isso, os filhos de uma égua que causaram tudo isso estão tranquilos até demais da conta. Enquanto não se atribuir responsabilidades a quem de direito, o futebol brasileiro será essa roda viva cada vez mais nefasta.

  • Juliano Salvador disse:

    Até o Mão de Alface reconheceu… Tardiamente! Fizeram maior sacanagem com os Heróis da Queda, não pagaram até hoje. Léo é apenas mais um, que sai escorraçado, pela porta dos fundos.

  • Flávio Azevedo disse:

    São os jogadores que geram rendas aos clubes, com o dinheiro do torcedor. Ponto final!

  • JEAN CARLOS QUATRINI DE OLIVEIRA disse:

    Agora o jornalista sabe mais de relação de trabalho do que advogados, juízes, desembargadores e ministros! Ninguém ganha nada na Justiça do Trabalho sem que seja direito reconhecido por lei!

  • STEFANO VENUTO BARBOSA disse:

    Tem muita coisa errada na relação dos clubes com os jogadores, muito paternalismo, justificado, na maioria das vezes, porque o clubes não cumprem corretamente com os pagamentos. O caso do Léo é o mesmo do Tardelli, prestou bons serviços, acertem as dívidas, tchau e boa sorte, honrou a camisa, obrigado.