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O América é uma prova de que com transparência e competência um clube de futebol pode ser viável no Brasil

Conheço bem o América das últimas quatro décadas. A Rádio Capital estava chegando a Belo Horizonte e me buscou na Cultura de Sete Lagoas. Tive o prazer de ser escalado como repórter setorista do Coelho, cuja casa principal era o Vale Verde, em Contagem. Para chegar lá, era uma viagem de mais de uma hora. Uma estradinha de terra, movimentadíssima, esburacada. A hoje mais movimentada ainda Av. João César de Oliveira. O clube lutava pela sobrevivência. A convivência com torcedores, funcionários, jogadores, comissões técnicas e dirigentes me cativaram. Passei a gostar do América e admirar a sua luta de forma especial. A rádio me passou para a cobertura do Atlético depois de três meses. Meu roteiro diário passou a ser a Vila Olímpica, mas o carinho pelo Coelhão virou coisa eterna.

Um dia ainda contarei essa história com pormenores, mas, em resumo o grande problema estava no fato do Coelho ser um ex-rico, que não se conformava com a situação. Um “pobre soberbo”, que insistia em querer brigar de igual para igual com Atlético e Cruzeiro. Só se atolava mais. Dirigentes que punham dinheiro do próprio bolso ou pegavam empréstimos, para contratar jogadores e treinadores que não davam em nada. Areia movediça. Atoleiro aumentando. Faz lembrar o que o Cruzeiro está vivendo e o que o Galo viveu até fins de 2008 quando Alexandre Kalil foi eleito presidente, depois da renúncia do Ziza Valadares.

O América era assim, até que nos anos 1990 surgiu uma safra diretiva diferente. Novos de idade e ou de ideias, que apostavam em modernidade administrativa e nas categorias de base. Complicado citar todos os nomes aqui, agora, porque são vários, cada um com a sua importância estratégica, uns, inclusive, que nunca gostaram de aparecer. Outros, por estarem diretamente ligados ao futebol, o mundo americano sabe de cor e salteado, como Magnus Lívio de Carvalho, Marcus e Caio Salum, Luiz Flávio Lanna Drumond, Alencarzinho Silveira, Alexandre Mattos, que se revelou no Coelho, um grande executivo do futebol. Um grupo cuidou do futebol, em sintonia com outro, que cuidou das dívidas, do patrimônio, das negociações, renegociações, da gestão, enfim… Depois de idas e vindas, alguns tropeços feios demais, como o rebaixamento no campeonato mineiro, o América entrou nos trilhos e o trabalhando sendo sendo consagrado agora, no Brasileiro, classificado para a Sul-americana 2022, com grandes chances de chegar à Libertadores. E também na iminência de se tornar clube empresa, o que poderá ser muito bom. Importante é que a fórmula adotada pelo América foi testada e aprovada. Com poucos recursos, mas competente nas contratações, austero nas contas e acima de tudo transparente.

Um nome importante neste processo é o Dr. Paulo Lasmar,  conceituado advogado, que foi membro do Conselho Gestor durante vários anos e ativo colaborador do clube em várias frentes. Comemorando o sucesso do time, ele enviou uma carta a conselheiros e amigos americanos, que a vale ser lida por todos que gostam de futebol, especialmente do América. Confira:

* “Parabéns Marcus Salum e Euler pelo sucesso no futebol. Parabéns Alencar, o Presidente “Pé Quente”.  Parabéns Gasparini, Ricardo Raso e Glauco pela grande conquista e o grande ano do América.
Corrigindo certas distorções e menos erros básicos, certamente estamos chegando onde sempre sonhamos. Muito obrigado pela alegria que vocês estão nos proporcionando.

Pés no chão. Eficiência. Competência. Resultado alcançado. Dinheiro sempre ajuda, mas não é tudo. O próprio América é a maior prova disso. Todos os outros times da A querem fazer igual ao América- MUITO COM POUCO.
Aprendemos com a necessidade, com a escassez, enquanto os outros chafurdaram-se na lama com muito, com o excesso ($$$$).
Esta é a receita do nosso sucesso. O América é um gráfico ascendente desde 2004, com poucas oscilações, valente, resiliente e que segue sempre em frente.
Somente os cegos não enxergam e não reconhecem a nossa grande vocação e virtude, o que sempre nos perpetuará.
O América nunca sucumbiu ou foi submisso nos momentos mais dramáticos da sua existência, sempre sobreviveu, dono do seu próprio destino.
Agora que teremos cerca de 110 milhões para 2022, sejamos prudentes e cautelosos com o canto da sereia.
Que cada um de nós seja responsável por sua opinião, que deve ser externada após sincera reflexão e conhecimento de causa. Cuidado com o badalo dos sinos, para não ouvirmos, no futuro, o som dos canhões.
Que Deus abençoe o América e nos ilumine nesse momento de euforia, mantendo-nos humildes e cônscios das nossas enormes responsabilidades para com a nossa centenária paixão.”
* Paulo Ramiz Lasmar


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Comentários:
10
  • Maria De Fátima Ribeiro disse:

    Av. João César de Oliveira esburacada e de terra ? Ela sempre teve calçamento ou asfalto quando o América treinava no Vale Verde, eu sou moradora antiga de Contagem-MG.

    • Chico Maia disse:

      Olá Maria de Fátima,

      obrigado por refrescar minha memória. Mas tinha uns trechos bens ruinzinhos, né? Nem parecia que era pavimentada.

      Abraço.

      • Maria de Fátima Ribeiro disse:

        Chico Maia,
        Boa tarde,
        O Trecho horrível da Av. João César de Oliveira na época era depois da linha férrea, próximo ao bairro Beatriz, onde hoje tem o 18 Batalhão PMMG

        • Chico Maia disse:

          Ótimas lembranças, prezada Fátima.
          Para mim era a realização de um sonho: estar cobrindo um grande clube, trabalhando com gente que eu ouvia desde criança, ganhando um salário que nunca pensei que ganharia na vida e com uma estrutura profissional inimaginável em relação à que eu tinha na Rádio Cultura de Sete Lagoas: operador de som para montar os equipamentos de transmissão, um fusca novinho com motorista, boas diárias para as viagens dos jogos fora de Belo Horizonte, enfim…
          Um dia contarei essas histórias com detalhes, lembrando inclusive os nomes de todos os companheiros de trabalho, com quem aprendi tanto e a quem sou muitíssimo grato.
          Obrigado pela interação. Grande abraço e vamos proseando.
          Abraço.

  • Marcão de Varginha disse:

    O grande deca-campeão disputará um torneio internacional.. se acaso for na pré Libertadores, que se classifique para a fase de grupos para honrar ainda mais sua tradição e o futebol brasileiro.
    – Vamos, Coelhão, com humildade você chegará lá! Acredite!

  • Marcos CA disse:

    América Mineiro…
    De segunda divisão mineira a participante em competições internacionais. Este é o América!
    Já é a segunda força de Minas.
    Já o Cruzeiro, coitado… passou a se nivelar a times como Villa Nova e Ipatinga.
    Parabéns ao América!

    • Rafael disse:

      Prefiro olhar para o América MG como sendo a única referência para construção de sua história.. Trabalhar duro para, hoje, ser melhor do que fomos ontem… Não somos nem seremos melhor que os outros… Seremos sempre melhor que nós mesmos.

      O chico sempre diz “Toda arrogância será castigada”.

      Eu prefiro plagiar a frase que esta no manual do fabricante;
      A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.

      Chagamos aqui com muito humildade e espero que o AMERICA continue o seu caminho se apoiando nela.

  • Paulo Lasmar disse:

    Prezado Chico,
    Surpresa com a coluna, mas ao mesmo tempo feliz com o reconhecimento ao trabalho de todos os dirigentes do América. Cito ainda Paulo Afonso Alves da Silva e Antônio Baltazar, além de todos que integraram as diretorias , conselhos gestores e Administrativos do clube. O América sempre foi uma obra de muitos.
    Forte abraço,
    Paulo Lasmar

    • Rafael disse:

      Parabens pela lembrança do Gigante Antônio Baltazar que aceitou conduzir o America No PIOR momento da sua história… E o fez com dignidade e maestria.

      Parabéns a todos que de alguma forma contribuíram para levar o America onde ele chegou…

    • Huener disse:

      Adicione aí o atleticano Eller, Filho do Vento! O que ele fez, entre 2006 e 2011, ajudou a reerguer o Coelhão dentro e fora de campo! Espero um dia vê-lo como dirigente ou treinador do Coelhão!