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Curiosidade em torno da reação do Fred Melo Paiva em caso de um novo bicampeonato do Galo

Muita gente que leu a coluna do grande jornalista e escritor após a conquista do Brasileiro está querendo saber se ele vai repetir a dose. Naquela quinta-feira, depois da virada sobre o Bahia, o Fred se esbaldou até apagar numa mesa de bar. Mas antes, tomou até uma involuntária garrafada na cabeça. Porém, estava em boas companhias e teve uma assistência muito especial, além da proteção de todos os santos alvinegros. Confira a coluna no Estado de Minas, do dia 4:

* “Cinquenta anos em cinco: relatos de uma noite de galoucura”

Fred Melo Paiva

Desde 2013, venho alertando para este fato transcendental: 2 a 0 contra é a nossa senha pra falar com Deus

Consta que Juscelino Kubitschek, coitado, era cruzeirense. Por isso seu lema, “50 anos em cinco”, não serviu pra gente e fomos obrigados a melhorá-lo. “Cinquenta anos em cinco minutos” – aí, sim, ficou na medida exata. Isso posto, e campeões, agora está tudo em seu devido lugar.

Na quinta-feira, insisti com o amigo Rodolfo Gropen para que viesse ao Espeto na Veia assistir ao jogo comigo, afinal, o bar fica na rua atrás de Meca (a sede de Lourdes), o que nos pouparia a peregrinação no caso da conquista do título impossível. Gropen chegou ao furdunço na segunda etapa e só o localizei quando a vaca partiu em caminhada rumo ao brejo – bastou encontrá-lo e, pimba, 2 a 0 pro Bahia.

Neste momento, com o corvo pousado no umbral, um desconhecido se aprochegou com uma estranha pergunta: “Vocês estão pensando em quê?”. Não falamos nada, nem eu nem o Gropen, porque quem fala demais dá bom dia a cavalo, e revelar certos pensamentos, é sabido, acaba por quebrar o encanto. Soube depois que o amigo pensava nos 100% de aproveitamento nos oito jogos que já vimos juntos, parceria ao estilo Lennon e McCartney, Coutinho e Pelé.

Da minha parte, eu só conseguia pensar que o Bahia acabara de cutucar o Galo com a vara curta. Desde o Pelourinho, um suposto pai de santo havia gravado um vídeo informando sobre seus trabalhos – entre eles, e segundo o próprio, tinha colocado o nome do Atlético na boca de um sapo e costurado um lábio no outro, credo, de modo que tava tudo acertado com o Tranca Rua. Esqueceu-se, porém, de combinar com Deus. E aí é que entra o 2 a 0.

Desde 2013, venho alertando para este fato transcendental: 2 a 0 contra é a nossa senha pra falar com Deus. Basta o adversário alcançar o auspicioso placar para que dispare o bina do homem lá em cima. E, então, abrindo espaço entre as nuvens, Ele aponta para o estádio lá embaixo e dá o comando: “Vira”. É um raio que cai recorrentemente no mesmo lugar. Aconteceu contra Newell’s Old Boys, Olimpia, Corinthians, Flamengo, Bahia. Todos cometeram o mesmo imperdoável equívoco: fizeram o segundo gol achando que isso era uma vantagem.

Deus certamente tinha outras urgências, pois desta vez resolveu a contenda a toque de caixa, sem lenga-lenga, sem coré-coré. O bar explodiu naquela conhecida convulsão social – pessoas em ataques epiléticos abraçando e beijando desconhecidos, aquele covidário a céu aberto, eu mesmo já havia engolido a minha máscara quando o juiz apitou o fim do jogo. Uma choradeira danada. Há bêbados que ficam violentos. Outros, excessivamente felizes. O atleticano é o bêbado que chora.

Vagamos pelas ruas, eu e o Gropen, a dar e a receber os ômicrons da nossa felicidade. Cantamos e choramos, bebemos e acabamos num japonês. Foi aquela dosezinha de saquê que iniciou o processo de aniquilamento, ficam isentas de culpa as 843 Heinekens anteriores, incluindo aquela que me foi lançada sobre a carcaça craniana em razão de Keno, motivo pelo qual meu cabelo ficou parecendo o do presidente do Cruzeiro, todo empastelado no gel. Pois bem, dormi na mesa: um atleticano finalmente abatido pela overdose de Atlético. O Gropen foi diretor e presidente do Conselho do Galo. É um grande advogado. Mas seu melhor ofício exerceu na quinta, a essa altura, sexta – é um perfeito anjo da guarda, e eu o recomendo a todo atleticano disposto a perder a razão.

Perder a razão, contudo, não é exatamente uma escolha. É um estado natural de quem não tem um coração de pedra e precisa lidar com essas coisas de Atlético. Por que sempre esse épico monumental? Por que nunca um filme calmo, em vez dessa novela mexicana? É por isso que minha mãe está sempre a alertar para o risco do infarto. Mas com os checkups semanais a que somos submetidos, mais fácil morrer de galoucura.

Pois amanhã tem mais! Meu Deus, chama o Gropen! E ainda falta a Copa do Brasil… Em que estado lastimável chegaremos ao dia 15, data da finalíssima? Não há casamento que sobreviva a uma coisa dessa, não há emprego que se mantenha, não tem cheque especial que nos aguente. Tamo lascado!

Agora, cês me dão licença, que eu vou ali dá uma choradinha com os vídeos do Reinaldo, do Éder e do Mário Marra. “As lágrimas escorrem em minha face!”, narrou o Vilibaldo Alves aos 45 minutos do segundo tempo em 19 de dezembro de 1971. Aqui desce é tromba d’água. Tá fácil não.

* Fred Melo Paiva

https://www.em.com.br/app/colunistas/fred-melo-paiva/2021/12/04/interna_fred_melo_paiva,1328367/na-magia-do-bicampeonato-os-relatos-de-uma-noite-de-galoucura.shtml


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