Retornei de Moçambique para Johanesburgo e passei o dia na correria ajeitando as coisas para o retorno ao Brasil.
Neste momento, quase 21h30 aqui, tento arrumar as malas para me mandar bem cedo amanhã para o aeroporto. Sempre deixo muita coisa para última hora.
Moçambique é uma volta no tempo. Nas rádios, TVs e jornais, ensinamentos à população que eram feitos no Brasil nos anos 1960. Como escovar corretamente os dentes, lavar as mãos após uso do sanitário e coisas tais, além de uma enorme campanha de prevenção ao vírus da Aids, chamado por eles de Sida.
A TV Record é fortíssima e manda muitos programas brasileiros para lá. E a Igreja Universal mais forte ainda. Na principal avenida de acesso a Maputo, um enorme templo dela!
Na chegada a Maputo a gente leva um susto ao se deparar com uma imagem diferente. É como entrar num túnel do tempo. Prédios antigos, mal cuidados, alguns em ruinas e muito lixo espalhado pelas largas e compridas avenidas, quase todas com nomes de líderes comunistas mundiais: Karl Max, Lenine, Mao TseTung e centenas de outros, Sobrou até para o pai daquele maluco, atual dono da Coreia do Norte, Kim Jong-I, sei lá das quantas.
A história de Moçambique é muito interessante, de um sofrimento de mais de 500 anos nas mãos dos portugueses que sempre trataram o povo a ferro e fogo, igual fizeram conosco antes da chegada de Dom João VI em 1808. Os moçambicanos não tiveram a felicidade de aparecer um Napoleão Bonaparte, para botar o então comandante de Portugal para correr. Ou melhor, não tiveram a felicidade de Dom João escolher a terra deles para se refugiar. Não tivesse sido isso o Brasil seria uma África, subdividida em centenas de países, cada um falando seus dialetos e uma guerra civil atrás da outra.
É inacreditável que Moçambique, Angola e outros países ocupados por portugueses aqui na África tenham conseguido a independência deles somente em 1975. E mesmo assim à custa de muito sangue. Depois da libertação de Portugal, sangrenta guerra civil entre comunistas e capitalistas, apoiados de um lado pela então União Soviética e Cuba, e por outro lado por Estados Unidos e a então direitista de ditadura radical branca África do Sul. Uma tragédia total. Os comunistas venceram e ninguém saberá dizer o que teria sido melhor.
Maputo é uma das melhores capitais da África (tirando as da África do Sul), e é até difícil imaginar como são as outras. É quase um caos! O trânsito é infernal. Buzina é o normal. A maioria da frota de veículos é antiga, muitos caindo aos pedaços, mas há carrões chics também. A cidade inteira é ocupada por feiras de camelôs que vendem de tudo que se possa imaginar. O transporte público é feito por vans, cujos motoristas e trocadores quase saem no tapa por um passageiro. Quase todas aos pedaços! Pedintes crianças, jovens, adultos e velhos, em todo lugar onde haja algum sinal de estrangeiro de qualquer parte.
O dinheiro deles é o metical, que perdeu três zeros recentemente. Um novo metical vale R$ 20,00. As coisas não são caras. Fiquei no hotel Costa do Sol, na orla. Não é nenhuma Brastemp, mas o apartamento é muito bom, padrão três estrelas, e custa R$ 70,00 a diária.
O sonho da maioria dos moçambicanos com quem conversei é conhecer o Brasil. Se pudessem morar no Brasil, melhor ainda; sonho dos sonhos.
Valeu demais a pena ter ido lá, apesar de ter sido muito rápido. Dizem que têm algumas das praias mais bonitas de toda a África, mas ficam distantes de Maputo, há quase 500 Km, ao Norte. A mais falada é Pemba, que na minha região de Sete Lagoas e adjacências é sinônimo de demônio!
Um povo de uma gentileza espetacular, que está tentando iniciar a construção de uma nação. Um dia volto lá, especialmente para Pemba, que ainda não conheci!