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Romário: “Hoje podemos comemorar; exterminamos um câncer do futebol brasileiro”

O grande problema agora é: quem está sucedendo ao Ricardo Teixeira.

Este José Maria Marin é danado também.

O primeiro a saudá-lo, efusivamente, foi o presidente do São Paulo, Juvenal Juvênio, que está à esquerda dele, nessa foto, no portal do “Estadão”.

Que figuras!

Parecem personagens de “O Poderoso Chefão II”.

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Reportagens da Agência Estado e jornal Hoje em Dia.

* “Romário comemora fim de ‘câncer’ do futebol brasileiro

Deputado festeja saída de Ricardo Teixeira em sua página no Facebook, mas teme que Marin possa ser problema semelhante

O deputado federal Romário (PSB-RJ) comemorou nesta segunda-feira (12) a renúncia de Ricardo Teixeira do cargo de presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

“Hoje (segunda-feira) podemos comemorar. Exterminamos um câncer do futebol brasileiro. Finalmente, Ricardo Teixeira renunciou a presidência da CBF. Espero que o novo presidente, José Maria Marín, o que furtou a medalha do jogador do Corinthians na Copa São Paulo de Juniores, não faça daquele ato uma constante na Confederação. Senão, teremos que exterminar a aids também”, escreveu Romário.

O ex-atacante lembrava o episódio da final da Copa São Paulo deste ano, quando Marín, um dos responsáveis pela entrega das medalhas aos campeões, foi flagrado colocando uma delas no bolso. Depois, explicou que era uma cortesia a que tinha direito. Nesta segunda, em sua entrevista coletiva de posse na CBF, o dirigente classificou a repercussão daquilo como uma “piada”. 

Crítico ferrenho de Ricardo Teixeira e da CBF, Romário indicou não ter esperanças de que as coisas entrem nos eixos no futebol brasileiro. “Acho muito difícil e quase impossível (que) a CBF dê uma nova cara para o nosso futebol”, escreveu ele, logo após desejar boa sorte a Marin. 

O deputado carioca encerrou o texto mantendo sua linha de atuação e mais uma vez pediu uma limpa na CBF. “Não só acredito, mas também espero, que uma limpeza geral deve ser feita na CBF. Só então, definitivamente, poderemos ficar tranquilos de que a mudança acontecerá em todos os sentidos”, concluiu Romário.

* A carta renúncia

Em carta, Ricardo Teixeira se diz subvalorizado e exalta títulos; leia na íntegra

Ex-presidente da CBF não detalha problema de saúde que o teria afastado do cargo

Na carta lida por José Maria Marin na manhã desta segunda-feira, Ricardo Teixeira dá ênfase às conquistas e não detalha os motivos de sua renúncia. Segundo o dirigente, ficar 23 anos no comando da CBF foi uma “experiência mágica”. Leia o documento, na íntegra:

“Ser presidente da CBF durante todos esses anos representou na minha vida uma experiência mágica. O futebol, no Brasil, é mais que esporte, mais que competição. É a paixão que envolve, é o sofrimento que alegra, é a fidelidade que unifica.

Por essas razões, pensei muito na decisão que ora comunico e pensei muito no que dizer sobre minha decisão.

Presidir paixões não é tarefa fácil. Futebol em nosso país é sempre automaticamente associado a duas imagens: talento e desorganização. Quando ganhamos, despertou o talento. Quando perdemos, imperou a desorganização.

Fiz, nestes anos, o que estava ao meu alcance, sacrificando a saúde, renunciando ao insubstituível convívio familiar. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias. Mas isso é muito pouco, pois tive a honra de administrar não somente a Confederação de Futebol mais vencedora do mundo, mas também o que o ser humano tem de mais humano: seus sonhos, seu orgulho, seu sentimento de pertencer a uma grande torcida, que se confunde com o país.

Ao trazer a Copa de 2014, o Brasil conquistou o privilégio de sediar o maior e mais assistido evento do mundo, se inseriu na pauta mundial, alavancou mais a economia e aumentou o orgulho de todo o povo brasileiro. 

Tentei, no limite das minhas forças, organizar os talentos. Nas minhas gestões, criamos os campeonatos de pontos corridos e a Copa do Brasil, aumentamos substancialmente as rendas do futebol brasileiro, desenvolvemos o marketing e, principalmente, vencemos.

Hoje, deixo definitivamente a presidência da CBF com a sensação do dever cumprido. Não há sequência de ataques injustos que se rivalizem à felicidade de ver, no rosto dos brasileiros, a alegria da conquista de mais de 100 títulos, entre os quais duas Copas do Mundo, cinco Copas América e três Copas das Confederações. Nada maculará o
A mesma paixão que empolga, consome. A injustiça generalizada, machuca. O espírito é forte, mas o corpo paga a conta. Me exige agora cuidar da saúde.

Em obediência ao estatuto da CBF, mais precisamente ao disposto em seu artigo 37, você, meu vice-presidente e ex-governador de São Paulo, José Maria Marin, passa a presidir a CBF. A você, desejo sorte, para que o talento se revele na hora certa; discernimento, para que o futebol brasileiro siga cada vez mais organizado e respeitado; e força, para enfrentar as dificuldades que certamente virão.

Deixo a CBF, mas não deixo a paixão pelo futebol. Até por isso, a partir de hoje e sempre que necessário, coloco-me à disposição da entidade. Reúno-me com mais força à minha família, que entendeu minha missão, apoiou-me sempre e me faz ainda mais feliz.

Agradeço de maneira especial aos presidentes de clubes e das federações estaduais, aos dirigentes e colaboradores da CBF, amigos leais em quem sempre encontrei apoio incondicional para o desempenho de meu trabalho.

À torcida brasileira, meu muito obrigado. Nunca me esquecerei das taças sendo erguidas. Elas estão no coração de cada um de nós. Elas são um pedaço do Brasil.

Ricardo Terra Teixeira”

* http://www.estadao.com.br/


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Comentários:
19
  • ALISSON SOL: Concordo em parte com que vc disse, mas que “certo dirigente” celeste aliou-se à cartolagem traiçoeira e ajudou à detonar o clube dos 13 não há mais dúvida! Se ainda existisse tal clube, com certeza seus filiados teriam mais força e moral conjunta prá negoviar valores pecuniários ainda mais vantajosos; o que aconteceu é que a maioria dos cartolas trairam literalmente os clubes mais “resistentes”, e esses no “fritar dos ovos”, tiveram que assinar, embora contrariados, o que a emissora do Plim-Plim ofereceu, embora que houve um “aumento” no contrato!
    – O dirigente que ousar peitar a Globo, com certeza será torturado, massacrado, enforcado e esquartejado, isso se não tiver o apoio dos demais, pois, “uma andorinha só naõ faz verão”! E viva a hipocrisia, a “amizade” e “honestidade” que cerca o pobre futebol brasileiro…

  • Alisson Sol disse:

    Marcão: na parte relativa à CBF, eu concordo 100% com seu comentário.

    Agora, em relação este complexto contra o “eixo RJ-SP” ou questões sobre “negociações com a Globo”, acho que você precisa simplemente simplemente olhar os fatos. O fato é que todos os clubes brasileiros dependem do dinheiro da Rede Globo, que atualmente é a única sólida empresa de comunicação no Brasil (apesar de ter recebido também ajuda do governo no passado).

    O dia em que um dirigente brasileiro de um dos grandes clubes disser que “façam o compeonato sem nosso clube”, e cumprir, aí estaremos diante de alguém diferente. O que vai acontecer? Nada. Não tivemos já casos e mais casos de clubes que declararam dificuldades e não disputaram campeonators regionais, Copa do Brasil, etc.? Alguns dirigentes tentam aparecer para sua torcida, fazendo declarações bombásticas e atrasando a assinatura de contratos. Mas, ao final, assinam exatamente o mesmo contrato que os outros clubes.

    O dirigente que desejar mudar as coisas, tem de sair do discurso e fazer algo diferente. Ameaçar todo ano e ao final assinar fazendo beicinho não é nada diferente.

  • Sem querer fazer trocadilho com o futebol, mas na CBF “trocaram 6 por meia dúzia”! É de lascar… pobre futebol brasileiro, que num passado não muito distante fora o melhor do mundo!
    – Com a “renúncia” do Ricardo Teixeira, agora é mais uma oportunidade para que nossos cartolas exigissem transparência, honestidade e mais profissionalismo no futebol, e exigirem a mudança da sede da CBF prá Brasília, onde essa outrora deveria ter sido fixado desde sua inauguração. Se eles deixarem o tempo passar e dar mais tempo pro José Maria Marin dar “continuidade às obras” do ex-presidente, continuaremos à mercê das decisões pró eixo Rio-SP (vide “negociação” dos clubes com a Globo, fora a “trairagem” de certo ex-dirigente azul com o futebol mineiro, que literalmente detonou o clube dos 13, prá infelicidade da maioria!).

  • Paulo Koller disse:

    Chico e pessoal do blog:

    Não se iludam: Ricardo Teixeira saiu como, quando e, pior, porque quis da CBF. Escândalos de caixa 2? Influência nefasta? Dilma o ignorando? Nada disto afeta um sujeito como ele. Provavelmente a fonte de motiva$$$$ão secou. E aí ele largou o osso.

  • Ricardo Lemos disse:

    Este José Maria Marín foi vice do Paulo Maluf antes de ser vice do Ricardo Teixeira. Teve dois grandes mestres. Por isto, no episódio da Taça São Paulo, mostrou que é o ladrão quem faz a ocasião.

    Ele deve ficar só até 2015. E este período deve ser de predomínio absoluto dos paulistas. Depois ele deve ser substituído pelo Andrés Sánchez. Aí o predomínio absoluto vai ser “curíntias”…

  • Rafael disse:

    Não posso fazer pre-julgamento, mas que este dois da foto acima parecem dois mafiosos parecem. Olha a carinha deles.

  • Maria Alice disse:

    O pior é que tem gente que ainda acredita em Romário, Bebeto, Ronaldo e cia.

  • audisio disse:

    Chico, pouco se está comentando sobre a liberação parcial dos assentos com visão limitada no estádio Independência.
    Um dos pontos a serem levados em consideração, visto que parece ter muito pouca gente pensando, é que a liberação destes assentos com visão limitada poderá causar um impacto imenso nos assento que estão sem problema de obstáculo. Os espectadores que terão sua visão atrapalhada possivelmente terão que se levantar para poderem assistir aos jogos e não simplesmente escutá-los ao vivo, isto resultará num efeito cascata pelas arquibancadas que obrigará os outros espectadores se levarem criando um imenso desconforto para todos e principalmente para aqueles que pagaram preço cheio no ingresso para terem uma visão completa e desimpedida do espetáculo.
    Como aqui em Minas a maioria das coisas se resolve depois que o problema aparece e sem muito planejamento, lanço agora a questão para as autoridades: Como será solucionada esta questão? Teremos os jogos com todo mundo em pé? E a questão da segurança com estes espectadores em pé numa altura daquelas? Estarão os ânimos muito mais acirrados pelo famoso “Vamos assentar aí gente” do que pela cerveja?
    Não seria melhor resolverem de uma vez por todos apresentando uma solução arquitetônica para o problema?
    Obs: Não acho que a culpa foi dos bombeiros neste caso, a culpa foi dos projetistas e arquitetos que não souberam reunir segurança com beleza e funcionalidade!
    Que se achem materiais ideais que tenham as características necessárias para solucionar a situação sem jamais abrir mão da segurança como também do conforto do espectador!

  • O RAIO QUE CORTA A NOITE

    O RAIO QUE CORTA A NOITE

    O silêncio era irritante naquele quarto. Pela janela entreaberta era possível observar a escuridão do céu; nenhuma estrela, nenhum cometa a cortar a sua negritude, apenas a imensa e tétrica cortina. Na rua, nenhuma vivalma, nenhum carro, moto ou animal; apenas as almas perambulando sem destino, numa incessante busca por um conforto, por um lugar pacífico, onde pudessem aquecer seus gélidos corações.
    A televisão desligada; a cama bagunçada; os lençóis sujos de sangue (o seu sangue); as roupas jogadas no chão; o seu corpo caído sobre a cama; o revólver ainda quente, do seu lado. Não, não sentia dores. Não tinha medo. Apenas um incômodo aperto no peito e uma interminável aflição. As lembranças vinham lenta e continuamente à sua mente, causando-lhe uma constrangedora vontade de chorar. Temia que alguém o olhasse, por isso não chorava.
    Procurou desapegar-se. Tirou a tristeza do peito e guardou-a em um cantinho da cômoda. Consertou o seu corpo sobre a cama; fechou-lhe os olhos e e fez um sorriso irônico em seu rosto pálido. Não fez as malas, nem se despediu (Não havia de quem se despedir); abriu a porta e, sem olhar para trás, foi andando, lentamente, até desaparecer na escuridão. Neste instante, um cometa, feito um raio, cortou o manto escuro do céu.

    VEJAM MEUS TEXTO EM http://www.elismarsantoss.blogspot.com , sigam-me no http://www.twitter.com/@ElismarSantos e no Facebook.com.br/ElismarSantos

  • Carlos disse:

    Tá na hora dos clubes precioanrem a FMF para que a mesma lute por mudanças, com todo respeito ao presidente, ficar no muro não dá! Defenda os interesses dos filiaods.

  • fernando disse:

    Que máfia…. nada vai mudar. Romário pra presidente da CBF!

  • EDUARDO BH disse:

    O novo presidente assumiu afirmando que não será uma mudança de direção, e, sim continuismo.
    Daí o nosso descredito.

  • geovany altissimo disse:

    vergonhosa a cobertura que o jornal nacional fez ontem sobre a renuncia do Ricardo Teixeira. Parece que o país inteiro está errado, e o bom é o RT. um jornalismo tendencioso, hipocrita, paternalista, fico até com pena dos profissionais que teem que se passar por situação tão vexatoria.

  • bessas disse:

    Chico,

    Vamos correr pra onde? Estamos lascados! Vai mudar alguma coisa? Nada.

  • Fabio disse:

    Hora boa para saber o porque o Sr. Aécio e o Sr. Zezé Perrela, protegeram tanto ou melhor blindaram o Sr. Ricardo Teixeira na CPI?

    Chico, já que imprensa mineira não apoia e não fala, nem admite você poderia fazer uma apanhado aí sobre o Kalil, pois foi o ÚNICO a brigar pela Sul-Minas, o ÚNICO a lutar com todas as forças por uma concorrência justa dos direitos da TV, o ÚNICO a lutar pelo clube dos 13 (instinto por interesses particulares), o ÚNICO a ser oposição aberta ao Sr. Ricardo Teixeira e o ÚNICO neste momento a levantar a voz em pró interesses dos clubes exigindo mudança.

    P.S – Minas e o Brasil cobra este tipo de atitude, mas como é o Kalil quem o faz, é sempre desqualificado (pela imprensa de Minas), podemos valorizar um pouquinho, hein?
    Na sua matéria lembre também, que em todos estes momentos, não teve o apoio do Cruzeiro e muita delas foi traído com facada nas costas, em parceria do Sr. Teixeira.

  • J.B.CRUZ disse:

    A cada dia, ROMÁRIO surpreende pela sua irreverência e franqueza em suas observações….Faz jús ao salário de parlamentar pago com dinheiro do contribuinte…

  • Carlos Brito disse:

    Chico,
    Ricardo Teixeira é a mosca azul a zumbizar que sai afugentada, quando a merda já tá putrefata. Uma outra mosca azul entrará em seu lugar, para pousar na latrina cheia da Globo.
    Quem governa a CBF é a Globo, o resto é marionete.
    Como derrubar uma ditadura no Brasil?
    Usando o controle remoto, no silêncio de nossas salas,uai!
    Seja um revolucionário, empunhe se controle remoto.
    Sem nossa mobilização, nada vai mudar, nada!
    http://twitter.com/@cabrito2606

  • luiz disse:

    Chico..

    Para que nunca mais tenhamos ditadura nesse país.
    Outro dia lendo um pos seu sobre Carlos Lacerda me deparei com um leitor debatendo com vc. Por isso, ví essa materia no Blog do Juca Kfouri e resolvví repassa-la a vc. Vale a pena dar uma lida
    Abraços

    Luiz

    A caderneta de Norberto
    Guardada há 42 anos, a carta de um jovem professor da USP morto pela repressão ecoa nos tribunais e desnuda o Brasil da tortura
    Flávio Lobo*

    Arquivo Pessoal
    Norberto Nehring com a filha Marta,

    que só quis ler a carta na adolescência

    Ela é pequena, leve e tem capa de plástico vermelho. No canto inferior direito da capa, a palavra “NOTE” ainda é fácil de reconhecer, apesar de a impressão ter esmaecido e de seu provável dourado original estar agora mais para o cobre. Na parte de dentro, 42 folhas de papel quadriculado, do tipo usado em cadernos de desenho, estão coladas numa folha de papelão não muito grosso, presa à capa. As duas primeiras páginas e as 70 últimas estão em branco (amarelado). Nas restantes, há mais de quatro décadas lê-se uma carta de despedida.
    Em algum lugar na cidade de São Paulo, em meados de abril de 1970, o economista Norberto Nehring, de 29 anos, abriu a caderneta, virou a primeira página e começou a escrever para a mulher e a filha:

    Ia e Marta,
    Minhas adoradas
    Cheguei num sábado aqui na terra e, tristeza, já estou frito. Frito!

    Norberto voltara ao Brasil havia poucos dias. Desembarcara no Aeroporto do Galeão, no Rio, com documentos falsos. O nome que constava nos papéis de identidade combinava com seus olhos claros e a ascendência germânica. Já a nacionalidade argentina poderia levantar suspeitas. Mas não foi a esse ponto fraco que Norberto atribuiu sua triste situação, pelo que relataria a seguir:

    Logo de cara dei com um conhecido da Pfizer, que arregalou os olhos. Isto deixou-me nervoso e também, por um anterior excesso de confiança, terminei por errar meu nome na portaria do hotel… Que besteira! Custou-me a vida.

    Militante da Aliança Libertadora Nacional, a ALN, grupo guerrilheiro que lutava para derrubar a ditadura militar e fazer a revolução socialista no País, Norberto sabia dos riscos que estava correndo. Vários de seus companheiros tinham sido mortos, entre eles o fundador e primeiro comandante da organização, Carlos Marighella. Outros estavam presos ou desaparecidos. Nos cárceres, as torturas eram brutais e sistemáticas.

    Norberto já tinha sido preso. Numa manhã de janeiro de 1969, policiais do Departamento de Ordem Política Social (Dops) cercaram a casa onde vivia com a mulher e o levaram. Nos dez dias que passou na carceragem, foi interrogado, sofreu ameaças, testemunhou torturas. Como seu grau de envolvimento com a guerrilha ainda não era de conhecimento do Dops, foi liberado para comparecer ao aniversário de 5 anos da filha. Só passou pela festa e fugiu. Logo foi para Cuba, onde iniciou treinamento militar com intenção de voltar ao combate no Brasil.

    Maria Lygia, a “Ia” da carta de despedida, foi com a filha Marta para Cuba, encontrar Norberto. Técnico em química e graduado em economia pela USP, ele até foi convidado a permanecer na ilha trabalhando com petróleo. Mesmo ciente de que o precário treinamento militar que recebia por lá não seria muito útil no Brasil, ainda assim manteve a decisão de retornar ao País. Norberto, que antes de ser preso dava aulas na USP, acreditava que poderia semear a revolução fazendo trabalho de base, conscientizando trabalhadores e estudantes, articulando a luta política. Ao chegar, viu que seus planos dificilmente vingariam.

    Imediatamente segui para Niterói, mas eles não desgrudaram mais de mim. Fiz o possível, mas são sempre muitos à distância e 4 ou 5 ao meu lado.

    No domingo já estava eu em Campos e depois Vitória e Belo Horizonte. E sempre eles, crendo que sou um “grande líder”, armando emboscadas pelo caminho a fim de surpreender os meus salvadores (?).

    Depois de tudo, decidi vir para S. Paulo simplesmente pq tanto me fazia vir para cá como ir para qq outro lugar.

    Sem perspectiva de fuga e pressentindo o desfecho da perseguição, Norberto virou mais uma folha da caderneta e escreveu:

    Minhas adoradas, perdoem-me por isto – quer dizer, por morrer ou ir preso (e eventualmente morrer lá). Nesta vida a senda é estreita. Pisou fora, morreu.

    Ainda escreveu mais três páginas. Ao final, se despediu da mulher e da filha, que ainda estavam em Cuba, mas iriam para a França. Pediu a Maria Lygia para que não voltasse ao Brasil por uns tempos, que ficasse com Marta na Europa. No verso da última página, registrou outro pedido: que a caderneta fosse entregue a sua mãe, Nice Monteiro Carneiro Nehring, numa repartição da Justiça do Trabalho, em São Paulo.

    Passados 42 anos, na tarde de 1º de março de 2012 a carta de Norberto finalmente chegou a um tribunal. Em julgamento na Justiça Federal de São Paulo, o desembargador Rubens Calixto leu, emocionado, trechos da caderneta. Estava em jogo um recurso da União, condenada em primeira instância a pagar indenização por danos morais e materiais à mulher e à filha da vítima.

    Por decisão unânime de três juízes desembargadores do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, foi mantida a condenação por danos morais, fixada em R$ 200 mil, e refutada a indenização por danos materiais. Convencidos de que Norberto foi assassinado por agentes do Estado, os magistrados confirmaram o dever de reparação dos sofrimentos causados à família. Mas, como nos meses anteriores a sua morte, Norberto vivia na clandestinidade, sem trabalho e renda, acharam não ser cabível a segunda indenização.

    Presente ao julgamento, Maria Lygia Quartim de Moraes, professora titular de sociologia da Unicamp, sentiu-se aliviada pelo reconhecimento judicial de pontos que considera fundamentais: a responsabilização do Estado, o direito a reparação e o registro, ainda que incompleto, da verdade factual. Verdade encoberta pelos perseguidores do marido, que armaram uma farsa para esconder as circunstâncias reais da sua morte.

    Como queria Norberto, a carta foi entregue a sua família (quem a recebeu da polícia foi seu sogro, Neddy Quartim de Moraes). De acordo com a versão oficial, baseada em inquérito da Polícia Civil, a caderneta fora encontrada em um quarto de hotel no centro de São Paulo, onde ele teria se enforcado com uma gravata. A despedida se explicaria, portanto, pela decisão do suicídio.

    Coube a Maria Lygia e Marta – com o apoio de amigos como Paulo Vanucchi, ex-titular da Secretaria Especial de Direitos Humanos no governo Lula, os advogados Belisário dos Santos Junior e Rubens Naves, organizações como a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, além de Paulo de Tarso Venceslau e outros ex-integrantes da ALN – esclarecer a morte de Norberto e lutar pelo reconhecimento oficial de seu assassinato por agentes da repressão.

    Seu corpo foi enterrado no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, com o nome que constava nos documentos falsos – Ernest Snell Burmann – o que só foi informado à família três meses depois, quando a identificação das marcas de tortura já não era mais possível. O reconhecimento deu-se pelo exame da arcada dentária. Vários anos depois, Marta descobriria no IML a existência de duas fichas registrando diferentes causas de morte, “asfixia mecânica” e “afogamento”. Fotografias certamente feitas pela perícia jamais foram encontradas.

    Depoimentos à Justiça Militar de dois presos políticos também ajudaram a desconstruir a versão de suicídio. Diógenes Arruda Câmara e Paulo de Tarso Venceslau denunciaram a morte do companheiro nas dependências da Operação Bandeirantes, a Oban, famigerado centro de tortura, de onde seu corpo teria saído em caixão.

    Em julho de 2002, o atestado de óbito de Norberto foi o primeiro a ser retificado com base na Lei 9.140, de 1995, pela qual o Estado reconheceu sua responsabilidade por mortes e desaparecimento de presos políticos. Oficialmente, desde então, sua morte consta como tendo ocorrido “por causas não naturais em dependências policiais ou assemelhadas”. Mas as circunstâncias exatas de como tudo aconteceu ainda estão por ser esclarecidas.

    Recuso-me a procurar a família, não vou envolver ninguém nisto, neste momento e nesta situação.

    Quem, diante da ameaça iminente de morte e suplício, não gritaria por socorro para proteger os outros? Norberto fez isso.

    Até hoje o jornalista Juca Kfouri, que naquele momento ajudava companheiros da ALN a fugir do Brasil, pensa que, se tivesse recebido algum contato da parte dele, poderia ter salvado a vida de seu amigo e compadre.

    “The course of true love runs never smooth”

    Ao ler as palavras, bem no início da carta, Maria Lygia soube que vinham do marido. A frase é de Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare (no original, The course of true love never did run smooth, o curso do amor verdadeiro nunca é suave) e, por ironia, foi citada, séculos depois de escrita pelo bardo célebre, por Karl Marx, em O Capital.

    O gosto pela literatura e pela teoria marxista, tanto quanto pelas tiradas irônicas, eram traços de Norberto. Ele e Ia haviam combinado que aquela frase seria um selo de autenticidade da comunicação entre eles.

    Estejam certas que qq seja meu destino, amei-as como poucos puderam gostar tanto da esposa e da filha. Da Martinha tenho três desenhos e guardo comigo teu isqueiro, Ia amada. Com vocês tive os melhores momentos da minha vida…7 anos de casamento com altíssima e grande felicidade, mas enfim é a sensibilidade e o sentimento de indignação que nos leva ao protesto.

    Quando soube da morte do pai, a hoje roteirista e professora de cinema Marta Nehring tinha 6 anos. Desde então passou a guardar, “como uma caixa de joias”, alguns objetos pessoais de Norberto e um boneco do Visconde de Sabugosa que ele mesmo fizera de sabugo de milho e madeira, de presente para ela. Mas a caderneta com a carta, Marta só pegou para ler, sem intermediários, na adolescência. Em 1996, a filha de Norberto codirigiu com Maria de Oliveira o documentário 15 Filhos, com depoimentos de filhos de militantes perseguidos, presos, torturados e mortos na ditadura. O filme, premiado no Brasil e no exterior, encontra-se disponível no YouTube.

    *Flávio Lobo, jornalista, é mestre em comunicação e semiótica pela PUC-SP

    **Matéria publicada no caderno “Aliás” do jornal “O Estado de S.Paulo” de domingo, 11 de março de 2012.

  • Infelizmente a nossa Presidente da República e o Mr. Blatter “compraram briga” muito tarde com o Ricardo Teixeira!
    – Quem sabe agora o futebol brasileiro passe por uma filtragem, e que a tão propagada “honestidade” seja finalmente cumprida, vencendo sempre os melhores e “caindo” realmente os piores, sem interferência de poder aquisitivo! NOTA: somente torcedores inteligentes e imparciais entenderão muito bem esse recado!