Passavam poucos minutos das sete horas desta manhã ensolarada de domingo e o telefone tocou. Interrompi o meu alongamento da pré caminhada porque vi que era o Renato, do SETE DIAS. Repórter atento, que sempre liga quando há alguma novidade importante. A esta hora da manhã, normalmente, é notícia ruim. E não deu outra: morreu o Mauro Rocha!
Puxa vida! O nosso “Martin Pescador”. Mas não é possível!!!
Sim, possível e verdadeira a informação, lamentavelmente.
Depois de mais alguns detalhes sobre o ocorrido, um filme começou passar na minha memória. Meus 13 anos de idade, começo da carreira de radialista, primeiro andar do Edifício Dr. Márcio Paulino, ainda em obras na Av. Emilio de Vasconcelos, onde funcionava a Rádio Cultura de Sete Lagoas. O dono da rádio, Geraldo Padrão, levou-me do Jornal O Centro de Minas, onde eu era colunista desde os 11 anos, para ser redator do programa de esportes da Cultura. Apresentou-me ao “Seu Mauro”, o sisudo e famoso radialista, diretor e coordenador da rádio, famoso pelo vozeirão e textos brilhantes, e também pela fama de durão.
Depois de um “interrogatório” de quase uma hora, Mauro Rocha chamou o professor Clarindo Aziss Lima, braço direito dele, sub-coordenador da rádio e disse que a partir daquele momento eu estava sob os cuidados dele, para que me introduzisse no mundo radiofônico.
Graças a eles e demais grandes companheiros da Cultura, do porteiro aos donos, tenho este privilégio de estar aqui escrevendo para as senhoras e senhores, ocupando espaços importantes na mídia. Estes mestres e acima de tudo amigos foram uma escola espetacular.
Cinco anos depois o Gil Costa me contratava para a Rádio Capital. Foi fácil, porque os ensinamentos que tive na Cultura me deram uma base sólida, sustentável. A amizade com meus antigos mestres e companheiros permaneceu. Alguns anos depois resolvi empreender e criei o jornal Sete Dias. Uma das primeiras conversas sobre a viabilidade do negócio foi com o Mauro Rocha, que escrevia uma coluna famosa em outros jornais da cidade: “De caniço e samburá”, sobre pesca, assinada por Martin Pescador, pseudônimo criado por ele. Além do incentivo e orientações preciosas o Mauro aceitou o convite para transferir a coluna para o mais novo semanário da cidade. Em novembro o nosso Sete Dias completará 25 anos e essa foi a única coluna que nunca deixou de ser publicada em todas as edições. Nos últimos anos fiz grandes transformações no jornal, contando com idéias e palpites importantes do Mauro, que um dia me disse:
__ Papel e gráfica estão cada vez mais caros; você precisa otimizar os espaços, publicar o que mais agrada ao público, que seja mais vendável. Este assunto “de pesca” caducou, não interessa mais a muitas pessoas. Utilize este espaço que eu ocupo com assuntos mais atrativos e mais interessantes comercialmente.
Pois foi a única coluna que não correu risco de cair em momento algum. Não só por causa da tradição, do enorme número de seguidores e das questões ambientais sempre abordadas pelo “Martin”; uma coluna atualíssima e importante pro jornal, mas acima de tudo por causa dele, um guru de todos nós. Semanalmente ele aparecia para trocar idéias, ouvir lamúrias, contar histórias, oferecer ajuda, a todos nós da equipe. Era um “paizão”, que já está fazendo falta. Muita falta.
Apreciador de uma boa cachaça, há algum tempo estava sem tomar, por recomendações médicas, mas pelo cheiro sabia se aquela apresentada a ele no momento, “prestava” ou não.
A vida segue, a hora de todos nós chega e ciclos se completam. Mas como doem momentos como este. Aos 77 anos Mauro Olímpio Rocha se vai, deixando uma legião de fãs, amigos e uma família querida, com quem dividimos a dor neste momento. À esposa Lúcia, aos filhos Maurinho, Rogéria e Vinícius, ao genro Régis e aos netos Brenda, Gustavo, e Catarina, o meu abraço.
Ficam as lembranças deste grande cidadão brasileiro; ficam a minha eterna gratidão, a saudade e o lamento!
Duas semanas atrás, fiz esta brincadeira com ele em minha coluna no Sete Dias:
Ecos do Passado
Em 2006, Martin Pescador (esquerda) nos tempos em que ele ainda curtia o título de “Lobisomem do Ano”, criado pelo saudoso Onofre Miranda no jornal Estado de Minas, sendo servido de uma “Vitorina” pelo Victor Braga, em Fortuna de Minas, no lançamento do Condomínio Vitorina Park II. A Vitorina hoje é classificada entre as melhores cachaças do Brasil.
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Aqui, mais detalhes sobre ele no site do jornal:
* “Sete Lagoas perde Mauro Rocha, o Martim Pescador”
O SETE DIAS amanheceu de luto neste domingo (10). Faleceu, nesta manhã, Mauro Olímpio Rocha, 77 anos, colunista do jornal SETE DIAS desde sua fundação. Referência no colunismo de pesca em Minas Gerais, Mauro assinava a coluna Martim Pescador, a mais antiga sobre pesca a ser publicada no estado.
Vítima de ataque cardíaco, Mauro Rocha também era radialista e foi um dos fundadores da Rádio Cultura AM, que hoje é parte da Rede Padrão de Comunicação. Também era ex-funcionário da Câmara Municipal de Sete Lagoas e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-SL). Deixa a esposa Lúcia, os filhos Mauro, Rogéria e Vinícius, além de três netos.
Homenagem
O colunista foi homenageado pelo Clube Náutico em 2014, durante o 6º Torneio de Pesca Legal do Colosso Campestre. O clube homenageou Mauro Rocha “devido a sua nobre e catedrática experiência sobre pescaria e suas facetas”.
O velório começa logo mais, às 13h, na Capela do Asilo. O enterro acontece nesta segunda-feira (11), em local e horário ainda a serem anunciados. Confira aqui a última coluna do “Martim Pescador”.
Renato Alexandre e Marcelo Sander
http://setedias.com.br/cidades/12627-sete-lagoas-perde-mauro-rocha-o-martim-pescador
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