O que mais incomoda em qualquer jogo das categorias de base de um clássico entre Atlético e Cruzeiro, América ou outros quaisquer adversários não é o zero do placar, mas a falta de perspectivas em relação à qualidade da maioria dos jogadores. O futebol muda com o tempo. As táticas, a preparação física, enfim, mas craque é craque em qualquer época e isso se tornou “artigo” raro, de altíssimo luxo em nosso futebol. Até os anos 1990 víamos um jogo desses, e dois ou três de cada lado chamavam a atenção, pela qualidade individual ou por alguma virtude especial, como chute forte, velocidade, habilidade com a perna direita ou canhota, passe refinado e etecetera e tal. Qualidades que eram bem exploradas no futuro por bons treinadores do profissional. Me lembro do Telê Santana, na Vila Olímpica, com o lateral Carlão e o ponta Sérgio Araújo, depois dos treinos. Em sessões especiais que chegavam durar quase duas horas, ele insistia na melhoria dos cruzamentos de ambos. Carlão tinha muita força, mas era péssimo para alçar uma bola na área ou chegar à linha de fundo para cruzar. Serginho tinha velocidade e habilidade impressionantes, chegava sempre à linha de fundo, mas na “hora agá” cruzava atrás do gol, acertava a rede pelo lado de fora. De tanta insistência e paciência, do Telê e deles, o Galo foi campeão mineiro de 1987, vencendo o Cruzeiro por 1 a 0, cruzamento perfeito do Carlão na cabeça de um centroavante chamado Jason!
Serginho foi vendido caro ao Flamengo, chegou à seleção brasileira e teve uma carreira de sucesso no profissionalismo.
Além da dificuldade na garimpagem, os treinadores da base são pressionados a ganhar títulos e muitas vezes deixam os melhores jogadores no banco ou até fora de determinados jogos por serem baixinhos ou ter alguma deficiência que poderia influir naquela decisão: velocidade, passe, cabeceio ou situações momentâneas, plenamente corrigíveis no futuro. O assunto merece uma discussão mais aprofundada entre todos, já que o investimento nas categorias de base é altíssimo e de retorno muito inferior ao que deveria ser.
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