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Homenagem ao jornalista Flávio Gomes

Esta semana foi marcada também pela demissão do Flávio Gomes do canal ESPN por causa da polêmica no twitter com o Grêmio.

Neste mundo cada dia menos solidário, principalmente no meio jornalístico, gostei de ler a coluna do Fábio Seixas, na Folha de S. Paulo de ontem, onde ele faz uma homenagem ao companheiro, pela grande figura humana que ele é.

flavio_gomes_187_259Flávio Gomes

Confira:

* “O mapa”

Uma velha folha de fax guardada no fundo de uma gaveta traz enorme lição de caráter

Na gaveta esquerda da minha antiga escrivaninha, na casa dos meus pais, repousa uma folha de papel cuidadosamente dobrada.

Papel de fax, quase ilegível. Afinal lá se vão 15 anos.

Um mapa. Ensinando minuciosamente o caminho desde o aeroporto de Frankfurt até a cidadezinha de Berg, ao lado de Nurburgring. Mapa que me guiou com perfeição, naquele 1998 sem celular nem GPS.

Dirigindo sozinho, de madrugada, na minha primeira vez na Alemanha, cheguei sem errar à casa em que se hospedava boa parte da imprensa brasileira que cobria a F-1.

Missão cumprida, trajeto feito, eu poderia ter amassado e jogado fora aquela folha de fax. Não sou de guardar coisas. Mas guardei o tal mapa. Memorabilia, peça do meu museu pessoal, a primeira vez numa corrida de F-1 fora do país –sei lá, achava que poderia ser a única.

Hoje percebo que guardei-a por metáfora.

Porque aquele foi só o primeiro de um monte de mapas que recebi nos anos seguintes, generosidade rara e que parecia grande demais vinda de um sujeito tão tampinha. Eu mal sabia que era só o começo.

Foi o único mapa redigido, é verdade. Todos os outros foram transmitidos por meio de risadas, xingamentos, provocações, brincadeiras. Por conversas das mais rasas às mais profundas em viagens intermináveis mundo afora. Em carros, balsas, trens e corredores de aviões. E por trabalho duro, pesado, exaustivo.

Como quando da primeira vitória do Barrichello. Fomos os últimos jornalistas a sair do autódromo. As folhas de papel sobre a mesa estavam úmidas com um frio que só percebemos quando enviamos os últimos textos para nossos jornais.

Como no dia do acidente de Burti em Spa. Quando deixamos a pista, já não havia onde comer. Depois de muito procurar, encontramos um velho pote de Nutella no armário da casa onde estávamos. Cada um pegou sua colher e ali jantamos. Ah, o charme da F-1…

Como nas decisões de título. Como nos momentos de agito no mercado. Como nos dias absolutamente sem notícia.

Nós e os repórteres japoneses, quase sempre os últimos a sair da sala de imprensa.

(Isso para não falar nas peripécias que armávamos para levar o som ambiente das pistas para o rádio do Brasil.)

Procurei seguir cada um daqueles mapas. Tentar falar com naturalidade no rádio, tentar escrever sem amarras, tentar zombar e ser amigo de todos na sala de imprensa, tentar ser melhor jornalista, tentar ser melhor pessoa.

Um ídolo que virou amigo, professor, irmão.

Não, hoje não vou escrever de Raikkonen, Massa, Alonso, Nasr. Não. O assunto é mais importante.

Porque se você sabe quem são esses pilotos, se você ainda acompanha F-1, saiba que deve bastante a ele. Concorde ou não com suas posições sempre firmes.

O sujeito dos meus mapas.

O Jornalista, com J maiúsculo, que inaugurou este espaço na Folha, há 20 anos.

Obrigado, Flavio Gomes.


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Comentários:
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  • anderson disse:

    Talvez esse Jornalista com”J” que ele conheceu ha 20 anos atras nao exista mais. Hoje é só um sem noção que xinga e ofende as pessoas e acha que isso é engraçado.Uma pena.

  • Frederico Dantas disse:

    Vale ressaltar duas coisas nesta coluna do Fábio Seixas, que é semanal.

    A primeira é que ele ousou fazer esta homenagem a um jornalista que é persona non mui grata na Folha (quem conhece a história da saída do Gomes da Folha sabe do que falo) em uma semana onde a notícia principal do automobilismo para o Brasil foi a saída do Massa da Ferrari. Nem tocou neste assunto.

    A segunda é que o próprio Fábio Seixas foi demitido da Folha há algumas semanas, depois de anos de casa, sob a famosa alegação da reestruturação ($$) na área jornalística.

  • fernando cabral disse:

    Sou a favor da total liberdade de imprensa ,más temos que entender o lado da emissora que depende do torcedor.a espn iria ficar mal com o gremista se não tomasse esta atitude
    ??

  • Meu prezado Força Jovem Chico Maia,
    É importante trazer outra visão do negócio.
    Que o Flávio Gomes tenha sido gentil com os seus colegas, creio que seja mesmo louvável.
    MAS… e quando a gente usa a conjunção, normalmente escreve em antítese ao que foi postado antes, não é mesmo ?
    Mas, se você o segue no TWITTER vai notar que o mesmo é useiro e vezeiro no emprego das palavras de baixo calão, apela feio, principalmente quando o post de qualquer um o contraria ou fala mal da Lusa, a antiga Portuguesa de Desportos.
    Entendo o fato de ser torcedor apaixonado, mas, embora lícito seja o motivo de seus reclames (afinal o pênalti marcado a favor do Grêmio foi um descalabro), não lhe convinha a reação como aconteceu…
    Creio que foi EXAGERADÍSSIMO o ato de José Trajano ao demití-lo sem antes tê-lo advertido de que a conduta dele não agradava à empresa.
    Mas, como ele já vem fazendo isto há bastante tempo, creio que a ESPN já o tivesse advertido. E neste caso a demissão é mais que justa.
    Quando mais fatos vierem à tona, os elementos para julgar o caso serão claros e a dedução sobre quem errou mais no episódio, fica clara.
    Um grande abraço – JCDuarte

  • J.B.CRUZ disse:

    Relembrar nosso passado é viver duas vezes..Crônica maravilhosa onde desponta uma de nossas maiores virtudes, a gratidão…