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Colunista encontra motivo para a derrota do Cruzeiro

O excelente Xico Sá, que escreve às sextas feiras, na Folha de SP, fez uma bem humorada, porém contundente e interessante avaliação da derrota do Cruzeiro para o Estudiantes. Em resumo, disse aquilo que quem conhece bem o futebol sabe: fatores estranhos ao dia-a-dia- de um time não podem ser misturados no dia de uma decisão, quando a concentração deve ser 100% voltada ao jogo. Confira:

XICO SÁ

Ele voltou


O corvo Edgar só despertou para o mal quando viu que Aécio Neves daria a última palavra aos cruzeirenses


AMIGO torcedor, amigo secador, no exato momento em que o governador Aécio Neves desceu aos vestiários para dar a última palavra aos cruzeirenses, o corvo Edgar, pasme, bateu asas do boteco Temático, onde se encontrava foragido em Belo Horizonte, e foi ao estádio. Sobrevoou o Mineirão na maciota, desceu lá na grama e fez um trabalho de mandinga na toalhinha do goleiro alviazulino -foi o remate de todos os agouros e males.
O corvo estava em poder de um atleticano, estranhamente escondido atrás de um timbu, boneco símbolo do Náutico que enfeita, à vera, o balcão do supracitado estabelecimento do bairro de Santa Tereza.
Com o banzo e a melancolia gástrica de quem exagerou no joelho de porco -o prato da casa que leva o nome do Ronaldo Fenômeno-, Edgar nem demonstrava tanto animus-augurius (intenção de agourar) o Cruzeiro. Mesmo com sua queda pelo Galo e por todos os times alvinegros do universo, a ave só despertou para o mal quando viu que o político tucano daria a última palavra à equipe antes de entrar em campo.
Tudo bem, o cara é cruzeirense desde criancinha, mas ali manda o seu Adilson Batista. Que esperasse os boleiros celestes com a taça em palácio. É o máximo que permite o código do bom-tom ludopédico. Foi este o raciocínio do corvo ao despertar da leseira e do cochilo rumo ao palco da final da Libertadores. O resto da história sabemos todos.
“La Brujita”, apelido de Verón entre os argentinos, jantou a redonda como se fosse o melhor dos queijos da Serra da Canastra. À incrédula plateia restou mascar, de sobremesa, o amargo jiló dos humilhados e ofendidos. A massa secadora atleticana vibrou como se fosse título brasileiro. Todo alvinegro sorria como maravilhados Dadás, o herói de 1971 no Maracanã. Todo alvinegro, por mais bêbado que estivesse, subiu e parou no ar qual o seu velho atacante de codinome Beija-Flor.
É em um momento como esse que a arte de secar alcança seu ponto máximo, seu parentesco com as religiões e todos os deuses que dançam, todos os orixás, caboclos e xamãs.
Nessa hora o secador nato ergue as mãos aos céus de BH e exalta: está ganho o ano futebolístico. Basta o Galo ser o quarto e garantir a vaga da Libertadores. Sim, tem sempre o secador enrustido, que lava as delicadas mãos com o mesmo sabonete de Pôncio Pilatos, e orgulha-se: não tenho nada a ver com isso, vibro só pelo meu time e estamos conversados.
No futebol, por mais que finja e dramatize no tablado dos botequins sua condição purista, o torcedor que nunca secou o adversário não existe.
Atire o primeiro radinho de pilha no bandeiro aquele que nunca agourou o rival no campo de jogo.


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Comentários:
4
  • Silvio disse:

    Chico texto nota 10!!

  • Luiz Cesar disse:

    Excelente texto,Chico.

  • PAULO HENRIQUE disse:

    Xico, Xico; toda “arrogância será castigada” (já dizia o caro titular deste Site no tempos de Minas Esporte). O Adilson já sabia onde ia chegar, o Alessandro não, o time deles ia ficar perdido no “Mineirão” e cansar, o Cruzeiro Não!!! Acho mesmo que pensaram que o Estudiantes era o Vila Nova…. aí já sabe né……… se deram mal…
    Fui!!!!!!!
    Boa Tarde
    Paulo Henrique

    Contagem-MG 18/07/2009.

  • João Luiz disse:

    Texto de Fernando Mendanha

    Prezado amigo cruzeirense,

    Confesso que fiquei chocado com o que vi na noite da última quarta-feira. No início, tudo era festa. O grito que se ouvia do outro lado da lagoa fez me lembrar, mesmo que de longe, o caldeirão com sua massa favorita em dias de grande banquete.

    Até os estrondosos foguetes que rasgavam o silêncio dos céus soavam (quase) tão altos quanto o mais bravo dos cacarejos em dia de festa. Tamanha algazarra que não passara de 90 minutos. E cá, eu ainda estava, ciscando de um lado para o outro, pensativamente em apenas um fato: o que teria acontecido com ele?

    Bom, meu caro amigo cruzeirense. Peço-lhe até desculpas por adentrar em um campo que, confesso, não é das minhas especialidades. Mas é que preciso dar asas aos pensamentos que me intrigam.

    Primeiramente, digo-lhe algo com a maior sinceridade. Às vezes, é preciso reconhecer a derrota, pois, talvez, tu vivas cheio de vaidade, mas na realidade, não foi o grande campeão. É inegável que nos gramados de Minas Gerais tens páginas heróicas e imortais…

    Mas, oh, vizinho, vizinho querido! Não desta vez. Fostes combatido e abatido foi vencido, justamente por não ter jogado com muita raça e amor. Por não ter vibrado mais com alegria pras vitórias.

    Oh, vizinho, vizinho querido! Mesmo com o seu grande nome na cidade, saiba que para vencer, vencer, vencer – que és o nosso grande ideal – era preciso honrar o nome de Minas no cenário desportivo mundial.

    Lutar, lutar, lutar, meu nobre azul, com toda a sua raça pra vencer, mesmo que uma vez até morrer, fostes o detalhe ausente que transformara o bonito e colorido azul dessa quarta num triste fim de noite meio preto e branco.

    Contudo, bola pra frente, amigo, e não fique triste. Já que, por aqui, as coisas vão muito bem, obrigado. Hoje, abrindo cada vez mais espaço frente à concorrência, se Deus quiser, quem sabe refaço suas batalhas, seus desejos e seus sonhos pela América no ano que vem.

    E aí sim (até com a sua torcida), talvez voltemos a ser o campeão dos campeões e o orgulho do esporte nacional.

    Melhoras,

    Ass.: O vizinho do terreiro ao lado