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A volta dos nossos times ao exterior

O Cruzeiro criou uma diretoria internacional para negociar jogadores e abrir novos mercados. Escalou o Valdir Barbosa para o comando do setor e ele está conseguindo bons resultados, para a curta existência do departamento. Chegou ontem da Bélgica, onde o Cruzeiro está firmando parceria com um clube de lá.

Os negócios no exterior podem tornar-se a maior fonte de renda dos clubes brasileiros. Tenho trocado idéias com o Alisson Sol, executivo de uma das maiores empresas do mundo, mineiro, residente na Inglaterra, depois de morar muitos anos nos Estados Unidos. Muito atento aos negócios e cifras milionárias do esporte no primeiro mundo, tem passado idéias e informações que merecem a atenção de todos nós, principalmente dos dirigentes.

Confira um papo nosso de ontem e hoje, através de e-mail:

ALISSON:

“Você citou na sua coluna que os clubes brasileiros, com o ajuste do calendário brasileiro ao europeu, poderiam disputar torneios na Europa. Que torneios? Só se for com times da segunda ou terceira divisão. O Barcelona está nos EUA desde a semana passada, disputando amistosos, e um deles foi aqui em Seattle. Pouco antes, o Chelsea também fez um amistoso com o Seattle Sounders. Todos os clubes importantes da Europa fazem isto no verão: disputam amistosos ou “torneios” nos EUA ou na Ásia. O caminho para os clubes brasileiros seria este, pois poderiam então levar sua marca a estes mercados, que hoje correspondem a grande parte do faturamento dos clubes europeus. Participar de amistosos ou torneios na Europa pode parecer bonito para a imprensa e torcida na Brasil, mas seria uma loucura do ponto de vista de negócios. Seria o mesmo que um pequeno mas tradicional fabricante de sucos brasileiros armar uma barraca para vender seu produto em Atlanta nos EUA, sede da Coca-Cola. Só vai conseguir virar alvo fácil de marketing para uma empresa com muito mais recursos.

Aliás, agora que o América está caminhando para a segunda divisão, será que vão fazer colocar camisas do clube à venda… em Belo Horizonte pelo menos?!”

CHICO MAIA:

 “Uai, não existem mais aqueles torneios tipo Tereza Herrera, Paris, Manchester, etc… e tal? Fui a vários com o Galo e Cruzeiro nos anos 1980.

A LDU está disputando um desses torneios, não é na Europa? Li ontem o presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Beluzzo, falando isso no O Globo.”

 

ALISSON:

“Voltamos então à questão de se os clubes de futebol brasileiros, e em especial os mineiros, querem ir no caminho de se profissionalizar ou não. Preferem ganhar dinheiro e ao menos pagar os impostos atrasados, ou se vão continuar tentando “jogar para a torcida”, disputando torneios que nada valem e ainda tendo prejuízo?  

Qual o valor para o Cruzeiro de ter sido “Campeão do Torneio de Verão no Uruguai” este ano? Em termos futebolísticos, provavelmente dois zeros à esquerda. E em termos financeiros? Valeu alguma coisa? O time faturou um ou mais milhões de dólares pela viagem? Valeu ao menos o risco de um jogador importante se machucar em um torneio destes? Agora, ainda no meio da temporada, há a desculpa de exaustão de vários jogadores porque o clube já disputou muitas partidas este ano. Não seria melhor então ter descansado os jogadores e ter feito dois jogos a menos no começo do ano? Ligando as situações, pode ser que o título de “Campeão do Torneio de Verão no Uruguai” tenha custado ao Cruzeiro mais um título da Libertadores. Péssimo negócio!  

Seria fácil conseguir um amistoso para o Cruzeiro em algum país da Arábia ou na China com o clube faturando no mínimo um milhão de dólares líquido. O valor futebolístico seria de três zeros à esquerda, mas este é o mesmo valor em termos técnico que o Barcelona tem ao disputar uma partida com o Seattle Sounders, e vencer de 4 x 0, mesmo colocando os reservas no segundo tempo. O Barcelona não saiu de Seattle com menos de uns 5 milhões de dólares no bolso. Uns 5 jogos destes no ano e já são 25 milhões de dólares. Pode parecer pouco, mas pergunto-lhe: que time brasileiro tem este orçamento no ano? Mesmo que tivesse, quem dispensaria 25 milhões de dólares a mais? (Não estou dizendo que um clube brasileiro conseguiria a mesma cota do Barcelona, mas ao menos seria mais do que a receita de um torneio de verão).

Não sei o que o presidente do Palmeiras pode ter conseguido. Neste momento, não vejo como um torneio internacional iria preferir ter a presença do Palmeiras ao invés do Corinthians. Muito estranho…”

CHICO MAIA:

“Tá certo, a Ásia e os EUA entraram nessa onda de torneios criados pela Europa. Antes a Europa promovia essas competições para tirar proveito técnico, depois passou a importar em massa os nossos melhores jogadores. Hoje a onda é “abrir mercados”, e realmente torneios como Tereza Herrara, que aliás, teve final ontem, devem estar pagando cotas ínfimas em relação à Ásia, e se bobear, menos até que o torneio de verão do Uruguai, que rendeu US$ 200 mil a cada clube nosso.

O Beluzzo falou dessa necessidade dos nossos clubes voltarem ao mercado dos torneios e amistosos internacionais, lamentando que uma LDU esteja, e os nossos não. O pensamento dele está em sintonia com o que estamos falando, da necessidade de profissionalização em todos os aspectos.”


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