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O sonho possível do futebol sem violência

Vale a pena ler o relato de um americano que esteve no Independência ontem. É do Marcio Amorim, que mostra que o sonho de futebol sem violência, dentro e fora de campo é possível:

”A cidade dormiu feliz e verde ao som das modestas buzinas que invadiram principalmente a região dos Funcionários. Feliz, não somente alegre. Não era aquela falsa alegria com a desgraça alheia como quando os azuis viram o sonho dos Emirados Árabes ruir; não era aquela falsa alegria, por exemplo, de ver o Ipatinga do falastrão, que chegou a humilhar o América, voltando com o seu Ipatinga para a Série B, disputada hoje com mais respeito por ele; não era aquela alegria falsa de ver a torcida do Galo enchendo os estádios, disputando a mesma série B, que havíamos vencido um dia e que, por isso, sempre fomos ridicularizados. Durante muito tempo, essas foram as alegrias dos torcedores do América. Ontem, não. Não estávamos só alegres. Estávamos felizes. Felizes porque mostramos para todos que os jornais da segunda-feira, coloridos de verde, anunciam um novo tempo; orgulhosos porque fizemos inveja em muitos times que não têm público de 10.000 pessoas nem para disputar a Série A ou B; orgulhosos por conseguir reunir, vestidos com o manto do coelhão, atleticanos, cruzeirenses e vilanovenses. Eu os vi assim vestidos e emocionei-me com o respeito e a admiração desmonstrados ao América; orgulhosos pela manifestação de civilidade da nossa torcida na recepção da torcida adversária – valorosos torcedores que se deslocaram mais de 2,000 km e que se curvaram à superioridade dos “garotos” vestidos de verde e preto. Nenhum tiro em inocentes nos pontos de ônibus, nenhuma agressão barata ao patrimônio alheio, nenhum quebra-quebra em transporte público; orgulhosos e felizes com esses “garotos” que deram uma manifestação de amor incondicional ao clube que os projetou. Outra não era a intenção de Evanílson, Wellington Paulo, Irênio e Euller: demonstrar amor. Queriam ver o América de novo num cenário um pouco mais decente do futebol brasileiro. Não só viram, como participaram, embora alguns já estejam começando a escrever a própria história, momento típico dos finais de carreira de quem vai ter o que contar para os netos; orgulhosos e felizes, vendo no elenco jogadores que puseram a alma sobre a limitação; jogadores promessas que não devem ficar no clube mas que devem ter aprendido que, se um dia alçarem vôos mais ousados, não podem nunca mais se esquecer do dia 16 de agosto de 2009. Um dia, quem sabe, eles também pensem grande – aquela grandeza sem preço – e voltam num momento em que o clube precisar deles. Estamos, sim, felizes e orgulhosos, meu caro amigo Chico Maia. Se você lá não esteve, perdeu um momento único, uma oportunidade incrível de ver o futebol como ele deveria ser.”


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