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Oportunidades perdidas

A “Corrida Maluca”, divertido evento realizado na Praça do Papa domingo, causou um tremendo transtorno ao trânsito e moradores da região, por pura falta de planejamento e cálculo do público, por parte dos organizadores e da Prefeitura.

Aí, já tem cabeça cozida dizendo que não se pode realizar evento naquela região.

Nada a ver.

E este ótimo artigo na Folha de S. Paulo de ontem, mostra o que acontece no Brasil para que este tipo de erro continue se repetindo.

“MARIA INÊS DOLCI”

Copa de oportunidades perdidas


Um dos graves problemas do país é que, no governo, os técnicos dão lugar aos companheiros políticos


O atraso nas obras de infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016 confirma uma triste realidade para os brasileiros: não há muita esperança de que os serviços de interesse público melhorem, consideravelmente, nos próximos anos.
Isso fica ainda pior com a confidência, na sexta-feira passada, do ministro do Esporte, Orlando Silva, de que a Fifa (órgão máximo do futebol mundial) exigiu a interrupção da vigência do Código de Defesa do Consumidor, do Estatuto do Idoso e do direito à meia-entrada para estudantes durante a Copa do Mundo. Pode ser que “hoje” o governo tenha descartado essa ameaça aos direitos do cidadãos. Mas demonstra uma tendência muito perigosa.
Se nem a perspectiva de ter os olhos do mundo, literalmente, voltados para o país consegue quebrar a inércia dos governantes, o que o fará? Agora, diante da iminência de não fazerem as melhorias indispensáveis, as autoridades “descobriram” que, bem, tudo está certo nos aeroportos.
Qualquer pessoa que tenha viajado em períodos de férias e feriadões sabe que, na verdade, há muito mais passageiros do que conforto, espaço e bom atendimento.
Talvez a ideia de decretar feriado nos dias de jogos amenize os problemas de transporte, principalmente nas cidades mais populosas que serão sedes da competição, como São Paulo e Rio.
É lamentável, contudo, que se percam oportunidades como essa por incompetência e por desinteresse.
Afinal, há quatro anos fomos informados, festivamente, de que o Brasil sediaria a Copa.
O que foi feito de lá para cá? Acima de tudo, marketing, ufanismo e proselitismo político.
Perdeu-se um tempo precioso com a definição das 12 cidades-sede, obviamente devido a disputas políticas para escolher as localidades. Falou-se muito, mas quase nada saiu do papel.
Exemplo de discussão estéril foi a do trem-bala. Um factoide que provocou muita discussão. E foi só isso! Não por acaso, ministérios como o dos Transportes e o do Turismo, essenciais para que o sucesso na organização dos megaeventos esportivos que serão realizados por aqui, foram alvos recentes de denúncias de malversação de recursos públicos.
Ninguém ignora que um dos tormentos do cidadão brasileiro seja a péssima qualidade de praticamente tudo o que tenha a qualificação “público”: transporte, saúde, segurança e educação. Os serviços fundamentais -energia elétrica, telefonia fixa e móvel, acesso à banda larga- são muito ruins.
Paulistanos levam até cinco horas para ir ao trabalho e voltar para casa, diariamente -um crime contra a qualidade de vida.
Recentemente, foi divulgado que nossa velocidade média de acesso à internet é pior do que a de países muito pobres, como Haiti e Nigéria. Ou do que nos abalados por guerras intermináveis, como o Afeganistão. Empatamos com o Iraque.
Pagamos tarifas de luz e de telefonia que estão entre as mais caras do mundo. Isso não evita apagões, interrupções e outras dores de cabeça aos consumidores.
Nossas agências reguladoras trabalham com afinco para defender os interesses das empresas.
O cidadão fica sempre em segundo plano, exceto no papel de contribuinte -já repassamos, neste ano, mas de R$ 1 trilhão em tributos aos cofres públicos.
Para não dizer que nada decorrerá da Copa de 2014, os paulistanos ajudarão, independentemente do clube para o qual torçam, a bancar o estádio do Corinthians. Dinheiro que poderia ser mais bem aplicado em escolas, em creches, em hospitais ou em estações do metrô. Investimentos que, talvez, valham menos votos do que os obtidos por um estádio particular de um time.
Por que não conseguimos fazer o que é tão importante para os brasileiros, mesmo sob o estímulo de competições que seriam vitrines excelentes para mostrar um momento mais positivo do Brasil?
Porque técnicos são preteridos na área governamental em detrimento de companheiros políticos. Além disso, não há ação clara das autoridades dos três Poderes em defesa dos direitos do consumidor.

MARIA INÊS DOLCI, 56, advogada formada pela USP com especialização em “business”, é especialista em direito do consumidor e coordenadora institucional da ProTeste Associação de Consumidores. Escreve às segundas-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.
mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br

* Falando de futebol, veja a opinião do Duke, hoje, no Super NotíciaDUKE

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Comentários:
2
  • Raphael disse:

    Pois é Chico. Essa é a grande realidade em todo o país, e está presente em todas as esferas de poder. No entanto, não podemos nos esquecer de que os grandes culpados disso tudo somos nós. Isso mesmo, nós eleitores. Afinal de contas, aqueles que têm o poder de eleger os políticos que poderiam mudar essa situação, preferem colocar as velhas raposas para tomarem conta do galinheiro.

    Enquanto nós, eleitores, continuarmos elegendo Sarney, Collor, Maluf, Renan e companhia, nunca teremos os interesses públicos devidamente atendidos, mas estaremos apenas dando “aquela força” para que alguns poucos possam ver seus interesses atendidos!

    Parabéns pelo Blog!
    Acompanho sempre!
    Abraços.

  • Marcelo Veloso disse:

    Concordo plenamente! Tem esposas, filhos, cunhados, noras, genros, sogros, cabos eleitorais, etc, exercendo cargos de confiança onde requer experiência técnica. Esses camaradas tem feito bobagens com o dinheiro público!
    Me lembrei do Jânio Quadros, que, ao invés de cuidar das necessidades básicas do país, resolve, condecorar Che, proibir lança perfume em bailes, brigas de galo, uso de biquinis nas praias e outras futilidades. Deu no que deu!
    Ainda não descobrí, no Galo, qual é melhor: O Berola jogar os 20 minutos iniciais, ou os finais. Mas tem algumas coisas que sabemos: se fazem gol com certeza vai tomar algum, se tomar, não conseguem nem empatar, por isto é o time mais perdedor.
    Geralmente, não belisca nem um pontinho fora e o que é pior, só jogam 20 minutos, atacam muito, mas pouco finalizam, tomam gols quando tão melhor em campo. O time é horroroso!