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Acredite: Série C do campeonato carioca tem mais de 100 gols por W. O. em 32 jogos fantasmas

Jogadores do União de Marechal Hermes treinam em academia de praça pública no Rio

O futebol brasileiro está decadente em todos os aspectos. Os 7 a 1 para a Alemanha são sempre citados como exemplo de “fundo do poço” mas a imprensa em geral é superficial na apresentação das causas do nosso empobrecimento técnico e de público nos estádios. Os campeonatos europeus, Champions League em destaque, têm mais espaços na mídia brasileira que os nossos próprios clubes. Com isso, os dirigentes das federações e CBF continuam nadando de braçada, por falta de denúncias dos meios de comunicação, como esta reportagem de hoje na Folha de S. Paulo. O escândalo que ocorre na Série C do campeonato carioca é semelhante ao que ocorre na terceirona de Minas e de quase todos os estados. No Rio, com mais intensidade. Times que não comparecem aos jogos, que fazem “cai-cai” para que o jogo acabe logo e que desistem da disputa no meio da competição, gerando o descrédito geral que toma conta do esporte mais popular do Brasil.

Mas os dirigentes nem pensam em mudar este quadro já que as taxas são cobradas em todos os jogos e inscrições de jogadores, sustentando toda a farra, em todo o país. Cada jogo custa, no mínimo, R$ 6 mil reais para cada time entrar em campo, sem falar nas multas que são obrigados a pagar em função de qualquer descumprimento dos regulamentos esdrúxulos. A CBF finge de morta, porque a sua diretoria é eleita por essas federações. Quando cobrados, estes cartolas dizem que são obrigados a cumprir a legislação prevista no Estatuto do Torcedor, que prevê essas divisões de acesso. Pura conversa! Se houvesse interesse em mudar eles mobilizariam deputados e senadores a qualquer momento, muitos deles, inclusive, eleitos pelo futebol. Mas eles também têm interesse nesta situação, já que têm nessa turma um monte de financiadores e cabos eleitorais. Em 2018 certamente teremos uma chuva de candidatos país afora, oriundos de federações e clubes, quase todos imbuídos de manter o que aí está, porque os bolsos deles agradecem, além das mordomias, que não faltam de jeito nenhum.

Confira a reportagem da Folha:

* “Série C do Estadual do Rio vive à base de ‘gol fantasma’ e W.O.”

O campeonato dos gols fantasmas. Assim é chamada a Série C do Estadual do Rio. O torneio encerrará a primeira fase com mais de cem gols que nunca foram marcados.

Com clubes com estrutura amadora na competição, a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio) teve de decretar 32 W.O. até agora. Nestes casos, o regulamento estabelece que o time que se ausentar do jogo perde por 3 a 0.

O torneio, que é profissional e equivale à quarta divisão, contabiliza algo ainda mais raro: já tem pelo menos quatro W.O. duplos, quando as duas equipes são consideradas perdedoras. A última rodada foi adiada para o dia 12 e pode ter mais oito W.O.

“Se eu tivesse amor por dinheiro, já teria deixado isso há muito tempo. O futebol é a minha paixão. Por isso, continuo pondo os garotos para jogar”, disse o aposentado Malaquias Silva de Jesus, 73, presidente do Tomazinho.

Com camisa parecida com a do Vasco, o clube fica em São João de Meriti, cidade de maior densidade demográfica do Brasil e uma das mais violentas do Estado do Rio.

Criado em 1930, o Tomazinho vive da ajuda de amigos do presidente. Para atuar em casa (o estádio Louzadão, em Mesquita), o time gasta aproximadamente R$ 6.000 por partida e não arrecada nada.

“Deixamos portões abertos aos moradores da comunidade, para dar uma força”, disse o dirigente, que se recusa a cobrar R$ 10 pelo ingresso, preço fixado pela federação.

“Apesar do sacrifício, o importante é que não levamos nenhum W.O. e estamos na briga por uma das vagas no quadrangular final do campeonato”, acrescentou.

Para prosseguir no torneio, a equipe precisa torcer para o Itaperuna tropeçar em um dos seus dois próximos compromissos. Na próxima rodada, o Tomazinho será beneficiado por mais um W.O.

O Riostrense foi punido pela federação e não vai poder mais disputar o torneio.

JOGADOR PAGA DO BOLSO

O amadorismo dá o tom na Série C. O União de Marechal Hermes não paga salário e ainda exige que os atletas paguem a taxa pela profissionalização –cerca de R$ 500.

“Temos esse sonho de viver do futebol. Por isso, decidi bancar a minha profissionalização. Quero agora chegar a um clube grande”, disse o lateral Dias, 23, que acorda às 5h da manhã, atravessa duas cidades para treinar num campo de várzea na Ilha do Governador, zona norte.

Os jogadores do Tomazinho também não receberam salário ao longo deste ano.

Morador de São Gonçalo, Dias gasta cerca de R$ 40 por dia de condução até o treino. Para tentar se sustentar, faz “bicos”. Trabalha de garçom e lavador de carros.

“A pressão em casa está grande. Sou todo dia cobrado para arrumar um trabalho de carteira assinada. Mas ainda vou dar alegrias aos meus pais”, completou o lateral.

Fundado em 1915, o União de Marechal Hermes tem poucas glórias na história centenária. O clube perdeu até sua sede. Nos treinos, jogadores contam apenas com pequeno vestiário ao lado do campo esburacado do Freixeiro, na Ilha, distante mais de 30 km do seu bairro de origem.

Depois do treino no gramado, os atletas malham em uma academia pública construída numa praça do bairro pelo governo do Estado.

“Somos mesmo um bando de loucos. Espero que, no futuro, algum desses atletas chegue a um clube grande e nos ajude”, disse Robério Tanajura, 59, gestor do time.

Na segunda-feira (30), o time foi suspenso pela federação. O clube vai ter que pagar cerca de R$ 10 mil de dívida com a Ferj para não ser punido. A equipe tem o patrocínio de apenas uma empresa, que lhe repassa R$ 2 mil por mês.

“Estamos correndo atrás, mas está difícil. Vamos ver o que acontece”, disse Tanajura, sem muita esperança.

OUTRO LADO

Organizadora da Série C, a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) culpou os clubes pela série de “gols fantasmas” no torneio.

Em nota, a entidade afirmou que “em grande parte, os jogos não acontecem em função da desorganização e descumprimentos de normas de regulamento e legislação por parte dos clubes”.

A federação creditou o fracasso do torneio também à “crise econômica” do Rio.

“Mas o principal é a falta de planejamento e saber entender a sua real condição de participação na competição.”

A última rodada da primeira fase foi adiada em uma semana. Teria que ser realizada neste domingo (5), mas foi transferida para o dia 12.

A Ferj cobra de sete times pagamento de cerca de R$ 100 mil por não quitarem borderôs de mais de 30 partidas.

Segundo a entidade, a mudança na tabela foi feita “para que os clubes tenham tempo para acertar pendências e obrigações do campeonato, não ocasionando desequilíbrio técnico e principalmente estabelecendo justiça aos que cumprem com suas obrigações legais”.

Ao ser questionada sobre a decisão de clubes participantes do torneio de não pagarem salários aos atletas, a Ferj informou que não tem “gerência em relação a pagamento ou qualquer outra obrigação trabalhista”.

“Cabe ao atleta, através dele próprio ou seu sindicato, a denúncia ao TRT [Tribunal Regional do Trabalho] e informação à Ferj para repasse ao Tribunal de Justiça Desportiva”, completou.

Com o fiasco da competição, que teve 18 rodadas somente na primeira fase nesta temporada, a federação afirmou que deve reformular o torneio no próximo ano.

“O pensamento é adotar critérios de participação mais efetivos e uma competição mais compacta, com menos jogos”, disse a entidade.

http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/11/1932889-serie-c-do-estadual-do-rio-vive-a-base-de-gol-fantasma-e-wo.shtml


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Comentários:
9
  • Silvio T disse:

    A nossa “elite”, que é dona também da imprensa, prefere nos ver retroceder até 1950. O que me espanta mesmo é o povão apoiar e aplaudir. Acho que merecemos..

  • Luiz ibirite disse:

    E o Cruzeiro vem demonstrando muita competência nos seus jogos, mesmo com
    um time bem limitado, e o fato de nao termos um centroavante de ofício pesa e muito, principalmente nos grandes jogos, sem contar que os jogadores continuam a jogar o campeonato sem desmerecer nenhum time, valeu Cruzeirao cabuloso!

  • jorgemoreira disse:

    Mais um comentário os cariocas falam que eles tem o futebol mais charmoso do paizkkkkkk
    (nós tambem temos a nossa fmf com o continuismo), e ainda querem que o povo pague preços
    absurdos para ver futebol, ainda bem que os mais humildes estão proibidos de ir aos estadios

  • José Eduardo Barata disse:

    O país precisa de um choque de alta tensão .
    Totalmente à deriva , sem norte , sem comando , sem
    horizonte .
    As instituições (todas) aviltadas , a provocar vômitos
    com suas NÃO ações .
    Está insuportável viver , trabalhar , produzir , sonhar
    que seja , com essas “dragas” a conduzir o destino
    de todos nós .
    Vereador, prefeito , deputado, governador , senador,
    ministro , membro de tribunais , é tudo LIXO .
    Não sabemos nada sobre o amanhã .
    Torçamos por um “tranco” violento para expurgar o
    verme da desonra que assola a Nação Brasileira.

    • Marcos disse:

      Se considerarmos o quesito futebol, o único choque de alta tensão pro futebol brasileiro seria a ausência da Copa de 2018. Maa o Tite não deixou. Nesse país o futebol está no mesmo nível de países eliminados da próxima Copa de tão fraco que está. Cedo ou tarde o Brasil ficará fora de uma Copa do Mundo, a continuar o amadorismo, a decadência técnica e condutas inescrupulosas que minam o seu futebol.
      Já na política, os membros da “casa grande” só olham para seu próprio umbigo. E que se dane o povo brasileiro que é obrigado a votar pra botá-los no poder. As leis que aprovam aparentemente são para mudar o país, mas na prática são leis para que eles aprontem ainda mais e continuem intocáveis. E rebaixar ainda mais a população pobre do nosso país com aumentos frequentes de impostos e produtos.

      • José Eduardo Barata disse:

        MARCOS ,
        só pra registrar a mediocridade e a vassalagem de nossa
        imprensa : você tem visto o tratamento dado à seleção de
        jovens de 17 ?
        Teve manchete para dizer que a vitória deles contra a
        Alemanha lavou a alma do torcedor ao vingar o 7×1 .
        Boçais . Bando do idiotas . Vagabundos .

    • jorgemoreira disse:

      Se voçê me permite, quero parabeniza-lo por tudo que voçê lucidamente escreveu,
      e parafraseando letras de um samba que eu gosto muito, Como será o amanhã como
      vai ser o meu destino, este povo um dia sonhou com a felicidade, e acordou com os piores
      politicos, e por coincidencia nós Atleticanos temos um dos piores vereadores como presidente
      e olhe onde este politico nós levou, é Barata assim como nós Atleticanos acordamos de um sonho
      feliz, que este paiz um dia possa voltar a sonhar com a felicidade

      • José Eduardo Barata disse:

        Alô , JORGE ,
        só muita fé para nos ajudar .
        Lidando no meu cotidiano com agentes públicos
        para que possa desenvolver o meu trabalho você
        não imagina o desgaste a que é submetido todo
        aquele que precisa produzir .
        Inimaginável a burocracia , o atraso , o descaso
        com que nos brindam .
        Vivemos um pesadelo sem fim.

  • Aurélio Miguel disse:

    Que tristeza hein!
    Pode acontecer o que for, mas as taxas para a Ferj não
    Chico, importante destacar o absurdo do jogo Atlético B x Democrata ser disputado em centro de treinamento e um clube gigante como o Atlético receber tão mal o time visitante. Independente se foi bem recebido ou não pelo adversário.