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Saudade dos bares. O mundo sem bar, “É um mundo sem amor ao próximo”

No antigo Bar da Rosinha (hoje, Radiola Disco Bar) os irmãos Grilo e Renato (da banda Zé da Guiomar) em Conceição do Mato Dentro.

Diz Milton que “… Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece
Como não fui eu que fiz…”

Pois é! Volta e meia me bate este sentimento quando leio algo genial, como esta crônica do Gilberto Amendola, no Estadão, dia 4. Sempre ótimo Gilberto. Aproveito para matar saudade e recomendar alguns dos melhores lugares que conheço na vida, para quando passar essa pandemia,voltarmos a encher a cara com todos os “chás com torradas possíveis”.

* “Um mundo sem bar”

Um mundo sem bar é um mundo sem empatia. É um mundo sem amor ao próximo. É um mundo de indiferença. Um mundo cheio de “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”. 

Eu não quero viver em um mundo sem bar. Não sei qual vai ser o novo normal depois do fim da quarentena, mas, definitivamente, não quero viver em um mundo sem bar.

Não é pelo álcool, acreditem. Se fosse só por beber, ficaria em casa com meu estoque de garrafinhas. Não tem nada a ver com porres, ressacas ou qualquer comportamento autodestrutivo.

Ao contrário, amigos. Bar é a celebração da vida, do amor, da inteligência e do companheirismo. No final da linha evolutiva traçada por Darwin, podem apostar, o que se vê é um homem sentado no balcão de um bar, tomando sua cervejinha em paz.

Sem bar, o que nos resta é o meteoro (ou a pandemia).

Bar é igreja, startup, salão de beleza, consultório psiquiátrico, UTI, SUS, ONU, OMS… Bar é meio ambiente, Ministério da Cultura, Economia, Educação, Justiça e Direitos Humanos.

O bar é a arena das nossas maiores emoções. Bar é o consolo de quem perdeu. O pódio dos campeões. E o olimpo de quem não quer competir.

Sou um sujeito adaptável. Posso viver sem muitas coisas. Abro mão de quase tudo que possa resultar na aglomeração de seres humanos e, consequentemente, facilitar a disseminação da nojenta da covid-19. Ou seja, estádios de futebol, festivais de música e clubes de swing não mais contarão com a minha presença pelo tempo determinado pelas autoridades.

Mas um mundo sem bar é um mundo pior.

É um mundo sem happy hour, sem aquela olhadinha para o relógio perto do fim do expediente, sem a gravata frouxa e torta no pescoço, sem aquele suspiro de alívio ao se aboletar em um banco e encostar os cotovelos no balcão.

Um mundo sem balcão de bar é um mundo muito pior. É um mundo sem a nossa tábua de salvação, sem a lousa em que rabiscamos projetos, fugas e desastrados sonetos de (des)amor.

Eu não quero viver em um mundo sem bolovo, shot de Cynar, caipirinha, dry martini ou negroni. Não quero viver em um mundo sem amendoim, porção de azeitona ou pururuca. Eu não quero viver em um mundo sem saideira. Eu não quero viver em um mundo em que eu não possa desenhar no ar aquele gesto universal que, em qualquer idioma, significa “fecha a conta, por favor”.

Um mundo sem bar é um mundo sem as melhores pessoas. Como deve ser ruim um mundo em que nenhum garçom nos chame pelo nome, em que nenhum bartender saiba qual o nosso coquetel preferido, em que nenhuma musa nos lance um olhar de desprezo ao deixar o recinto com o cara errado.

Um mundo sem bar é um mundo sem empatia. É um mundo sem amor ao próximo. É um mundo de indiferença. Um mundo cheio de “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”.

Vai por mim! Mesmo que esse próximo esteja na mesa ao lado falando bobagens, contando mentiras ou piadas ruins, ele também será digno desse sublime amor de bar. Mesmo que seja um mala, um inconveniente, alguém exaustivamente alegre ou infeliz como um cactos, ele sempre será digno do infinito amor de bar.

No bar, todo desconhecido ganha um voto de confiança imediato. Todo estranho confirma Rousseau – e é bom por natureza.

O bar é a nossa maior invenção. É a nossa alma coletiva. Nosso colo de mãe. Bares funcionam como postos de abastecimento da humanidade.

– Enche aí meu coração com sua melhor gasolina aditivada de alma.

Um brinde, saúde! 

Eu não quero viver em um mundo sem bar.

Quando tudo isso passar, vou sair de casa e ir direto para um balcão. Quem puder que me siga. 

https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,cronica-de-sp-um-mundo-sem-bar,70003289806

Rua da Quitanda, em Diamantina: à direita está A Baiúca, do Braga e Emilio, um dos mais agradáveis bares do mundo.


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Comentários:
2
  • Claudio disse:

    Fala Chico, Beleza?
    Bost@ nenhuma né?
    Como ficar beleza neste tempos…
    Mas serei a voz reinante neste post desamparado .
    Quando não se provoca cruzeirengos e atletiquendos…
    Cri, cri, cri…
    Sinto lhe informar que nestes posts de assuntos aleatórios me sinto mais à vontade de dar minhas nada singelas opiniões.
    Show de bola este texto.
    Descreve de forma ipsiliteiris meus sentimentos nestes tempos de jogos pan americanos de covid-19 mundial.
    Que falta faz um jogo de ombros no quanto do campo pra ver quem leva o tiro de canto.
    Que falta faz aquele lance “interpretativo” do árbitro aos 44 do segundo tempo (2°tempo dele e do resto do mundo, pois pra nós, do time que perdeu, durará para sempre).
    Só para resumir, pois o chá com torrada aqui está melhor do que esta vã filosofia:
    Viva o bar!
    Caso hajam Eros de português, correge .

  • José Catão disse:

    Quem acabou com os botecos foi Wagner Pires de Sá, bebeu tudo, secou o pote e foi para a SEGUNDA DIVISÃO.