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Exageros à parte, Zagallo: nem herói, nem vilão!

Imagem: twitter.com/CONMEBOL

Uma overdose de Zagallo na imprensa nacional, só de elogios ao falecido treinador. Já manifestei a minha opinião sobre ele numa postagem anterior e volto ao tema porque assim como eu, muita gente se assustou com o endeusamento absurdo que estão fazendo dele.

E a reação tem sido pesada, quase na mesma proporção. Pego como exemplo comentários aqui no blog, com os quais concordo na maioria dos casos, porém com ressalvas, que já faço agora, para o que os senhores e as senhoras vão ler:

– Zagallo foi inovador sim e quem me disse foi o Tostão, que tem trabalhou sob comando dele.

– Teve grandes craques da história nas mãos para ganhar a Copa de 1970, porém, se não tive competência para saber escalá-los e controlar o ambiente, teria se ferrado, como vários se ferraram e se ferram ainda. Exemplos não faltam, nos clubes e na seleção.

– Ele era bairrista sim, mas não discriminava em função do estado em que o jogador atuava, como por exemplo: em 1970, Tostão, Piazza e Fontana eram do Cruzeiro; Dario, do Atlético; Everaldo, lateral esquerdo, titular, era do Grêmio.

– Em 1998 ele pôs Ronaldo para jogar a final em cima da hora, depois de ter soltado a escalação oficial para a imprensa com o Edmundo escalado. Opção dele, que era o chefe e teria que optar. Cada treinador e cada um de nós pensaria de um jeito. O jogador disse que estava bem, os médicos lavaram as mãos, dizendo que clinicamente ele estava, ok. Era o melhor jogador do mundo naquele momento e titular absoluto. Se eu fosse o treinador, também o colocaria pra jogar.

Com essas ressalvas, confiram o que pensam outros comentaristas aqui do blog, a quem agradeço:

Juca da Floresta

… Zagalo pegou a seleção de 70 montada pelo inesquecível João Saldanha, ele não teria a competência de escalar esse time. Fez fama com a cama pronta. Deus o tenha…”

João Carlos Albuquerque  

“Não há nenhuma dúvida de que Zagallo é uma das maiores personagens do futebol brasileiro, mas a pesar dos 4 títulos mundiais, a verdade é que ele nunca passou de um esforçado coadjuvante e um dos responsáveis pela supervalorização do cabeça-de-bagre no futebol, tais como Parreira, Coutinho, Lazaroni e alguns outros menos famosos que ajudaram a plantar e adubar as sementes de nossa mediocridade atual, da qual seremos herdeiros por mais muitas décadas. Além do exposto, o pachequismo dele aliado ao carioquismo subserviente ao poder, bem como ao bairrismo que simplesmente o faziam “desconhecer o futebol que era jogado no restante do país” fizeram mais mal do que bem ao esporte. Ninguém diz isso abertamente, mas a verdade é que fora do Rio, ninguém suportava esse cara.”

Silvio Torres

“Não vou detonar totalmente a carreira e as conquistas do Zagallo mas, como acontece em muitas outras situações, a “imprensa atleticana” do Rio costuma esconder os fracassos de seus protegidos. Assim foi com o Velho Lobo, que treinou pouquíssimos times pra quem tinha um currículo tão “vitorioso”. Praticamente nenhum grande clube brasileiro o queria e os poucos que o contrataram foi por falta de opção melhor. Na seleção mesmo, com gerações brilhantes nas mãos, fracassou em três Copas. Em 74 penou na fase de grupos – quem viu não esquece o sufoco contra o Zaire – avançou aos trancos e barrancos até topar com a Holanda. Em 98 não dá pra esquecer nem perdoar a atitude covarde, medrosa de botar Ronaldo pra jogar a final. Em 2006 foi cúmplice do maior festival de palhaçadas de um selecionado tupiniquim. Peço licença ao Levir Culpi pra definir a carreira do Zagallo: foi um medíocre com sorte.”

Alisson Sol

“Definitivamente uma grande pessoa, que descanse em paz.

Agora, eu vou apresentar um ponto-de-vista aqui: é difícil ser treinador com Pelé, Tostão, Rivelino, Garrincha, etc.? Ou com Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo? Acho também que a má administração do caso do problema de saúde tido por Ronaldo na final de 1998 cai sob ele. Definitivamente, um grande “motivador”. Mas, como técnico, acho que conquistou títulos em eventos com menos dificuldades tendo times que jogariam sem técnico. Não olho apenas os títulos, e acho que em termos de esquema Telê Santana foi melhor, em termos de leitura de jogo Luxemburgo foi melhor, e em termos de “fazer um bando de cabeças de bagre” funcionar como um time, o Autuori foi melhor (e não é por evitar a queda do Cruzeiro: ele venceu o Campeonato Brasileiro e Libertadores com times absolutamente “esquecíveis”!).”

Raul Pereira

“… Zagallo era um técnico comum. Retranqueiro.

Deu sorte na vida como jogador (mediano, nota 6 no máximo) e como técnico que herdou de João Saldanha um time pronto e se sagrou campeão do mundo em 1970.

Mesmo assim, que descanse em paz – seja lá o que isso signifique, estou apenas repetindo uma expressão padrão que as pessoas usam em situações como essa…”


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Comentários:
15
  • Paulo F disse:

    Tinha uma personalidade marcante, carisma, o que faz as pessoas supervalorizarem. Como jogador não vi, mas era titular de 58 e 62, o que diz muito. Como treinador, muito fraco. Na minha opinião, botou pra jogar em 98 jogadores que não tinham condições de serem titulares, como Jr. Baiano, Denilson e Bebeto já com 34 anos, além de Doriva, Gonçalves e Leonardo também em fim de carreira, preterindo jogadores como Djalminha, Romário e outros craques. Coisa parecida fez Parreira em 2006 sob sua coordenação.
    Não lembro de trabalho relevante do Zagallo em clubes.
    Então é isso, icônico por ter 4 Copas, mas teve muita sorte na vida. Quando foi necessário talento, fracassou

  • Horacio disse:

    Vou dar meu pitaco sobre o Zagalo. Em 70, pelo menos aqui, futebol era muito burocrático, ponta era ponta, zagueiro era zagueiro e todo mundo jogava mais ou menos no seu quadrado. O número da camisa dizia como o cara devia jogar. A qualidade individual era o diferencial.

    A copa de 70 foi um marco no futebol mundial. A subida dos laterais, a volta dos pontas recompondo, a chegada dos meias na frente etc, chamaram a atenção para um esquema tático inovador com muita movimentação. O golaço do Carlos Alberto na final, espalhou panico e foi devidamente registrado por quem entendia de futebol.

    Depois dessa copa o esquema tático passou a ser importante, não só a qualidade dos jogadores. Hoje eu acho que o carrossel holandês foi uma novidade que veio como resposta ao brilho tático da seleção de 70.

    Acho que Zagalo entendia de futebol mas não sei se a forma que a seleção de 70 jogava tinha a ver com um esquema tático definido. Diversas vezes ele falou que pôs os melhores para jogar, mesmo fora de posição.

    E aí eu sempre fico em dúvida se a movimentação dos jogadores se devia a um esquema tático ou era devido a qualidade de atletas geniais em posições improvisadas. A movimentação em campo era totalmente inesperada para as posições. O número da camisa deixou de dizer como o sujeito jogava e onde jogava.

    Depois disso ele se encaixou com perfeição no esquemão da cbf. A profissão era de treinador de seleção e não treinador de futebol, estagnou, não evoluiu. Não precisava.

    O futebol brasileiro continua ladeira a baixo com receitas determinadas por um monopólio e, até hoje, dirigido por idiotas e oportunistas. Não demorou e passamos a perder os melhores jogadores e agora até os ‘médios’.

    Com a lei dos spikes, das 3 derrotas seguidas, sobrevivem apenas os técnicos retranqueiros, não houve evolução tática.’Fechar a casinha’ do gosto de 10 em cada 10 spikes é o nosso único esquema de jogo. E tome técnico estrangeiro para armar uma retranca moderna.

  • Martens disse:

    Ano novo noticias novas ? a noticia da nova sede do Galo com a venda da sede de Lourdes, explica o pq da reeleicao do Pau mandado para presidente do Galo. E a radio porta voz dos donos do Galo volta a atacar a prefeitura para defender interesses dos donos no assunto gramado do Kalilzao. Eu continuo daqui , um ano depois esperando o golpe que o INOMINAVEL ira anunciar em 72 horas. Quem sabe em 72 horas nao sai um pedido de Desculpas da SAF ao Grande Kalil

  • Silvio Torres disse:

    Caro Chico, acrescento mais uma proeza do Velho Lobo com a amarelinha, a incrível eliminação da final do futebol nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996. O Brasil vencia a Nigéria por três a um e Zagallo fez várias substituições, para “poupar” alguns nomes para a disputa do ouro. Os nigerianos empataram a partida com gols relâmpagos no finzinho do jogo e venceram depois com um gol de ouro do Kanu. Lembro dos ataques histéricos da imprensa paulista na época. Eles nunca, nunca engoliram o alagoano-carioca.. rsrs

  • Juca da Floresta disse:

    Boa tarde Chico,
    Eu tinha 10 anos em 1970, já era doido com futebol e acompanhava meu pai nos jogos do Mineirão. Lembro das “Feras do Saldanha” . Na véspera de um amistoso contra a Argentina em Porto Alegre, um repórter perguntou a Saldanha: “O presidente Médici está no Rio Grande do Sul e parece que havia sugerido o nome de Dario para ser convocado, o que você acha da sugestão?” De forma tranquila, Saldanha não titubeou e respondeu calmamente: “O Brasil tem 80, 90 milhões de torcedores e gente que gosta de futebol. É um direito que todos têm. Aliás, eu e o presidente, ou o presidente e eu, temos muitas coisas em comum. Somos gaúchos. Somos gremistas. Gostamos de futebol. E nem eu escalo o ministério, nem o presidente escala time, então tá vendo que nós nos entendemos muito bem”.
    Quatro dias depois Havelange demite o Saldanha e chama o Zagallo que corta Dirceu Lopes e convoca o Dario.
    Zagallo era um chato, essa frase só poderia partir de um pessoa arrogante: Vocês vão ter que me engolir.

    • Silvio Torres disse:

      Recomendo a leitura do livro João Saldanha, escrito pelo jornalista CARIOCA João Máximo para a coleção Perfis do Rio. Lá ele mostra que 90 por cento das histórias sobre a demissão do Saldanha e convocação do Dario são lendas misturadas com fake news. Dou um spoiler. Depois da arrasadora campanha nas Eliminatórias de 69, a seleção do Saldanha entrou em crise e colecionou uma série de resultados ruins, levando à troca de comando.

      • Juca da Floresta disse:

        Sílvio, na Copa de Mundo de 1970, o atacante Dario não chegou a entrar em campo – o técnico Zagallo fez apenas cinco substituições ao longo dos seis jogos do Brasil no Mundial. Dario foi convocado para agradar o governo militar.

        • Silvio Torres disse:

          Juca, a questão não é essa. O João Máximo, excelente jornalista, escritor e pesquisador, amigo pessoal do Saldanha, mostra que, ao lado das inúmeras qualidades, ele tinha também um lado irascível, violento e fantasioso. Sempre inventou várias histórias, sobre vários assuntos. Quando o caldo começou a entornar com o futebol e ambientes ruins na seleção, chegou a espalhar que o Pelé tava cego! A birra dele com o Dario não era por causa do Médici. Em setembro de 1969, no auge dele á frente do “scratch”, sofreu uma derrota humilhante para o Galo no Mineirão. E o gol da vitória foi de quem? A história do Médici só foi aparecer no ano seguinte, com o time em crise depois de perder para a Argentina em Porto Alegre e empatar com o Bangu!! Como não há um só registro de que o então ditador tenha falado alguma coisa sobre o Dadá (não há gravação, não há reportagem escrita, não há testemunha de uma conversa pessoal), tudo leva a crer que foi mais um factóide criado pelo Saldanha quando sentiu que ia dançar. Queria sair atirando, com Pelé cego e fama de ter peitado um presidente ditador.

          • Juca da Floresta disse:

            Bom dia Chico e Silvio,
            A entrevista antes do amistoso de Porto Alegre que falei no começo existiu realmente. O proprio Dário em entrevista afirmou que o Presidente Medici foi fundamental em sua convocação.
            Gosto muito de ler biografias e livros de coletaneas jornalisticas sobre determinados assuntos. Tenho na minha modesta biblioteca o livro: “VIDA QUE SEGUE – João Saldanha e as Copas de 1966 e 1970” – Organizado por Raul Mulliet, apresentado por Oscar Niemeyer, Sérgio Cabral e Tostão. Indico a leitura.
            Na abertura do livro, Oscar Niemeyer, Sérgio Cabral e Tostão dão um toque de classe sobre João Saldanha. Muito bonito também o depoimento de Bebeto de Freitas: “No Botafogo, na seleção brasileira e como jornalista João Saldanha sempre buscou o melhor para o futebol e o país. Valorizava o talento, a arte do jogador e acima de tudo a ética em todos os campos da vida. Sem ele, O Brasil não seria tricampeão. Como jogador, técnico e dirigente, aprendi muito com ele.”
            Uma dica se possivel Chico: Compro meus livros no site da estantevirtual, um site que juntou todas as livrarias e sebos do país, encontra-se de tudo usado ou quase novo por preços bem legais.
            Abraços.

          • Chico Maia disse:

            Opa,
            também compro na Estante Virtual, excelente.
            A propósito, Juca, este ano teremos duas obras que vão dar o que falar no futebol brasileiro, principalmente no Mineiro, em especial no Cruzeiro:
            biografias de Felício Brandi e Yustrich.
            O mineiro Pedro Blank, autor do livro sobre o Dirceu Lopes, finalizou a pesquisa sobre o Felício, e o gaúcho José Luiz Costa, está quase finalizando sobre o Yustrich.
            Dois excelentes jornalistas, sobre dois ícones do nosso futebol, dentro e fora dos gramados.
            Abraço.

          • Chico Maia disse:

            Entrando aqui no papo de vocês, muito interessante, diga-se. Falo o que sei a respeito do “João Sem Medo”. Desde criança lá no Campo do Algodão/Estação Experimental, hoje Embrapa), sempre fui fã dele, e de vários “mitos” da imprensa de Belo Horizonte e do Brasil. Mas, como diz o Caetano, “de perto ninguém é normal” e passei a constatar isso depois que comecei conviver com essa turma toda, quando fui buscado pelo Gil Costa, da Rádio Cultura de Sete Lagoas para a Rádio Capital, que iniciaria as suas atividades em Minas. Nunca imaginei que algum dia chegaria nem perto daquelas feras todas, e de repente, quis o destino que eu fosse colega de trabalho deles.
            João Saldanha era um grande papo, agradabilíssimo, e o melhor comentarista do país. Não o vi trabalhar como treinador. Contador de histórias fantástico, desancava com os seus desafetos. De quem ele não gostava, sai de baixo. Fiquei desapontado com ele e passei a duvidar das “verdades” dele, quando li este livro do João Máximo, citado por você, caro Sílvio. Ele fala coisas sobre o Carlos Alberto Silva, que não são verdadeiras, porque conheci bem o Carlos Alberto, cuja família era e é super legal.
            Não sei se o Saldanha falou em entrevista ou particularmente com o autor do livro, porque o saudoso Bebeto de Freitas era magoado com o João Máximo, por causa desse livro. Como vocês sabem, o Bebeto era sobrinho do Saldanha, filho da irmã dele. Bebeto tinha adoração pelo tio, e dizia: “o tio João não era fácil, mas era uma das figuras mais corretas que já vi na vida”.
            Vida que segue.
            Abraço.

  • Bernardo Montalvão disse:

    Inegável sua contribuição ao futebol, mas por linhas tortas… Fez de tudo para tirar Tostão da seleção para colocar Roberto centroavante do Botafogo, o que não se confirmou por interferência de Pelé, Gérson e Rivelino – Em tempo, Tostão é um gentleman, nunca confirmou isso, mas já li algo a respeito; assim como tinha suas predileções pelo lateral esquerdo Marco Antônio em detrimento a Everaldo. Dario nunca teve uma oportunidade na seleção.Se não me engano, o único time fora do Rio que ele treinou foi o Al-hilal e algumas seleções orientais. De mais a mais, o Velho Lobo era de um mau humor característico. Ainda assim, temos que louvar seu legado ao futebol!

  • Raws disse:

    A maioria comentou o que penso.
    Zagalo se fosse Mineiro e se passasse da copa de 1970, não teria 10% dessa relevância.
    Na minha escala entre Telê e Zagalo, o primeiro seria o Pelé o segundo Raí.

  • Raul Pereira disse:

    Faltou falar três coisas:

    1 – era um cara muito chato. Arrogante, metido e marqueteiro.

    2 – salvo engano, nunca ganhou um título brasileiro. Que competência é essa ?

    3 – também salvo engano, nunca dirigiu um time que seja fora do Rio. Talvez isso explique a condescendência com que os cariocas (estou aqui desde sexta) o tratam.

    Mas nada disso esconde ou diminui o pesar por uma vida que se foi, é bom que fique bem claro.

    • João Carlos disse:

      1 – Faltou bairrista e baba-ovo dos poderosos de plantão.

      2 – Se considerarmos “Campeonatos Brasileiros” os torneios anteriores a 1971, salvo engano o Zagallo do campeão com o Botafogo em 1968.

      3 – Foi técnico da Portuguesa-SP, mas não me lembro de ter dirigido outro time fora do Rio de Janeiro.

      Abraços!