O que mais me impressionou na eliminação do Corinthians, ontem, e o Palmeiras, na terça-feira, foi a preocupação de alguns repórteres em transferir a responsabilidade pelos resultados negativos para a arbitragem e fenômenos extra-bola.
E funciona assim na maioria absoluta da imprensa brasileira, em todos os estados, em menor intensidade no Rio Grande do Sul, onde os colegas são mais críticos e cobram mais de jogadores, treinadores e dirigentes.
É o paternalismo reinante na imprensa brasileira.
Menos mal que os jogadores têm evoluído em suas respostas e demonstram cada vez mais personalidade própria, fugindo do estilo “papagaio” de só repetir as mesmas coisas de sempre aos questionamentos, quase sempre concordando com as bajulações e quicadas de bola dos perguntadores.
Depois da eliminação do Palmeiras pelo Tijuana, o repórter de uma TV “quicou” para o goleiro Bruno que o gramado poderia tê-lo prejudicado no frango que tomou e comprometeu a classificação.
O jogador refutou prontamente e disse que foi falha mesmo; que a culpa foi dele, descuidou-se, e que fará tudo para impedir que isso ocorra novamente.
Constrangimento total para o repórter-tiete.
Ontem, quase todos os perguntadores quicavam a bola contra o árbitro paraguaio Carlos Amarrilla.
Emerson Sheik, ainda que elegantemente, contestou, na lata, no intervalo do jogo: “Não podemos fazer isso; culpar o árbitro; é difícil um jogo desses; todo mundo erra; pode ser que ele tenha errado, mas não podemos transferir para ele a nossa culpa. Temos voltar mais concentrados e tentar o resultado que nos interessa”.
Depois do jogo foi a vez do Ralf discordar umas 10 vezes dos entrevistadores e assumir que apesar dos erros da arbitragem, a culpa maior da eliminação era do time todo, que errou gols no início da partida, se desconcentrou; tomou gol que não podia tomar e complicou a situação.
O goleiro Cássio também teve personalidade e explicou tecnicamente o gol do Riquelme, que muitos comentaristas insistiam em dizer que o craque boquense quis fazer um cruzamento.
Depois do jogo, o argentino assumiu que sim (obrigado, Dr. Stefano), mas um jogador da qualidade e experiência dele, costuma aprontar dessas, imaginando que pode surpreender o goleiro; e ontem ele surpreendeu.
E a explicação do Cássio foi verdadeira: a bola não entrou pelo fato de ele estar uns dois ou três passos à frente da linha do gol; ele tinha que estar ali mesmo com a bola rolando. O Riquelme, grande jogador que é, foi feliz no chute, e ponto final.
Assim é o futebol.
Numa briga de “cachorros grandes”, venceu quem fez o jogo mais inteligente e se aproveitou melhor dos erros adversários.
O Boca tem um dos melhores treinadores do mundo, Carlos Bianchi, e um craque, Riquelme, que apesar da idade, conhece os “atalhos” do campo e ainda faz diferença a favor do time dele!