Cobertura da revista Placar do fatídico Atlético x Flamengo no Serra Dourada
Eu era repórter da Rádio Capital e estava lá no Serra Dourada, atrás da trave do lado esquerdo das cabines. O locutor era o saudosíssimo Vilbaldo Alves, comentarista Flávio Anselmo, Afonso Alberto, Paulo Rodrigues e o também saudoso Paulo Roberto Pinto Coelho, os companheiros da reportagem.
No dia seguinte, no aeroporto de Goiânia, João Saldanha, que era o comentarista de maior audiência do país, sentou-se ao nosso lado e disse:
__ Mineiros, a minha solidariedade. Isso foi a coisa mais indigna que já vi no futebol.
Depois, dirigiu-se a mim, que era o mais jovem do grupo, começando a carreira, e falou:
__ Meu, filho, procure outra profissão, porque o futebol acabou. Com a mercantilização desenfreada que está tomando conta, agora é só o dinheiro que manda. E vai piorar. A credibilidade se foi!
Isso foi em 1981. Em 1991, Walter Clark, jornalista, gênio da comunicação, criador do “Padrão Globo de qualidade”, um dos responsáveis pelo sucesso da emissora do Roberto Marinho, escreveu livro autobiográfico. Um dos capítulos é sobre a experiência que teve como vice-presidente do Flamengo no início dos anos 1980. Em determinado trecho ele diz: “Se pensam que não se compra mais árbitros, estão muito enganados…”
Na manhã deste sábado, o Fernando Melão lembrou no twitter dele: @FAlvesMelao “Hoje é dia de aniversário de 40 anos do MAIOR ROUBO DA HISTORIA DO FUTEBOL 21/08/1981 Serra Dourada, Goiânia”.
Muita gente comentou e retwitou, como o Milton Neves, por exemplo, que acrescentou foto de uma das páginas da revista Placar daquela semana: @Miltonneves “Éder: gesto no Serra Dourada que milhões de brasileiros fizeram naquela noite há exatos 40 anos.”
Me manifestei lá também: @chicomaiablog “E o (ir) responsável pela lambança foi premiado anos depois sendo contratado como comentarista de arbitragem e posteriormente “ouvidor” da CBF”
E imaginar que, no mês passado, um Juiz de Direito do Rio de Janeiro quis colocar o atual presidente do Flamengo, como um dos interventores da CBF.
O Alexandre Simões, dono do maior e melhor acervo da história do futebol mineiro, lembrou fatos importantes dos bastidores deste jogo e a rasteira que foi dada no Atlético, também fora das quatro linhas, para a escolha do local da partida e do trio de arbitragem. No site da Rádio Itatiaia:
* “Há 40 anos, CBF e Conmebol favoreciam o Flamengo em definição de local de ‘decisão’ contra o Atlético”
Os dois times terminaram a fase de grupos empatados e precisaram de jogo desempate por vaga nas semifinais
O jogo entre Atlético e Flamengo, no Serrra Dourada, foi encerrado aos 37 minutos do primeiro tempo
Capa do jornal O Globo trata do jogo encerrado por Wright, que expulsou cinco atleticanos
O Atlético x Flamengo de 21 de agosto de 1981, no Serra Dourada, que definia o vencedor do Grupo 3 da Copa Libertadores daquele ano, foi um dos jogos mais aguardados da história do futebol brasileiro. Não só pela enorme rivalidade criada entre os dois clubes, finalistas do Brasileirão de 1980, com os rubro-negros ficando com a taça, mas também pela qualidade das duas equipes, recheadas de craques. O confronto entre atleticanos e flamenguistas pode voltar a acontecer na final desta edição de 2021, em jogo único, dia 27 de novembro, no Estádio Centenário, em Montevidéu.
Em 21 de agosto de 1981, os dois clubes fizeram a partida desempate após terminarem a chave, que contava ainda com os paraguaios Olimpia e Cerro Porteño, empatados com oito pontos.
A definição do local da partida e da arbitragem provocou uma batalha entre os dois clubes em reunião realizada na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro, em 18 de agosto de 1981.
E os bastidores desta disputa, com base nos relatos dos jornais da época, evidenciam a influência flamenguista na decisão tomada pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), com o aval da CBF.
O Galo queria o desempate jogado no Morumbi, em São Paulo. O Urubu, apesar do discurso de não ter preferência, pretendia o confronto no Serra Dourada, em Goiânia. O presidente da Federeção Baiana de Futebol na época, Márcio de Oliveira, chegou a oferecer a Fonte Nova, em Salvador, com uma compensação financeira aos dois clubes, mas a oferta acabou recusada.
Arbitragem
Em relação à arbitragem, a diretoria atleticana vetou José de Assis Aragão, que tinha comandado a polêmica partida decisiva entre os dois clubes pelo título brasileiro de 1980, no Maracanã, e os flamenguistas se manifestaram contrários a Arnaldo César Coelho.
Assim, se chegou ao nome de José Roberto Wright, que viria a ser o personagem da partida, com Oscar Scolfaro e Romualdo Arppi Filho como assistentes.
Como o Atlético abriu o assunto arbitragem, o Flamengo iniciou a conversa sobre local da partida e fez a absurda sugestão do Maracanã. Ela não foi aceita, pois o Galo pretendia o Morumbi. O sorteio, que era anunciado em manchete pelo jornal O Globo de 18 de agosto de 1981, dia da reunião, não aconteceu.
O delegado da Conmebol, o brasileiro Abílio de Almeida, diante do impasse entre os dois clubes, fez um contato, via telex, com o peruano Teófilo Salinas, presidente da entidade máxima do futebol sul-americano, e voltou com a decisão de que o confronto seria no Serra Dourada, o estádio pretendido pelo Flamengo, que tinha a certeza de que contaria com a maioria da torcida na capital goiana.
A viagem
Na véspera da partida, os dois clubes viajaram juntos para Goiânia, em voo que partiu do Rio de Janeiro, com a delegação do Flamengo.
Durante o trajeto, a cordialidade reinou no avião, com Zico sentando ao lado do médico atleticano, Neylor Lasmar, e Tita e Reinaldo conversando de forma descontraída.
O embarque alvinegro teve uma grande expectativa, relacionada a Toninho Cerezo. Ele estava sem contrato e sua presença na partida decisiva corria risco, mas o Atlético fez valer um artigo do Código Brasileiro Disciplinar de Futebol (CBDF) e o jogador teve que “pagar” ao clube uma suspensão que teve em 1979.
Assim, o volante viajou com o time para a decisão no Serra Dourada, onde formaria o meio-de-campo com Chicão e Palhinha.
A ficha pré-jogo publicada pelo O Globo
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