Gustravo Krause é um intelectual pernambucano que acabou se metendo em política por um período, mas desses que conseguem pisar na lama sem sujar os pés.
Foi Ministro; nunca envolvido em falcatruas, e mandou tudo e todos do meio, solenemente às favas, quando sentiu que estava na hora de sair do meio.
Grande torcedor do Náutico.
Não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, mas admiro o que ele escreve, como este artigo que encontrei no Uol, na seção “Voz do Torcedor”, em post do mês de abril.
Minha opinião coincide com a dele, em quase 100%, neste texto.
Confira:
* “A melhor defesa é o ataque?”
POSTADO ÀS 17:00 EM 06 DE Abril DE 2011
Por Gustavo Krause*
Não existem verdades absolutas.
A exceção fica por conta dos assuntos relativos à Fé.
No futebol, quem pensa que já viu tudo, está redondamente enganado.
Daí, o personagem Sobrenatural de Almeida criação do genial Nelson Rodrigues.
Era responsável pelos mistérios do inexplicável e pelos choques do imponderável.
Do mesmo Nelson Rodrigues, vem a notável lição: “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana”.
De fato, o futebol é o mais complexo dos esportes coletivos.
O francês Eric Cantona, bad boy genial, considerado o melhor jogador da história do Manchester, hoje, treinador do Cosmos e exímio frasista, ensina: “Aqueles que acreditam tudo saber devem saber pelo menos uma coisa: eles não entendem nada de futebol”.
Cantona segue a tradição socrática do “só sei que nada sei” e a lição de Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa: “Quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa”.
Prudente, pois, desconfiar das máximas futebolísticas: “time que tá ganhando não se mexe”; “quem não faz, leva” e o “melhor ataque é a defesa”.
Com efeito, a experiência indica que estas máximas contêm muita verdade, mas não contêm toda verdade.
Em relação à última: grandes equipes, tanto em campeonatos de tiro longo quanto em campeonatos de tiro curto, no mundo inteiro, foram campeãs e consagraram artilharias fulminantes.
No entanto, há fracassos retumbantes, especialmente, em competições de tiro curto: o Brasil de 1982, o exuberante time de Telê Santana, foi eliminado pela retranqueira Itália, a mesma Itália que reeditou seu feito ganhando do time de Zidane tendo o zagueiro Canavarro como craque da Copa de 2006.
Torneios de tiro curto e disputas de jogos mata-mata (ou mata-morre) são perigosíssimos para times de vocação ofensiva.
A história da evolução ou involução tática é a crônica do defensivismo que enfeia jogo, mas que, muitas vezes, vence a beleza estética da proposta ofensiva. O primitivo 1-11, quando todos corriam em busca do goal (o objetivo), foi percorrendo o caminho de frente para trás a tal ponto que os técnicos bradam da beira do gramado: “quero todo mundo marcando atrás da linha da bola”. O grande antídoto dos líberos, do cadeado italiano (catenaccio), do ferrolho suíço, foi o irresistível carrossel holandês, imitado e jamais igualado, mas que perdeu para uma Alemanha taticamente disciplinada, em 1974, assim como a fenomenal Hungria de 1954.
Gustavo Krause é escritor, torcedor do Náutico e apaixonado por futebol.
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