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Leitura de fim de semana: “Fotografia”

Não conheço pessoalmente o Elismar Santos, mas ele escreve bem demais e enviou um “comentário”, que na verdade é uma prosa fantástica, que enche de emoção, principalmente a quem é do interior, como eu, ou que mora em um desses bairros de Beagá, que fazem lembrar as cidades do interior.

Postou o comentário no post sobre “a cidade e pessoas que não existem mais”, onde falei de Sete Lagoas.

E ele tem um blog, que vale a pena acessar: 

http://www.elismarsantoss.blogspot.com/

* “FOTOGRAFIAS”

O calor sobe do asfalto feito água fervente. Uma senhora passa arrastando uma criança pelo braço, provavelmente uma neta sua. Um cachorro, vorazmente, estraçalha um saco plástico, no lixo da esquina, em busca de alimento.

Alguns homens, sentados num velho banco de cimento, debaixo do pé de sete-copas, olham as moças passando, enquanto comem-nas com os olhos.

São moças bonitas, jovens, com mínusculos vestidos e shorts, em busca de felicidade e prazer.
Sentado sob a varanda, no meu banquinho de madeira, tomando minha cerveja, fotografo toda a cena, no meu cérebro velho, traçando um paralelo entre o hoje e o ontem. E vejo que nada mudou, apenas o asfalto, fruto da nova administração.

De resto, persistem as senhoras a puxarem seus netos pelo braço, os cachorros a rasgarem os sacos de lixo em busca de alimento, os homens a degustarem as mocinhas passantes.

A vida é mesmo uma grande repetição!
Uma vizinha bate roupa no tanque de pedra.

O Eguimar levanta as portas do boteco.

O jornaleiro passa entregando as más notícias diárias.

Seu Vicente, liga o seu velho radinho de pilhas, um Motobrás original, e aboia suas crias, desde a madrugada, um cabrito acinzentado, duas galinhas garnizés e um cachorro empulgado, num eterno aiôu!, como nas velhas cantigas de antigamente.
Seu Fulô, desce a rua no seu carro, devagarinho, com o vento quente lhe soprando a cabeça, pensando nos tempos idos. Alguns meninos sobem a rua com uma bola de capotão sob o sovaco. Vão para a barragem, jogar bola na areia quente e tomar banho em sua água lodosa.

Uma voz me chama; é carinhosa, meiga, tímida e longíqua. Não responde; pode ser que seja a morte, a indesejada de todos que venha me resgatar.

Aquieto em meu canto; tomo o restinho de minha cerveja. Está quente, a cerveja, o asfalto, meu peito.

E as lembranças veem feito a água quente que se derrama na garrafa, lá na cozinha de dona Mariinha.”


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Comentários:
2
  • Elisângela Santos Nobre disse:

    bem típico do interior essa cena, assim como os debates sobre futebol nessas rodas de conversa.Reamente o Elismar é um cara muito inspirado e interiorano. ficou linda sua conica Elismar, parabéns…

  • audisio disse:

    “Devo explicações a minha esposa e ao clube”.
    Danilinho respondeu ao Emmanuel Carneiro. Veremos dentro de campo.
    Se arrembentar com a bola, o Emmanuel Carneiro vai ter que ouvir até o fim do ano, se não jogar bem, Danilinho vai ouvir sobre o assunto todas as tardes na turma do bate bola. Vamos aguardar e ver quem vencerá este debate! Só gostaria que o Emmanuel Carneiro tivesse a mesma ênfase em suas críticas com os jogadores azuis e não usasse dois pesos e duas medidas.
    Para os cruzeirenses o que importa é dentro de campo, para os atleticanos dentro e fora!