Nessa época, falar da avacalhação do Campeonato Mineiro é tão repetitivo quanto os noticiários sobre o “Galo da Madrugada” e Bacalhau do Batata, em Recife; os desfiles da Marquês de Sapucaí no Rio; os Trios Elétricos da Bahia; Bloco dos Sujos em Nova Lima, Ouro Preto, ou da Batcaverna e Bartucada agitando Diamantina.
A diferença é que as bandas, blocos e escolas de samba apresentam novidades a cada temporada e a bagunça do nosso futebol é a mesma, imutável, “imexível”, devido a acomodação da Federação Mineira de Futebol e dos clubes que têm o poder de decisão.
Nem falarei mais de jogos adiados desde a primeira rodada e do América penalizado absurdamente com 18 dias de balão, porque a cantilena da semana mudou para a outra vertente da esculhambação costumeira: as péssimas condições de muitos estádios do interior; de cidades pujantes, como Divinópolis, Governador Valadares e Téofilo Otoni, por exemplo.
O meia Roger, do Cruzeiro, é dos poucos atletas que têm coragem de cobrar melhores condições de trabalho, e botou a boca no trombone contra vestiários e a iluminação do “Farião”, onde o time goleou o “sem casa” Nacional de Nova Serrana.
Interessante é que cerca de 10 anos atrás a FMF, então presidida por Elmer Guilherme deu prazo para todos os clubes que quisessem jogar a primeira divisão adequassem seus equipamentos a exigências, como capacidade mínima para 10 mil pagantes e iluminação condizente.
O único clube que cumpriu a determinação foi o Democrata de Sete Lagoas, que construiu a Arena do Jacaré.
Caso a Federação e os clubes da capital exigissem que a norma fosse cumprida, hoje, todos que almejassem a primeira divisão em Minas teriam praças esportivas minimamente confortáveis para atletas, torcedores e imprensa. O Democrata foi parar na terceira divisão, mas não foi a construção da Arena que o levou a essa situação.
Deveria ser aplicada a velha frase popular: “quem não tem competência que não se estabeleça”.
Mas no Brasil, em Minas Gerais principalmente, prevalece a contemporização, o “jeitinho” e as vistas grossas, para não dizer coisas piores. Que poder é este que o caçula do futebol mineiro, o Nacional, tem, para ditar ordens à FMF na confecção da tabela? É o time do prefeito da cidade, Paulo César, e do senador Zezé Perrella, fundado por eles, quando o Zezé presidia o Cruzeiro.
A FMF funciona assim em todas as divisões. Da primeira à terceira. Sempre se dá um jeito para que haja mais clubes e as muitas taxas pagas por eles, que se somam a outras fontes de renda para engordar os cofres dela. Ano passado, terminado o prazo de inscrições para a disputa da terceirona, havia apenas cinco clubes que atendiam à regulamentação. Mas, sempre se dá um jeito!
Sob a alegação que seria impossível realizar um campeonato “só com cinco”, a entidade deu mais um mês de prazo, e o número chegou a quase 20.
Como sempre, clubes desistem no meio da disputa, jogos são remanejados de cidades, adiados ou disputados em horários absurdos, para espantar o público, a imprensa e eventuais patrocinadores.
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