Numa das colunas anteriores escrevi que nenhum dirigente dos nossos três maiores clubes pode acusar o outro de ter sido mais esperto, pois em algum momento da história recente, cada um levou alguma vantagem em alguma negociação, tanto na área pública como privada.
Neste açodamento da discussão sobre o acordo BWA/Atlético, os americanos são os mais exaltados, quando deveria ser exatamente o contrário.
E quem me passou essa visão foi alguém insuspeito, por ser um dos responsáveis pela beleza que está o Independência e por ser um dos mais importantes dirigentes do América nos últimos anos: o deputado estadual Alencar da Silveira Junior.
Foi ele quem, indiretamente, instou o governo Aécio Neves a gastar muito mais do que pretendia, e erguer um novo estádio.
Havia costurado a liberação de R$ 30 milhões do governo Lula, via Caixa Econômica Federal, através de um dos Ministros mais influentes, o americano apaixonado, Luiz Soares Dulci, mineiro de Juiz de Fora, ex-professor em Belo Horizonte, uma das principais lideranças da UTE, nos anos 1980, hoje Sind-UTE.
Dulci é americano ferrenho, das arquibancadas. Foi ele quem vestiu o time de peladas do recém empossado presidente Lula, com a bela camisa verde e preta do América, com grande destaque na mídia internacional na ocasião.
Só que as questões políticas costumam falar mais alto e a verba “assegurada” não veio, deixando o Aécio em situação delicada.
Já tinha iniciado a obra, parou para esperar, mas ao sentir que questões tucano/petistas iriam comprometer o projeto e a sua imagem, tocou o barco, só com recursos mineiros.
Por isso Atlético, Cruzeiro e o próprio América, estão tendo que jogar mais tempo que o previsto na Arena do Jacaré.
Veio a licitação e apenas uma empresa se candidatou: BWA, que venceu e assumiu de cara um compromisso altíssimo: no mínimo R$ 1,2 milhão por ano ao América, ou 5,5% de toda a arrecadação, mais a manutenção do estádio.
Quanto custa a só a conta mensal de água e luz, por exemplo, de uma casa dessas? E o IPTU?
Os vizinhos estão mobilizados para impedirem shows artísticos lá. Sem esta importante fonte de arrecadação, a administradora conseguiria levantar recursos apenas com o aluguel para os jogos?
Na visão do deputado Alencar, o surgimento do Atlético foi um presente dos céus para a BWA, para o governo do estado e até para o Cruzeiro, porque as chances da empresa paranaense entrar em colapso seriam enormes, por falta de recursos.
Por força de contrato, o América seria o único tranqüilo na história, pois o governo de Minas teria de pagar a ele o que a BWA não pagasse.
Com o Atlético como parceiro comercial, certamente os 5,5% que entrarão nos cofres americanos, serão muito mais representativos que R$ 1,2 milhão.
Ações populares estão chegando à Justiça na tentativa de anular o acordo, BWA/Atlético.
Já pensou se alguém entrar com ações populares para que o América devolva o estádio ao Sete de Setembro, o falecido dono original, ou ao estado que era o arrendatário?
Certamente daria muito falatório e bate-boca, mas no fim, ficaria tudo do jeito que está.
E assim é o Brasil, e em Minas Gerais não é diferente!
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