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Homenagem ao Paulo Afonso

O jornalismo perdeu ontem mais um grande profissional e ótima figura humana. O Paulo Afonso, que atuava no Jogada de Classe, programa do Orlando Augusto, na TV Horizonte.

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O companheiro Mauricio Miranda escreveu uma bela homenagem a ele em seu blog no site do programa, que transcrevo a seguir:

* “Uma lição de vida e a vida como lição

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Minha história de amizade com o Paulo Afonso começou de uma maneira que eu não imaginava. Sempre via dezenas de colegas nas cansativas jornadas no Mineirão, muitos deles cumprimentamos, porém sem saber o nome. Com ele foi assim, sempre via o Paulinho com sua serenidade, mas faltava algo para chegar e conversar. Afinal de contas, via que não era uma pessoa para arriscar uma conversa qualquer. Com o tempo fui ter certeza disso.

O destino se encarregou de nos apresentar talvez cinco, seis anos depois na bancada do Jogada de Classe. Paulo Afonso fazia parte do time de comentaristas e me recebeu como “foca” na nova empreitada. Aos poucos fomos criando intimidade um com o outro e passei a conhecer uma das melhores pessoas da minha vida que, assim com o tempo, fui saber que também me conhecia há anos. “Pelo menos eu já te conhecia de longe”, disse o amigo numa conversa recente.

Paulinho, como carinhosamente o chamava, já lutava contra a doença. Porém, não se entregava. Ele se preocupava com as crianças e outras pessoas que também não estavam bem e fazia campanhas para arrecadar dinheiro e comprar donativos, que ele mesmo comprava e fazia questão de entregar. Nunca fui de participar de campanhas assim, porém graças a ele consegui enxergar a importância disso e saber que existem pessoas sérias querendo ajudar.

Uma das qualidades que mais me chamou a atenção no Paulinho foi a simplicidade. Ele nunca se preocupou com bens materiais, com roupas, marcas e vivia alheio ao consumismo. Porém, sem perder a elegância de um cavalheiro. Ele sabia entrar e sair em todos os lugares. Prova disso, foi a surpresa que tive quando estava tocando – nem todos sabem, mas dei um tempo no jornalismo e hoje minha principal fonte de renda é a profissão de DJ – quando recebo a visita do amigo Paulo Afonso de chinelos num dos restaurantes mais luxuosos da cidade. Paulinho chegou sozinho, sentou, pediu um bom prato e estava lá para me prestigiar. Estava ali uma pessoa diferente das que costumam a me acompanhar na noite, que não têm sobrenome e muitas nem sei se possuem vida diurna ou se dormem já produzidas.

O bom humor era outra marca do guerreiro. Sempre fazia piada com algo e tinha uma tirada interessante, sempre na hora certa e com bom tom. Mesmo nos momentos que derrapava, movido pela ingenuidade, não havia como ficar sem graça com ele. Um belo exemplo aconteceu durante um Jogada de Classe. Sem saber que estava no Ar, Paulinho fez a seguinte brincadeira com São Sebastião no dia do santo. “Dizem que ele era gay”. Gafe como esta cairia como uma bomba numa TV católica, porém foi facilmente contornada e virou piada entre nós amigos e entre ele. Até mesmo quando o assunto era o futebol, que ele sabia ler como poucos e manter uma posição invejável e exemplar de ética, ele não perdia tempo para tirar um sarro dos pernas de pau:  “Quando avalio futebol, não posso levar em conta o meu, pois era acima da média. Então, dou um desconto”.

Paulo Afonso sempre teve um lado humano muito aguçado. Mesmo diante dos seus problemas e incansáveis sessões de exames, ele tinha forças para ajudar os outros. Não foi uma ou duas vezes que ele perguntou sobre a minha saúde, da minha mãe, mesmo diante de uma simples gripe, e uma frase me chamou a atenção durante as nossas conversas. A doença de um modo geral o incomodava muito. “Sei que tem gente na mesma ou em pior situação do que a minha, isso me deixa muito pra baixo”.

Paulinho era o tipo de pessoa que eu conversava sobre todos os assuntos, coisa rara nos dias de hoje, que prevalece a superficialidade com o advento e crescimento do mundo virtual do ser, do ter. Um dos assuntos que conversamos foi a essência da vida. Ele concordava comigo que dinheiro não é algo para vivermos em função dele. “O dinheiro é uma consequência, sem neura e desespero. O orgulho e a vaidade são nossos maiores inimigos”, disse.

Minha última conversa com o Paulo Afonso foi no dia seguinte ao seu aniversário, há poucos dias, quando liguei após chegar de viagem para cumprimenta-lo. Muito fraco, mas ele conseguiu conversar rapidamente comigo. Relutei muito para visita-lo nos últimos dias, pois eu tive um problema de saúde simples e estava internado. Tive o receio de passar alguma infecção que poderia estar incubada. Porém, ontem fui prontamente ao hospital ao receber uma mensagem do amigo Pauilo Azeredo falando da gravidade do quadro. Deixei o aeroporto de Confins e fui imediatamente ao hospital. Paulinho já estava inconsciente, porém pude apertar com muita força a sua mão e dizer que estava ali com ele. Foi a despedida, já que poucas horas depois veio a triste noticia.

Tenho muita dificuldade de lidar com perdas, principalmente após despedir do meu pai, há quatro anos. Por mim, teria espaço do mundo para todos nós ficarmos juntos eternamente, porém Deus sabe o que faz e Paulinho, mesmo sem entender, desconfiava que isso teria um sentido. “Nossa vida é muito maluca. Se não houver uma explicação, uma lógica…”

Após todos os tombos com as perdas, tenho seguido uma receita que está me ajudando muito. Manter sempre os amigos e entes queridos vivos pela lembrança e sempre ter um novo para casa de não deixar morrer o que eles iniciaram. A minha lembrança mais legal que vai ficar diz respeito a fazer uma das coisas que mais gosto: comer. Eu, Paulo Azeredo, Diogo Ramalho, Guilherme Guimarães, Luiz Kriwat mantínhamos o hábito de fazer a nossa “reunião de pauta” durante a semana para jogar a conversa fora e comer algo. E o Paulnho, assim como eu, era o que mais comida. O campeão do garfo, que sempre ficava alugando os que paravam antes.
Sei que vocês tiveram paciência para ler um texto muito grande como este – que fiz como se fosse com apenas um parágrafo – mas quero encerra-lo destacando a força de todos os amigos, a mobilização durante os últimos momentos. E mais que isso, ver a força que o amigo Paulo Azeredo teve. O carinho, a prontidão. Ele, o Henrique André e outros mais que dedicaram muito por ele. Não vou esquecer e sinto feliz em saber que mesmo sem saber o Paulo Afonso conseguiu unir ainda mais os amigos. Muito obrigado Paulo Afonso por ter nos dado a honra de viver do seu lado.

Maurício Miranda

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Paulo Azeredo, Paulo Afonso, Maurício Miranda e Guilherme Guimarães na famosa “Reunião de Pauta” no bar Bananeiras

* http://jogadadeclasse.com.br/site/uma-licao-de-vida-e-a-vida-como-licao/


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Comentários:
8
  • Marcelo Souza (Cerão) disse:

    Paulo foi um amigo de infância que só hoje, após 3 anos, soube de sua morte por meio da informação de outro amigo (Cado) que repassou a triste notícia a meu irmão (Cerinho). Nas peladas, ele era “irritantemente” muito bom de bola, me lembro que sofria com suas jogadas, mas o adorava. Que Deus o tenha!!!

  • Julio Loureiro disse:

    Estou chocado com a notícia. Não cheguei a conhece-lo pessoalmente, mas acompanhei um pouco a sua trajetória no programa Jogada de Classe. Minhas condolências aos familiares do jornalista Paulo Afonso.

  • Cesar Augusto Boareto disse:

    Paulo Afonso foi meu amigo de infancia e juventude. Jogamos bola aqui onde moramos e por BH afora. Me lembro quando estava saindo do Exército e o Paulo, com uns 16 anos, já escrevia suas crônicas esportivas. E com essa idade também já elaborava e fazia um jornalzinho do conjunto onde moramos.
    Como descrito acima, ficará conosco a lembrança de uma pessoa espirituosa e simples.
    Deus o abençoe.

  • Elen de Souza disse:

    O Paulinho jamais será esquecido por mim , um ser humano único e sou grato a Deus por ter o conhecido .

  • Vinícius Coimbra disse:

    Tive o prazer jogar várias peladas com o Paulinho nas manhãs de domingo em Santa Tereza. Era um jogador técnico, com belos dribles curtos, além de uma pessoa de fino trato. Meus sinceros sentimentos a toda a sua famíla.

  • Marcelo Azzi disse:

    Não o conheci pessoalmente, e acompanho o jogada de classe a muitos anos e confesso que é como perder alguém da minha família.
    Tratasse de um rapas fino, de bom humor, e de uma educação e simplicidade que é difícil de ver nos programas esportivos.
    Minhas condolências aos familiares e a todos os companheiros de bancada.

  • “Ninguém morre quando permanece vivo no coração de alguém”. Descanse em paz, Paulo Afono! Meus sinceros sentimentos aos familiares e amigos que com ele conviveram…

  • Paulo disse:

    Vá com Deus Paulinho!
    Minhas condolências a família desse profissional exemplar!!!