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Inversão de valores: ah, se fosse o presidente do STJD!

O advogado Alexandre Silva, a quem agradeço, enviou esta notícia do portal Uol, de sábado e pediu a minha opinião.

Esta é uma face do caráter brasileiro, que, felizmente, não é maioria da população, onde a “Lei de Gérson” ainda vai demorar muito, talvez séculos, para deixar de existir.

No Brasil é comum e verdadeira a frase: “criar dificuldades para se vender facilidades”, posta em prática em larga escala.

E nenhuma profissão está imune.

Em todo país existe, mas no Brasil além da quantidade absurda, a impunidade toma conta.

Nessa notícia enviada pelo Alexandre, é usado aquele tradicional escudo manjado: “não há ilegalidade”.

Mas é imoral.

Certamente você que está lendo isso agora vai se lembrar de alguém ou alguma situação em sua atividade profissional que remete a casos como este e tantos outros.

E igualmente lamentável é a inversão de valores praticada pela sociedade brasileira, que não exerce a cidadania como exerce a sua paixão de torcedor de futebol.

Se fosse alguma palhaçada de algum auditor ou presidente do STJD a minha caixa de mensagens já estaria lotada de cópias da notícia, com comentários indignados, pedindo a cabeça dos envolvidos e “enforcamento em praça pública com corda de piano”.

Mas como não se trata de futebol, a maioria das pessoas nem toma conhecimento.

Confira:

* “Consórcio de Belo Monte contrata presidente da OAB, que criticou usina”

O presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ophir Cavalcante, foi contratado pelo consórcio de empreiteiras construtoras da usina hidrelétrica Belo Monte, no rio Xingu (PA), no mesmo mês em que a obra foi alvo de uma audiência pública no OAB em Brasília.

Presidente da OAB diz que ser contratado por Belo Monte não fere ética

Em 2011, Cavalcante fez críticas ao empreendimento, ao defender que as obras iniciais fossem paralisadas até cumprir “as condicionantes para a execução do projeto”.

A audiência pública, com a presença de representantes de ONGs, Senado e Ministério Público, ocorreu na sede da ordem em Brasília, em 9 de abril. Quinze dias depois, o escritório de Ophir em Belém (PA) foi contratado pelo Consórcio Construtor Belo Monte, formado por nove empreiteiras, para ajuizar uma ação de declaração de ilegalidade de greve movida pelo Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Pesada no Estado do Pará.

Não há impedimento legal para a contratação. “[A contratação] é uma surpresa, não sabíamos. Eu fico chocada porque a OAB é uma instância em que a gente, de qualquer maneira, deposita uma confiança, uma esperança, por ter um papel na defesa da democracia, das leis”, disse Antônia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, um grupo de ONGs da região de Altamira (PA).

Antônia disse que as entidades aguardam “há muito tempo” um posicionamento oficial da OAB sobre a obra. “Por parte da OAB nos sentimos assim sem defesa, porque passam por cima das leis, tudo está acontecendo ao arrepio das leis, e nem sequer a OAB se posiciona nesse sentido, ‘olha, está errado’.”

Um ex-presidente da OAB, que falou sob condição de não ser identificado, concordou que não há ilegalidade na contratação de Cavalcante, mas disse que ele deveria ter se negado a trabalhar para um empreendimento que a própria OAB colocou em dúvida, ao organizar a audiência pública.

Ele comparou a situação a um procurador da República que começa a investigar uma acusação e acaba contratado pelo investigado.

SEM VALOR

Cavalcante defendeu a lisura da contratação (leia texto ao lado). Ele e o consórcio não informaram à Folha o valor da contratação.

“Isso, efetivamente, você me desculpa, está guardado pelo sigilo profissional e não tem sentido declarar quanto foi ou não foi. Mas pode ter certeza de que não é nenhum valor de que eu possa ter vergonha de ter recebido pouco ou muito. Foi um valor justo pelo trabalho realizado.”

O advogado sócio de Cavalcante que subscreveu a ação judicial pela declaração de ilegalidade da greve, Carlos Thadeu Vaz Moreira, também disse que não poderia revelar o valor. “Como advogado, eu devo sigilo profissional ao meu cliente. Não posso te dar nenhuma informação de nenhuma ordem para você.”

Em setembro, a OAB enviou uma carta ao ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência da República) para pedir três providências sobre a obra, entre as quais criar um sistema de “monitoramento e avaliação” sobre o impacto social e ambiental na região.

* http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1183520-consorcio-de-belo-monte-contrata-presidente-da-oab-que-criticou-usina.shtml


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Comentários:
8
  • Clayton - Só Boleiro do Nova Vista/BH disse:

    Caro Marcão de Varginha,

    A humildade em reconhecer um erro, é um sentimento nobre e o torna grande.

    Vc está mais do que perdoado meu nobre !
    Uma coisa que eu Graças a Deus não guardo no meu coração é mágoa.

    As vezes, realmente nos embriagamos pela paixão e acabamos extrapolando.

    Eu procuro emitir minhas opiniões, provoco sim, tiro sarro, mas tento ao máximo manter o respeito. Sem levar nada pro lado pessoal.

    Também errei contigo ao retrucá-lo com palavras duras. Que também lhe peço desculpas.

    Como senti sinceridade nas suas palavras acima, esteja certo que vc acaba de ganhar mais um admirador !

    Um forte abraço e bom feriado !

  • Ao Clayton – Só Boleiro do Nova Vista/BH: Boa noite! Fui “obrigado” à meditar o “conselho” do grande Dudu GALOMAIO BH!

    – Ok… independente do futebol sei que errei ao provocá-lo e que não deveria ter usado palavras tão “pesadas” com relação à sua pessoa, e por isso, peço-lhe encarecidamente que aceite esse meu pedido público de desculpas. Errei sim, mas quem nunca errou? Sou homem suficiente prá reconhecer e assumir meus erros que infelizmente fazem parte da natureza humana!

    – Não nos conhecemos pessoalmente e sequer vivemos o dia-a-dia um do outro, e paixão clubística não pode e nem deve interferir no relacionamento interpessoal… quem me conhece sabe de meu temperamento e de meu caráter, que modéstia à parte são alvos de elogios; sim, sou extremamente adepto do dito: “Quem não vive prá servir, não serve prá viver”!

    – Por favor, perdoe-me…

  • renato C Sá disse:

    Essa maldita cultura nos custa muito caro….

  • renato C Sá disse:

    Essa maldita cultura nos custa muito caro….

  • Antônio Catão Jr. disse:

    Querem exemplo maior do que o Min. Dias Tófolli julgando os réus do Mensalão? Ele deveria ter se julgado impedido.

  • ALISON NOGUEIRA disse:

    É por essas e outras que a gente fica cada dia mais desanimado com a política, já não da mais para diferenciar nenhum partido político, todos viraram farinha do mesmo saco, cada um olhando pro seu proprio umbigo e a povo deixado de lado. Agora uma verdade, essa briga no Pára é em vão, pois a Amazonia ha muito já não nos pertence.

  • Alisson Sol disse:

    Não sei como é no Brasil, mas o exemplo dos EUA é claro: regulamentaram o Lobby. Os “lobistas” são legais, e tem de publicar relatório de suas atividades. O problema desta “atividades políticas” nunca é o que aparece, mas aquilo que nunca aparece.

    Interessante é que, como a maioria das leis nos EUA são estaduais, o estado de Nevada, onde a prostituição é legal na maioria dos condados, acaba de eleger um comissário de condado que é dono de um bordel. Ele disse que se escutar alguém dizendo que que a política é como um bordel, oferecerá à pessoa uma visita ao bordel dele para mostrar porque as prostitutas se sentem insultadas!

  • André Corrêa disse:

    Deram um cala-boca na OAB através de seu presidente. Prática também muito comum em terras tupiniquins.