Quando a região de Itabira estava no auge da destruição pela mineração da Vale do Rio Doce, Carlos Drumond de Andrade protestou através do poema “Confidência do Itabirano”, que dizia:
“Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!”
Na TV Assembleia, nesta tarde de segunda-feira, vi uma senhora, de nome Vilma, abrindo a fala dela na Comissão de Direitos Humanos, sobre o inferno que se tornou a vida de centenas de moradores da Serra do Espinhaço, municípios de Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e adjacências com a intervenção devastadora das mineradoras na região:
“Nós somos de uma terra rica em minérios, mas pobre em justiça!”
Começou com Eike Batista (MMX) que passou para a AngloAmerican e agora outras que estão chegando.
Passam por cima de tudo e todos para a exploração das riquezas e a construção do mineroduto Minas/Rio que levará além do minério a água.
Centenas de moradores da região, principalmente produtores rurais, os mais prejudicados, estiveram hoje em Belo Horizonte para protestar e denunciar a conivência e omissão da maioria das autoridades e políticos do estado.
Trata-se de uma das regiões mais bonitas que conheço, e onde frequento há quase 30 anos.
Em janeiro deste ano passei em frente as obras que estavam com este andamento.
Aprecie bem este paraíso de montanhas, porque já está sendo detonado pelos tratores e caminhões.
O acesso já está sendo restringido, como mostra a placa.
Essas águas, hoje abundantes, vão diminuir, até desaparecer dentro de poucos anos.
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