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Verdades de um jornalista de São Paulo sobre o Atlético

De Londres, o jornalista Sérgio Utsch recomendou, via twitter, este artigo do Urgo Giorgetti, de ontem, antes do clássico, no Estadão de SP:

* “Brasil!” 

UGO GIORGETTI – O Estado de S.Paulo

Há Brasil no Brasil. Ainda. Chama-se Clube Atlético Mineiro. Vem das Minas Gerais a reinvenção do futebol brasileiro, da arte que por tanto tempo jogamos e que abandonamos em nome do que Nelson Rodrigues chamou de “complexo de vira lata”, expressão que se explica por si mesma. Os dois jogos da Libertadores entre São Paulo e Atlético foram notáveis. Curiosamente, e por paradoxo, dois jogos de pura arte vieram desse torneio cheio de chutões, trombadas e pancadas.

O futebol é mesmo surpreendente. O São Paulo valorizou bastante as vitórias do Atlético, e o feito do time de Minas é especial também por ter tido um adversário de categoria que, aliás, poderia bem ter ganhado o primeiro jogo, no Morumbi.

A mim não é o resultado final que interessa. É o estilo. Cuca está se revelando um treinador da estirpe de Telê Santana, não por acaso mineiro, que em primeiro lugar respeitava o jogo. Cuca compôs, esculpiu, um ataque cuidadosamente feito de jogadores individualmente capazes. Contratou aqui e ali atletas que não deram certo ou tiveram passagens complicadas por vários times do Brasil e teve a intuição que juntos iriam funcionar. Jogadores como Pierre ou Richarlyson, estiveram no Palmeiras e no São Paulo, de onde foram dispensados sem qualquer hesitação. Os dois injustamente.

Outro exemplo é Jô. Sem ser um jogador espetacular Jô é capaz de um futebol de altíssimo nível. Dois dos gols feitos na final contra o São Paulo foram gols de quem sabe tudo em matéria de matar uma jogada. Parecem fáceis e foram pouco valorizados pelos narradores. Falou-se mais dos lances que prepararam a conclusão do que das batidas secas, de primeira, científicas, cirúrgicas, no canto, sem defesa para o goleiro. E isso sem ajeitar a bola, num átimo de segundo. Implacável. Também isso é individualidade, talento puro.

As atenções da imprensa se voltam, com exemplar preguiça e monotonia, sempre para Ronaldinho. É claro que é um grande astro, mas nem por isso é o único jogador em campo. É inteiramente previsível a corrida dos repórteres quando correm desesperados atrás desse jogador seja no começo, no meio ou no fim do jogo. É incrível, mas pouco sobra para Bernard e Tardelli, quase nada para Jô. E ele é o jogador decisivo. Onde estava? De onde veio? Lembro que esteve no Corinthians, onde não foi mal nem bem, depois andou por algum lugar do mundo e acabou chegando no Atlético.

E aí entra Cuca e os dirigentes atuais do clube. Recuperar talentos é também função de um treinador e de uma diretoria e hoje o Atlético é o time do tudo ou nada na carreira, da segunda chance, o time da volta por cima, só pra lembrar o grande Paulo Vanzollini. Esse time pode perder? Claro. Não há time invencível. Mas, exatamente como a seleção brasileira de 1982, seu primeiro objetivo parece que é encantar. Só espero que na primeira derrota não comecem a falar em futebol de resultados, em futebol prático e também reviver as lendas e maldições idiotas que supostamente envolveriam a carreira do Cuca. Ele é o grande treinador do momento no futebol brasileiro. Devemos a ele o que qualquer torcedor brasileiro gosta, isto é, o incentivo á técnica e ao drible. Nosso amor a esse modo de jogar vem de longe, prossegue nas histórias contadas pelos mais velhos em mesas de bar, como os antigos que reuniam os mais jovens ao redor da fogueira para narrar os feitos da tribo. Nos últimos tempos estava em falta. Mas se tudo correr bem para o Atlético, um pouco do nosso futebol será restaurado.

Por isso, gostaria muito que Felipão não imitasse os repórteres, que saem só à cata de Ronaldinho, e olhasse para outros jogadores do Atlético. João Saldanha faria isso, Telê Santana também. Mas desconfio que é pedir demais para um homem sério, que está no futebol para ganhar a Copa, e não para dar espetáculo.

* http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,brasil!-,1030965,0.htm


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Comentários:
9
  • luana chavez disse:

    Concordo com tudo … Realmente meu Galao esta encantando e dando espetaculo !

  • tatarana disse:

    catzo, me fez chorar… tinha anos que não me encantava mais com o futebol. E tinha que ser do Galo, o eterno derrotado, a nova e boa esperança. Contra o Cruzeiro foi outro espetáculo. Foda-se os títulos, a gente gosta é do imponderável, pois somos galo doido. SEMPRE.

  • Pedro disse:

    José Carlos falou muito bem, mas em relaçao ao Marcos Rocha, você forçou a amizade… Melhor do mundo em sua posiçao? kkkk acho meio complicado.
    Abçs,

  • Raws disse:

    Essa coluna me lembra o que não canso de repetir, chegar ao topo é muito importante, porém a forma de alcançar e as alegrias no percurso são mais.

  • Ramiro Rodrigues disse:

    Parece enredo de filme onde os rejeitados encantam e vencem, Atletas antes dispensados de seus clubes, notoriamente valorizados pela equipe que hoje é a nova cara do futebol brasileiro. Vale ressaltar a “magia” de se entrar em uma arena e ser glorificado pelos cantos entoados da maior torcida envolvente no Brasil, A MASSA. Que através de sua criatividade, sejam nos versos ou frase feitas tipo #CaiuNoHortoTaMorto, #CuidadoGaloBravo e #ejogotreino, fazem do atleta atleticano um gladiador que mesmo em terreno hostil, fica extasiado e joga o seu melhor futebol!

  • Adalton disse:

    Tudo muito bonito…mas o que fica para a história são as conquistas; além de jogar bem o time precisa vencer um campeonato de expressão este ano.
    não pode entrar nos jogos fora de casa desatento…tem que continuar com a mesma disposição dos dois últimos jogos.

  • José Carlos disse:

    Ótimo texto. Resume todo o futebol que tem apresentado o Galo. Só que eu colocaria também o Marcos Rocha. Como esse lateral tem jogado! A disciplina tática demonstrada no jogo contra o São Paulo e a evolução técnica no jogo contra a raposa, demonstrou o amadurecimento e crescimento desse rapaz que se continuar assim será em pouco tempo o melhor do mundo em sua posição.
    abraços Chico. Sou seu fã!

  • Eduardo BH disse:

    Tomara que o cuca e jogadores leem este artigo!!!

  • Luis Carlos disse:

    concordo com tudo que li ,so faltou citar a torcida atleticana na qual faço parte so para lembrar