* Texto que escrevi para a revista Exclusive
Em discussão no país uma possível “elitização” do público que frequenta o nosso futebol. Com as reformas e novos estádios construídos para a Copa do Mundo, o que era público virou privado, e que era privado, barato, está ficando caro em função dos custos das reformas e as parcerias que os clubes têm que fazer para viabilizar os novos e luxuosos palcos.
Houve e está havendo muito exagero nestes custos, cuja quase totalidade é bancada, no frigir dos ovos, pelo cidadão através dos seus impostos, via BNDES.
Um colunista de um dos maiores jornais de São Paulo, assistiu um jogo na Fonte Nova, em Salvador, pela Copa das Confederações, e manifestou o seu espanto ao custar a ver um negro ocupando uma cadeira do novo estádio. Convenhamos, na cidade com o maior número de negros no Brasil, é de se estranhar mesmo!
Em Belo Horizonte o ingresso mais barato no Mineirão, pelo Campeonato Mineiro, custou R$ 60; no Independência, nos chamados “pontos cegos”, quase isso.
Apesar das previsões da maioria, de que “pobre” está sendo afastado dos estádios, fico com um pé atrás em relação a isso.
Tenho a convicção de que o “mercado” vai regular esta situação. Estamos vivendo um período de lua de mel entre os torcedores e os novos estádios, “padrão Fifa”. As imagens da TV e o glamour gerado por tantos elogios, de todos os lados, exercem tal fascínio no torcedor que ele faz sacrifícios, se aperta, mas vai lá, pelo menos uma, duas vezes, para experimentar, mostrar ao filho, à esposa, para terem histórias para contar e discutir com vizinhos, amigos e colegas de trabalho.
Não importa quem vai jogar; o sujeito quer é curtir o novo estádio. Na Copa do Mundo será a mesma coisa. Um jogo entre Irã x Coreia do Sul terá, no mínimo, 30 mil pagantes, em qualquer uma das 12 sedes. O que vale é a oportunidade de assistir a um jogo da Copa, que só ocorre de quatro em quatro anos e ninguém sabe quando voltaremos a ter uma na América do Sul. Talvez, em 2030, com a candidatura conjunta já apresentada à FIFA, pela Argentina e Uruguai.
Na realidade o preço de uma ida ao futebol está alto para todos, não apenas para quem ganha pouco, e passada essa euforia, clubes e donos dos novos estádios serão obrigados a rever estes valores, caso não queiram ficar com as casas vazias ou com público muito abaixo do que o desejado.
Só o futebol não atrairá tanta gente que sustente o lucro das partes interessadas, nestes estádios chamados erradamente de “Arena”. O Atlético do Paraná batizou o seu como “Arena da Baixada” e de lá para cá, qualquer cercadinho onde se joga futebol no Brasil virou “Arena”. Começou pela do Jacaré, em Sete Lagoas.
O nome é pomposo, mas uma cópia errada dos utilizados por norte-americanos, europeus e asiáticos, que realmente ergueram arenas multiuso, como a Veltins Arena, em Gelsenkirchen, na Alemanha; a Saitama Arena, perto de Tóquio, e tantas outras. São shopping centers gigantes, onde há incontáveis opções para os usuários, inclusive futebol, basquete, vôlei, boxe, ginástica, disputas off-road, óperas e por aí vai.
Fotos da Saitama Arena, no Japão
» Comentar