Disse Arrigo Sacchi, um dos importantes treinadores do futebol italiano e do mundo: “O futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes da vida”.
Concordo plenamente, mas não concordo com a bandidagem que é praticada no futebol brasileiro, dentro e fora de campo. Polícia e justiça deveriam agir no futebol com o mesmo interesse e com o mesmo rigor com que agem no cotidiano do país, que já não é lá essas coisas.
Como não o fazem, o ambiente de suspeição predomina e vive-se o “cada um pra si e Deus pra todos”; cada clube, cada dirigente, cada jogador, defendendo o seu lado e se agarrando a qualquer artifício que lhe seja útil, lícito ou não.
Por outro lado, o Brasil é cada dia mais corrupto, mais sem estrutura e por consequência mais violento porque o brasileiro de modo geral se preocupa mais com futebol, especialmente com os interesses do clube do coração, do que com os interesses mais importantes para a vida de cada um.
E isso interessa aos políticos e detentores do poder em geral, que manipulam, aprontam, se enriquecem desonestamente e a população brasileira nem aí, pois o resultado do futebol está em primeiro lugar.
O atual momento do Campeonato Brasileiro inspirou-me a escrever sobre este assunto porque há uma torcida de quase 100% do país para que o Fluminense seja rebaixado e “pague” aquela segunda divisão que ele não cumpriu no ano 2000, em mais uma entre tantas marucataias que prevalecem em nosso futebol.
Também torço para que o tricolor purgue e cumpra a pena, porém, gostaria demais que, neste momento, todo brasileiro se revoltasse também contra uma maracutaia muito pior, que envolve bilhões, que mexeu e mexe no bolso de quase todos nós: o governo federal está pedindo que o STF não julgue as ações dos poupadores que foram “roubados” pelos incontáveis planos econômicos dos governos anteriores, que deram prejuízo a milhões.
E pior: 24 figurões da gestão pública, entre ministros da fazenda e presidentes do Banco Central, que foram responsáveis por esses suspeitos planos, assinaram um manifesto para pressionar a justiça a não dar ganho de causa aos poupadores.
Essa safadeza está em andamento e pouca gente fala do assunto. Ou seja: os bancos e banqueiros, que mandam no país, por bancar as campanhas da maioria dos políticos de grosso calibre, não devolverão nada do que tomaram indevidamente dos poupadores de boa fé.
O jornalista Elio Gaspari dedicou a coluna dele de domingo, quase toda a este assunto e sugiro a leitura. Aqui, um trecho:
* “Na batalha da banca para derrubar no Supremo Tribunal Federal os pleitos dos poupadores tungados pelos planos econômicos do final do século passado, entrou um manifesto de 13 ex-ministros da Fazenda e 11 ex-presidentes do Banco Central prevendo a ruína nacional caso o sistema financeiro seja desatendido. . .
O “Clube dos 24” argumenta que, se as vítimas forem indenizadas, os bancos perderão R$ 100 bilhões. Noutra conta, seriam R$ 150 bilhões, mas há um estudo que fala em R$ 600 bilhões. Tamanha disparidade num cálculo de banqueiros sugere que ele foi contaminado por um impulso terrorista. As provisões dos bancos protegendo-se contra esse mau momento, expressas em seus balanços, fica em R$ 18 bilhões. . .”
* A coluna tem o título de “A autoridade do fracasso” e está no link:
www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2013/12/1379089-a-autoridade-do-fracasso.shtml
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