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Dia marcante este 11 de setembro! Minha homenagem ao Chile e a um grande jornalista mineiro

Para muitas pessoas quando se fala em 11 de setembro a primeira lembrança que vem é a dos atentados contra as Torres Gêmeas em Nova Yorque. Para outras, o golpe militar no Chile contra o governo de Salvador Allende. Dois acontecimentos igualmente trágicos, de consequências eternas.

O do Chile foi mais próximo de nós e tenho muitos amigos que viveram os horrores cometidos pelo general Augusto Pinochett e seguidores. Hoje presto minha homenagem a Allende e ao José Maria Rabêlo, jornalista referência da coragem e dignidade mineiras, que em agosto completou 88 anos de idade. Um dos melhores livros que li até hoje foi o “Diáspora”, de autoria de, de quem tenho o prazer de ser amigo, junto com seus filhos, desde os primeiros meses em que eu passei a morar em Belo Horizonte, aos 18 anos.

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Zé Maria no lançamento da digitalização do jornal Binômio

A história do Zé Maria e família dá um outro ótimo livro e tomara que ele ou um dos filhos escreva. Para que tenham uma ideia, no golpe militar no Brasil, em 1964, o caçado número um em Minas Gerais pela repressão era justamente ele, que menos de dois anos antes tinha nocauteado um general (Punaro Blay) que foi à redação do jornal Binômio agredi-lo verbalmente.

Depois do golpe, Zé escapou de Belo Horizonte fantasiado de padre e conseguiu pegar um avião no Rio para o exilio na Bolívia. Meses depois, a esposa, D. Tereza seguiu com os filhos para lá.

Mas na Bolívia também teve golpe militar, pouco tempo depois e lá se foi o Zé para novo exilio, agora no Chile. E lá se foi posteriormente a brava D. Tereza com os sete filhos, dois adolescentes e os demais pequenos. Com muitos brasileiros exilados lá, a vida ia bem em Santiago e Zé Maria comandava uma livraria que era ponto de encontro de intelectuais de várias partes do mundo.

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A família em Santiago antes do golpe no Chile, D. Tereza, José Maria, Fernando, Helio e Ricardo. Atrás, Álvaro e Pedro ao lado de Mônica e Patrícia.

 

Até que chegou o 11 de setembro de 1973. Um dos filhos do José Maria foi preso, mandado para o Estádio Nacional, que ficou mundialmente famoso pelas torturas e assassinatos cometidos lá neste período. As barbaridades e morte do cantor Vitor Jara, lá dentro, foram reveladas e chocaram o mundo. Diante da pressão internacional muitos presos foram libertados, dentre eles, o filho do Zé Maria. A família seguiu para novo exílio, agora, Paris, onde o Zé teve outra livraria, em sociedade com o ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, que segundo testemunhas, não foi correto com o Zé. Em 1979, com a Anistia no Brasil, a família retornou a Belo Horizonte, quando fiquei conhecendo o Fernando, Helinho e Ricardo, filhos do Zé Maria, que fundaria aqui meses depois o PDT, já que os militares manobraram para evitar que o Leonel Brizola assumisse o PTB, que seria o caminho natural.

O tempo passou, muita coisa mudou no país e na política, mas a amizade com a família continuou. Na recente cobertura da Copa América que fui fazer no Chile, o Zé Maria incumbiu-me de uma missão, que cumpri com muito prazer e me deu a oportunidade de conhecer pessoas fantásticas. Fui portador do livro “Cores e luzes de Belo Horizonte”, de autoria dele e do filho Fernando, para entregar ao também jornalista, escritor e professor universitário chileno, Carlos Donoso, amigo e ex-colega de trabalho dele daqueles tempos.

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Carlos Donoso, uma biblioteca ambulante, grande figura, além de ter vivido a dureza dos tempos da sanguinária ditadura chilena. Ouvi dele histórias muito interessantes.

 

Em minhas caminhadas diárias por Santiago, invariavelmente passava pelo Palácio La Moneda, de onde Allende saiu do jeito que prometeu: morto, depois de traído pelo general que lhe devia lealdade, por ser ele o comandante constitucional das forças armadas.

Mas o mundo deu voltas, o Chile voltou à democracia, Pinochett passou a humilhação de ser preso em Londres depois que se tornou ex-ditador e entrou para o lixo da história, mal falado em todos os cantos do mundo.

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Salvador Allende está vivo na memória de todos, homenageado em ruas, praças e parques do mundo todo, inclusive em frente ao La Moneda, onde se tornou uma estátua enorme, motivo de peregrinação diária de centenas de pessoas.

 

Em 2005 fiquei surpreso e emocionado ao me deparar com um busto do Allende em pleno Donaupark, em Viena.

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Homenagem do governo austríaco ao ex-presidente e aos exilados chilenos que ajudaram a construir este parque, uma das mais visitadas atrações turísticas da cidade.


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