Doutores Rodrigo Lasmar e Sérgio Freire em fotos do Bruno Cantini e Washington Alves/Light Press
O torcedor fica “p” da vida quando jogadores importantes desfalcam o time por contusão e ele não fica sabendo o que motivou o problema e nem quando o contundido voltará a jogar. Principalmente quando os principais jogadores lotam o departamento médico e as contusões vão se repetindo. Num domingo desses em debate no programa Meio de Campo, da Rede Minas, opinei que os médicos deveriam dar transparência total do que ocorre com cada jogador. Claro que respeitando os limites éticos das relações entre paciente e profissional da medicina.
Isso não melhoraria o desempenho do time, mas acalmaria o torcedor que se sente lesado e traído ao não poder ficar sabendo o que está havendo com os jogadores do seu time.
O Cruzeiro resolveu fazer isso e a coordenadora de esportes da Rádio Itatiaia, Ursula Nogueira, escreveu no blog dela sobre essa medida interna e também sobre a quantidade de jogadores machucados em nossos clubes:
* “DM: departamento do medo”
Os desempenhos de Atlético e Cruzeiro são bem parecidos no Campeonato Brasileiro de 2016. O time celeste está sob o comando do português Paulo Bento há 13 jogos e conquistou 15 pontos, enquanto Marcelo Oliveira segue com o Atlético pelo mesmo número de confrontos e conquistou apenas dois pontos a mais, somando 17. Já o América vive dias de desespero: oito partidas com o técnico Sérgio Vieira e somente uma vitória.
Outro fator que aproxima os rivais são os recorrentes desfalques relacionados aos departamentos médicos. Para o espanto de todos, segue a lista com nomes dos jogadores que já se ausentaram de suas equipes neste ano por pelo menos uma partida:
América: Jonas, Adalberto, Alison, Pablo, Tony, Osman, Danylinho, Victor Rangel, Ernandes, Bruno Sávio, Borges e Messias.
Atlético: Carlos, Giovanni, Fábio Santos, Marcos Rocha, Edcarlos, Leandro Donizete, Rafael Carioca, Júnior Urso, Dátolo, Carlos Eduardo, Robinho, Leonardo Silva, Cazares, Clayton, Patric, Victor, Douglas Santos, Luan, Hyuri, Lucas Pratto, Carlos César e Erazo.
Cruzeiro: Allano, Henrique, Arrascaeta, Alex, Alisson, Robinho, Élber, Marcos Vinicius, Willian, Dedé, Manoel, Marciel, Mayke, Fabiano, Rafael Silva, Bruno Ramires e Judivan.
Eis que surgem as perguntas: qual diretoria se planeja para perder tantos jogadores em meio ano? O vilão da história é o calendário? Qual o motivo de tantas recorrências? Por que tantas lesões musculares?
De todas as perguntas eu só tenho competência para responder a primeira: “não, não existe diretoria que faça um planejamento para ter 13 desfalques em um jogo, por exemplo”. É impossível. Não há técnico neste mundo que consiga bons resultados com tantas perdas. Sobre os demais questionamentos, só uma palavra pode começar a respondê-los: transparência.
Ninguém acorda e pensa: “ah, meu desempenho tá muito bom, vou ali fraturar a patela”. Ou: “a torcida está muito satisfeita comigo, deixa eu lesionar o menisco”. Todo torcedor sabe disso, mas ninguém esclarece o que de fato aconteceu com o jogador e quando ele irá retornar aos jogos.
Diferentemente do que o Cruzeiro fez nos últimos dias. Uma posição louvável do clube celeste. Uma coletiva de imprensa foi convocada para apresentar o novo modelo de comunicação das ocorrências envolvendo o departamento médico do clube. De acordo com o supervisor da área médica do futebol, Daniel Baumfeld, serão apresentados relatórios com o tipo de lesão e a data do retorno do atleta. Será informado também quando o jogador sairá do DM e fará a transição para os treinos em campo.
Segundo o diretor de futebol do Cruzeiro, Thiago Scuro, esse é um processo de transparência que será importante para todas as partes. Scuro disse, em coletiva, que “o propósito principal é conseguir ter uma relação mais transparente, em que as informações sejam mais claras. A grande mudança é que o Cruzeiro, depois de algum tempo, voltará a divulgar o prazo de retorno dos atletas para imprensa. A gente espera que, dessa forma, consiga ter uma relação um pouco mais harmoniosa da parte médica com a imprensa e, consequentemente, com a torcida”.
Esta iniciativa veio após tantos questionamentos por parte da torcida com relação à demora pelo retorno de alguns jogadores e até mesmo do técnico Paulo Bento, que, em entrevista coletiva após o jogo contra o Vitória, em Salvador, questionou que haja tantas lesões em jogadores tão jovens. E, diga-se de passagem, uma ótima iniciativa que deveria ser copiada por Atlético, América e todos os times do Brasil. O Atlético ainda não oficializou este novo procedimento, mas já está começando a informar os prazos de retorno dos atletas. O renomado Dr. Rodrigo Lasmar, em coletiva na Cidade do Galo, informou que Cazares sentiu dor forte na região da virilha e deve voltar entre 2 e 3 meses, Marcos Rocha estará à disposição em um mês e Dátolo, com desconforto na coxa, com expectativa de mais uma semana para poder treinar com o restante do grupo.
Embora alguns defendam que o clube não deveria expor a situação dos atletas por uma mera curiosidade de imprensa e torcida, eu digo que vai além de curiosidade. É direito do torcedor saber o que acontece com um jogador do seu time. Não estamos falando de nenhuma doença grave. São lesões, fraturas, contusão óssea, inflamação etc. Se você se afasta do seu trabalho e apresenta um atestado médico para o seu chefe, o documento consta quantos dias você ficará afastado e por qual motivo. Por que na relação jogador x torcida seria diferente?
A transparência é boa para todas as partes envolvidas. A partir do momento em que torcida e imprensa sabem o que de fato aconteceu, os clubes minimizam boatos, especulações e críticas infundadas, e seus diretores de comunicação, Guilherme Mendes e Domênico Bhering, têm um assunto a menos para tratar.
A equipe médica do Cruzeiro vinha sendo bombardeada pelo fato de o atleta Judivan ter passado por três cirurgias após se machucar em um jogo pela Seleção Brasileira Sub-20 no Mundial de 2015. O que poucos sabiam era que o jogador não havia sido operado pelo competente médico do clube, Dr. Sérgio Freire. E que o tratamento envolvendo um enxerto de cadáver havia sido rejeitado pelo organismo do atleta.
Judivan passará por mais uma cirurgia e só deve ficar disponível no elenco em junho de 2017. Enquanto isso, o zagueiro uruguaio, Maurício Lemos, responsável pela entrada violenta e desleal que causou a lesão no atleta celeste, só recebeu um cartão amarelo. Boa sorte, Judivan! Que você encontre novamente o rumo do seu bom futebol. Certamente a equipe médica do Cruzeiro fará de tudo para sua pronta recuperação. Fico me perguntando: custava alguém ter esclarecido tudo isso antes? Não seria melhor do que receber tantas críticas “de graça”?
O torcedor já está sofrendo demais com os resultados dos times neste campeonato. Sofrer por falta de informação de jogador lesionado é tudo o que ele menos precisa agora. Se continuassem assim, daqui a pouco os programas de sócio torcedores teriam que incluir assistência médica para cobrir todos os problemas de saúde que os clubes estão causando à torcida.
E espero que a CBF não empolgue e coloque como critério de desempate no campeonato o número de jogadores no departamento médico. Um seguidor do twitter, @brnou3, postou: O time que terminar o Brasileirão com mais jogadores “vivos” será o campeão. E, olha, pela maré de azar, que estamos vivendo, não me assustaria se isso, de fato, acontecesse…
http://www.itatiaia.com.br/blog/ursula-nogueira/dm-departamento-do-medo
» Comentar