Cristiano Ronaldo deu a Alireza Safar Beiranvand, goleiro do Irã, a glória de poder contar aos futuros netos e bisnetos que defendeu em Copa do Mundo um pênalti do Gênio de Funchal.
Imperdível a ótima coluna do Marcos Caldeira, do Trem Itabirano:
* “(A copa vista do meu sofá)”
ERA UM CRUZEIRENSE QUE ESTAVA NAQUELA ESQUINA, MAS TORCI PARA SER GOL OLÍMPICO
Uruguai, 3; Rússia, 0. Único sul-americano a ganhar os três jogos da primeira fase, o bicampeão mundial Uruguai vai indo, com Suárez, Cavani, Muslera e Godín. Nem gol tomou. O cruzeirense Arrascaeta entrou no segundo tempo e pouco fez, o que diminui a possibilidade de ser vendido e parar de perturbar o Atlético, contra quem sempre deixa o dele. Mas quase assinou um gol olímpico, o que não ocorre em copas há 56 anos. O único já visto no mundial de seleções foi feito pelo colombiano Marcos Coll no Chile, em 1962, contra a União Soviética. Se Arrascaeta tivesse tido sucesso hoje na Rússia, seria uma desforra para seu país, que deu nome ao lance por um fato negativo. Em 1924, o campeão olímpico Uruguai sofreu um gol de escanteio contra a Argentina, marcado por Cesárco Onzari, e foi aí que a raríssima jogada ganhou nome.
ESCUTE AQUI, Ó CRISTIANO RONALDO: “DEUS AO MAR O
PERIGO E O ABISMO DEU. MAS NELE É QUE ESPELHOU O CÉU”
Portugal, classificado, 1; Irã, eliminado, 1, com chance no finalzinho para desempatar e ficar com a vaga dos lusófonos. Mal, Cristiano Ronaldo deu a Alireza Safar Beiranvand, goleiro do Irã, a glória de poder contar aos futuros netos e bisnetos que defendeu em Copa do Mundo um pênalti do Gênio de Funchal. No segundo tempo, o craque soltou o braço num iraniano. A turma reivindicou expulsão, o árbitro aceitou a sugestão de conferir o lance na televisão e viu agressão do português. Expectativa, um cartão vermelho tira-o do jogo em disputa e do próximo, pode acabar ali a copa para o maior nome do futebol atual (“Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal!”). Cristiano Ronaldo observa o árbitro correndo em sua direção, a essa altura possivelmente já arrependido do que fez (“Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena”). O apitador se aproxima com gravidade (“Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor”). Enfia a mão no bolso para retirar um cartão – é verme…, o objeto movimenta em seu bolso, é verme…, desliza no apertado pano, é verme…, o braço da autoridade se ergue à altura do nariz do ídolo. É verme, é verme, é verme… Não, é amarelo – ufa, o mundo respira. Cristiano Ronaldo pode continuar a exercer seu ofício na relva de Mordovia: “Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu”.
COMO MULHER EM MÁGICA DE CAIXOTE
Na área demarcada do banco de reservas do Uruguai, o treinador Óscar Tabárez, com limitante problema na coluna, andava apoiado em muleta para instruir seu time. Lento, fisicamente frágil, dificuldade no equilíbrio, fazendo lembrar vovôs e vovós. À sua frente, jogadores saltavam como pumas, rolavam como acrobatas do Cirque du Soleil, corriam como animais do hipódromo, se chocavam como bodes e se contorciam como mulher em mágica de caixote.
CRUZEIRO VENCE O TROFÉU ODEBRECHT, O TROFÉU
EDUARDO CUNHA, O TROFÉU SÉRGIO CABRAL (FILHO)
“O quê??? Quer dizer que o Cruzeiro não demitiu Benecy Queiroz?”, soliloquiei, incrédulo, ao assistir a uma série de reportagens sobre a história azul do craque Ronaldo Nazário, feita para o Globo Esporte pelo jornalista itabirano Rodrigo Franco. Deu entrevista, como funcionário do clube, ele que em 2016 assumiu, durante entrevista ao programa Meio de Campo, da “Rede Minas”, ter subornado um árbitro, na condição de supervisor de futebol do Cruzeiro, para favorecer em campo o time das estrelinhas azuis cheias de vaidade. Narra o fato sorrindo, dando uma de malandrão, de esperto. Só faltou dizer: “Isto aqui é Brasil, né? É tudo no jeitinho”. O corrupto confesso representou o segundo maior time de Minas no sorteio para a próxima fase da Copa Libertadores, em Luque, no Paraguai. Benecy Queiroz, informou-me um colega da imprensa de Belo Horizonte, é agora supervisor administrativo do Cruzeiro: “Ainda tem muita influência lá. É uma entidade do tamanho da mancha que criou com aquela história”. Lamentável essa postura do clube, a mensagem que passa a seus torcedores e a todo o Brasil é: pode ser desonesto, sim, não há problema nenhum. O Cruzeiro merece o troféu Eduardo Cunha, o troféu Sérgio Cabral (filho), o troféu Marcos Valério, o troféu Joesley Batista, o troféu Odebrecht. Se o que se quer é um Brasil decente, é preciso combater a desonestidade em todas as áreas. Não sei se Tostão escreveu sobre o assunto, vou procurar no arquivo de crônicas dele na “Folha de São Paulo”.
O PESSOAL DO ARQUIVO X DEVIA INVESTIGAR
O futebol tem umas coisas muito, muito estranhas. Zico, Reinaldo, Sócrates, Falcão, Cruyff e Puskas nunca foram campeões da Copa do Mundo. Mauro Silva e Dunga foram.
LÍNGUA ESPANHOLA
Espanha, classificada, 2; Marrocos, fora, 2. Aspas fez um gol de letra.
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO E A FERROVIÁRIA DE ARARAQUARA
Por falar em letra, o escritor Ignácio de Loyola Brandão mandou e-mails comentando minhas crônicas da copa, falando de mulher e narrando um caso delicioso que disse ter vivido num jogo da Ferroviária de Araraquara, cidade paulista onde nasceu. Não reproduzo aqui para evitar o cabotinismo e a quebra do segredo epistolar.
Por Marcos Caldeira – O TREM ITABIRANO