Uma das melhores aquisições do Atlético sob o comando de Sérgio Sette Câmara foi o Éder. Um dos chutes de maior potência da história do futebol, foi também um dos maiores batedores de falta. De longe ou de perto, forte ou colocado, era o terror dos goleiros e de quem formava as barreiras. Só Nelinho era comparável. Auxiliar do Thiago Larghi, ele, depois que parou de jogar, demorou muito a retornar ao que mais gosta de fazer na vida, que é o futebol. Foi um dos melhores jogadores que vi jogar. Um dos melhores do mundo no fim dos anos 1970 meados dos 1980. Ponta esquerda original no começo da carreira no América, transformado em “falso ponta” por Telê Santana, no Grêmio e consagrado dessa forma na seleção brasileira que encantou o planeta na Copa da Espanha em 1982. Quando dirigiu o Barcelona, o holandês Johan Cruijff disse que se inspirou muito nos sistemas táticos adotados por Telê. A função desempenhada por Éder como “ponta moderno” era uma dessas novas formas de jogar.
Tive a honra de acompanhar tudo isso de perto. E apesar de todo o prestígio mundial que tinha, Éder sempre se manteve a mesma pessoa: simples, porém, introspectivo no trato com as pessoas estranhas e avesso a árbitros de futebol. Era explosivo em campo, mas uma figura humana exemplar fora dele. No fim da carreira se tornou conselheiro dos mais jovens. Poderia ter iniciado logo a carreira de treinador mas preferiu seguir outros caminhos.
Está de volta ao mundo da bola e com a sua experiência tem ajudado o Atlético a aproveitar melhor as suas potencialidades. Roger Guedes, por exemplo. Estava praticamente fora dos planos, mas Éder e o lateral Fábio Santos conversaram muito com ele, com os demais jogadores, comissão técnica, diretoria e o bom atacante parece que está encontrando o seu caminho para o sucesso. A ótima dupla de repórteres do jornal Hoje em Dia, Henrique André e Frederico Ribeiro, fez uma entrevista com o Éder, que vale demais a leitura. Confira:
* “‘Fui um cara iluminado, mas fiz muita merda’: Éder Aleixo fala da carreira e retorno ao Atlético”
Cidade do Galo, em Vespasiano-MG. Éder Aleixo de Assis se sente em casa, naturalmente. Na terra natal, no Centro de Treinamentos do clube do coração, o ex-ponta virou auxiliar fixo da comissão técnica do Atlético.
Figura histórica do clube, e também do futebol nacional, calçando chuteiras por mais de 20 anos profissionalmente. Famoso pelo temperamento explosivo na época de jogador, hoje só detesta ser chamado de senhor. Mas os cabelos brancos, os 61 anos batendo à porta (completa agora, no dia 25), e os 368 jogos pelo Galo impõem respeito.
Bad boy, galã na década de 1980, pavio curto – acumulou 25 expulsões só no Galo – e um dos chutes mais atômicos dos gramados brasileiros, o “Bomba” virou “Professor” no Atlético. Conselheiro dos atletas comandados pelo “menino que sabe das coisas” Thiago Larghi, referência para as faltas de Otero, exemplo para o controle mental de Róger Guedes, e cumprindo a intenção inicial de ser amigo do elenco.
“Temos o mesmo objetivo que é o Atlético. Se precisar pegar uma bola ou uma chuteira para um jogador, eu vou. Não tenho frescura”, decreta, nesta entrevista ao Papo em Dia.
A época na qual saía pra porrada em campo – algo que lhe tirou uma Copa do Mundo – ficou para trás. Histórias que poderiam virar facilmente um livro, que ele parece teimar em não levar adiante. Hoje, a missão é ser ajudante no Galo, enquanto fora do batente dedica seu tempo a cuidar da mãe, dona Zilda, perto dos 90 anos.
Ser recrutado para voltar ao Atlético, depois de tantos anos, significa o que pra você? Como tem sido respirar o dia o dia do clube que você fez 368 jogos? Como foi o convite da volta?
O convite foi através do Alexandre Gallo e do presidente (Sette Câmara), que é um amigo de muito tempo. Tudo isso facilitou. Estava acontecendo um projeto e me convidaram. Fiquei super satisfeito por trabalhar com Marques, Valdir, Edgar e outros ex-atletas. O projeto era de rodar todas as categorias, para garimpar a molecada e quando achar um jogador numa condição melhor, trazê-lo para o profissional. Aceitei porque a minha vida sempre foi o Atlético. Foram 10 anos como jogador, depois como auxiliar e gerente de futebol. Agora num recomeço de trabalho da base, fundamental no clube, para sustentar o profissional. Fica em casa fazendo porra nenhuma? Não né? (mais…)